São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2007

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Espanha faz campanha na África para deter imigração

Filmes na TV alertam sobre os perigos da travessia ilegal em botes clandestinos

Campanha de 1 milhão traz mensagens em idioma local e narra o fim trágico de jovens que se afogaram ao tentar chegar à Espanha

DA REDAÇÃO

Para desestimular a imigração clandestina, o governo espanhol começou a veicular ontem no Senegal filmetes que alertam para os perigos da travessia marítima em botes precários. "Ele foi embora há meses e não tenho notícias dele", diz uma mãe enferma e desesperada. Ela não sabe que seu filho morreu afogado ao tentar alcançar, numa pequena embarcação, as ilhas Canárias, território espanhol na costa ocidental da África.
A campanha foi programada para as próximas seis semanas, com anúncios em televisão, rádio e jornal. Ela custará ao governo de Madri 1 milhão (R$ 2,6 milhões). Cerca de 30 mil imigrantes ilegais conseguiram no ano passado se instalar em território espanhol.
Trata-se de um dos problemas crônicos do país, que em 2001 abrigava 1,5 milhão de estrangeiros e que em 2006 já possuía 4,1 milhões. Apenas 60% têm visto de residente. Os demais engrossam o chamado contingente dos "sin papeles".
Há dois anos o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero regularizou a situação de 570 mil clandestinos, despertando críticas da oposição, que o acusou de estimular novas ondas migratórias.
O primeiro-ministro francês, François Fillon, disse recentemente que Zapatero confidenciou-lhe que a iniciativa foi um erro que ele não cometeria novamente. O governo espanhol, no entanto, negou ter ocorrido essa confidência.
O território espanhol é procurado por latino-americanos, em razão do idioma, e também por africanos que têm como vantagem a extensão de um litoral relativamente próximo de seus territórios para os desembarques clandestinos.
No início deste mês, o Ministério do Interior disse que a chegada de imigrantes ilegais em barcos clandestinos estava em queda de 61%, se comparada aos oito primeiros meses do ano passado. Foram pouco menos de 9.500, contra 24,3 mil. A queda foi maior no litoral das Canárias (66%), procurado justamente por africanos.
Alfredo Pérez Rubalca, funcionário responsável pelo setor, disse que o declínio se justifica porque, se localizados, os clandestinos sabem que serão imediatamente repatriados. E também porque os governos de países como Argélia, Marrocos, Senegal, Mauritânia, Guiné-Bissau, Mali e Gana receberam recompensas do governo espanhol para patrulharem suas costas e desmantelarem as pequenas máfias que vivem desse tráfico humano.

Cantor popular
A campanha veiculada a partir de ontem no Senegal é bastante sofisticada. Os filmetes não são gravados em francês, o idioma falado pelos mais cultos, mas em wolof, um dos dialetos locais, falado pelos mais pobres. O locutor de toda a série é o mais popular cantor senegalês, Youssou N'Dour.
"Milhares de jovens já morreram afogados. Não arrisque a sua vida. Você é o futuro da África", diz o cantor.
Em outro filmete, um aposentado lamenta a morte do filho. "Depois de Deus, ele era a minha única esperança." Num terceiro, um jovem lamenta a morte dos amigos com os quais jogava futebol. "Acabaram todos no fundo do mar."


Com agências internacionais


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