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Espanha faz campanha na África para deter imigração
Filmes na TV alertam sobre os perigos da travessia ilegal em botes clandestinos
Campanha de 1 milhão
traz mensagens em idioma
local e narra o fim trágico de
jovens que se afogaram ao
tentar chegar à Espanha
DA REDAÇÃO
Para desestimular a imigração clandestina, o governo espanhol começou a veicular ontem no Senegal filmetes que
alertam para os perigos da travessia marítima em botes precários. "Ele foi embora há meses e não tenho notícias dele",
diz uma mãe enferma e desesperada. Ela não sabe que seu filho morreu afogado ao tentar
alcançar, numa pequena embarcação, as ilhas Canárias, território espanhol na costa ocidental da África.
A campanha foi programada
para as próximas seis semanas,
com anúncios em televisão, rádio e jornal. Ela custará ao governo de Madri 1 milhão (R$
2,6 milhões). Cerca de 30 mil
imigrantes ilegais conseguiram
no ano passado se instalar em
território espanhol.
Trata-se de um dos problemas crônicos do país, que em
2001 abrigava 1,5 milhão de estrangeiros e que em 2006 já
possuía 4,1 milhões. Apenas
60% têm visto de residente. Os
demais engrossam o chamado
contingente dos "sin papeles".
Há dois anos o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero regularizou a situação
de 570 mil clandestinos, despertando críticas da oposição,
que o acusou de estimular novas ondas migratórias.
O primeiro-ministro francês,
François Fillon, disse recentemente que Zapatero confidenciou-lhe que a iniciativa foi um
erro que ele não cometeria novamente. O governo espanhol,
no entanto, negou ter ocorrido
essa confidência.
O território espanhol é procurado por latino-americanos,
em razão do idioma, e também
por africanos que têm como
vantagem a extensão de um litoral relativamente próximo de
seus territórios para os desembarques clandestinos.
No início deste mês, o Ministério do Interior disse que a
chegada de imigrantes ilegais
em barcos clandestinos estava
em queda de 61%, se comparada aos oito primeiros meses do
ano passado. Foram pouco menos de 9.500, contra 24,3 mil. A
queda foi maior no litoral das
Canárias (66%), procurado justamente por africanos.
Alfredo Pérez Rubalca, funcionário responsável pelo setor, disse que o declínio se justifica porque, se localizados, os
clandestinos sabem que serão
imediatamente repatriados. E
também porque os governos de
países como Argélia, Marrocos,
Senegal, Mauritânia, Guiné-Bissau, Mali e Gana receberam
recompensas do governo espanhol para patrulharem suas
costas e desmantelarem as pequenas máfias que vivem desse
tráfico humano.
Cantor popular
A campanha veiculada a partir de ontem no Senegal é bastante sofisticada. Os filmetes
não são gravados em francês, o
idioma falado pelos mais cultos, mas em wolof, um dos dialetos locais, falado pelos mais
pobres. O locutor de toda a série é o mais popular cantor senegalês, Youssou N'Dour.
"Milhares de jovens já morreram afogados. Não arrisque a
sua vida. Você é o futuro da
África", diz o cantor.
Em outro filmete, um aposentado lamenta a morte do filho. "Depois de Deus, ele era a
minha única esperança." Num
terceiro, um jovem lamenta a
morte dos amigos com os quais
jogava futebol. "Acabaram todos no fundo do mar."
Com agências internacionais
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