São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / INVERSÃO DE PAPÉIS

Obama apóia e McCain critica pacote de Bush

Republicano, com discurso cada vez mais contraditório, diz que governo americano deveria parar de resgatar bancos

Democrata adia anúncio de plano econômico depois de se reunir com assessores do partido que já defendiam uma intervenção ampla

Eric Miller/Reuters
McCain discursa em Minnesota; o estado da economia passou a dominar campanha presidencial

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O cabo-de-guerra econômico que passou a dominar a corrida presidencial nos EUA gerou ontem uma inversão de papéis: enquanto o democrata Barack Obama expressou apoio aos planos de intervenção em larga escala do governo republicano no mercado, John McCain, crescentemente contraditório, criticou os planos de resgate generalizado em Wall Street.
McCain, que luta para se distanciar do impopular governo de George W. Bush, disse que "o Fed (o banco central americano) deveria voltar ao seu papel principal de gerenciar nossa oferta de moeda e a inflação (...) e parar de fazer resgates".
A fala chega depois que a Casa Branca anunciou que prepara com o Congresso a compra de centenas de bilhões de dólares em papéis "podres" de instituições financeiras. A proposta coroa o distanciamento da doutrina republicana, pouco afeita a intervenções no mercado.
Mas a declaração de McCain, que já admitiu não entender de economia, salientou as contradições que ele vem exibindo desde que a crise financeira invadiu a campanha às eleições de 4 de novembro. Há poucos dias, McCain havia apoiado a decisão do governo de resgatar por US$ 85 bilhões a megasseguradora AIG.
"McCain está dividido entre sua lealdade à ortodoxia republicana e o fato de que enfrentamos um problema muito sério que exige alguma forma de interferência governamental", disse à Folha Robert Shapiro, da Universidade Columbia. "Ele não consegue decidir o quanto de intervenção crê ser realmente necessário."
Outro sinal de contradição foi visto quando McCain, com histórico de forte oposição a qualquer tipo de regulamentação, passou a exigir maior supervisão das agências reguladoras sobre o mercado.
Para o analista político do Instituto Brookings Thomas Mann, após reação inicial desconfortável, "McCain se tornou um "populista renascido", pronto para aumentar garantias federais e regulamentação do setor financeiro".
O discurso flutuante do republicano também demonstra suas limitações na área econômica, diz Shapiro. McCain e o Fed parecem estar em páginas diferentes: o candidato afirma que o órgão deveria cuidar da liquidez dos mercados; o Fed argumenta que os resgates visam justamente esse objetivo.

Economista-em-chefe
A campanha democrata, por sua vez, se equilibrou entre a tentativa de mostrar capacidade de liderança e declarações cautelosas. Embora ressaltasse que é preciso também ajudar o cidadão comum, Obama confirmou que apóia as intervenções do governo.
"Precisamos dar ao Fed e ao secretário do Tesouro o poder necessário para estabilizar o mercado e manter sua liquidez", disse ontem. Foram dois de seus atuais conselheiros econômicos -o ex-secretário do Tesouro Larry Summers e o ex-presidente do Fed Paul Volker- que inicialmente sugeriram um resgate de larga escala dos papéis de Wall Street.
O discurso, contudo, não foi acompanhado pela esperada exposição de um novo plano econômico. Obama disse que "um plano não pode ser feito de um dia para outro, de improviso", e preferiu esperar o detalhamento da proposta oficial.
O adiamento foi criticado pela campanha de McCain. Mas, para Shapiro, os republicanos deveriam seguir o exemplo de Obama. "Aconselharia McCain a esperar um pouco. Se o plano do governo funcionar, ele vai poder tirar a economia do centro da campanha e voltar a temas como segurança nacional, o que só o beneficiaria."
A crise atual começou com o estouro da bolha especulativa dos títulos imobiliários de alto risco, em 2007, e se espalhou para diferentes instituições. Antes de resgatar a AIG, o governo assumiu as agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac e o banco de investimentos Bear Sterns.


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