São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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Venezuela expulsa autores de relatório que critica Chávez

Dois executivos da Human Rights Watch foram escoltados até aeroporto e colocados no 1º vôo, com destino ao Brasil

Segundo Chancelaria, texto "violenta leis e intromete-se em assuntos internos'; para ONG, medida comprova que "liberdades estão sob ataque"

DA REDAÇÃO

O governo da Venezuela expulsou do país, na quinta à noite, os dois executivos da ONG Human Rights Watch (HRW) que horas antes haviam apresentado um relatório com um balanço negativo dos quase dez anos na Presidência de Hugo Chávez. Eles foram escoltados até o aeroporto e colocados no primeiro vôo, que era para São Paulo, aonde chegaram ontem.
Em comunicado, a Chancelaria venezuelana disse que o diretor para as Américas da organização, o chileno José Miguel Vivanco, "violentou a Constituição e as leis da Venezuela, agredindo suas instituições democráticas e intrometendo-se ilegalmente em assuntos internos, bem como seu acompanhante, [o americano] Daniel Wilkinson", vice de Vivanco.
No relatório, de quase 300 páginas, a HRW diz que o governo Chávez debilita a democracia a fim de conter a oposição e consolidar-se no poder. Entre outras coisas, o acusa de não respeitar a separação de Poderes e tolher as liberdades civis, "desperdiçando a oportunidade" gerada pela Carta aprovada por sua própria iniciativa em 1999.
A notificação da expulsão de Vivanco e Wilkinson, acusados de atividades "antiestatais" e não compatíveis com o visto de turistas que possuíam, foi feita no hotel em que se encontravam, em Caracas, e com transmissão da estatal VTV. Segundo a HRW, eles tiveram seus celulares confiscados e foram impedidos de contatar suas respectivas embaixadas.
O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, disse que não iriam "tolerar que nenhum estrangeiro venha tratar de manchar a nossa dignidade". Maduro relacionou ainda a apresentação do texto à suposta tentativa de golpe contra Chávez, denunciada pelo governo na semana passada, à recente expulsão do embaixador americano e à proximidade com as eleições de novembro.
Em agosto, a Justiça venezuelana confirmou a impugnação das candidaturas de quase 300 candidatos ao pleito regional e municipal de 23 de novembro, incluindo a do líder oposicionista Leopoldo López, prefeito de Chacao (município nobre da Grande Caracas) e até então favorito ao governo metropolitano.

Mensagem e mensageiro
O governo também acusou a HRW de estar vinculada aos EUA e de ser financiada por agências do governo americano e respondeu as críticas do relatório. Disse, por exemplo, que a ONG "esconde avanços" como a redução da pobreza, de 34%, e da pobreza extrema, de 54%, desde 1998 e o reconhecimento pela ONU de país livre do analfabetismo.
A HRW afirma, em nota, que as expulsões de Vivanco e Wilkinson "revelam a crescente intolerância da administração Chávez com visões discordantes", e defende-se das acusações dizendo ser uma "organização não-governamental, independente e que não aceita quaisquer recursos de governos, direta ou indiretamente".
Nos últimos anos, a ONG tem feito críticas ao governo americano, pela manutenção de prisioneiros na base de Guantánamo, e à Colômbia, cujo governo é próximo a Washington, por dificultar investigações sobre o envolvimento de políticos com paramilitares. No Brasil, tem criticado a violência policial.
À Folha, a HRW disse que já foi impedida de entrar em vários países, mas em circunstâncias diferentes. A última, em fevereiro deste ano, quando o seu diretor-executivo, Kenneth Roth, teve o visto de entrada para a Rússia negado por Moscou, onde seria apresentado um relatório com críticas às restrições à atuação de ONGs.
"Chávez pode ter expulsado o mensageiro, mas apenas reforçou a mensagem: as liberdades civis na Venezuela estão sob ataque", disse Roth. A Chancelaria chilena disse que vai questionar a expulsão de Vivanco e chamou a medida adotada de "desproporcional".

Com agências internacionais



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