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Venezuela expulsa autores de relatório que critica Chávez
Dois executivos da Human Rights Watch foram escoltados até aeroporto e colocados no 1º vôo, com destino ao Brasil
Segundo Chancelaria, texto "violenta leis e intromete-se em assuntos internos'; para ONG, medida comprova que "liberdades estão sob ataque"
DA REDAÇÃO
O governo da Venezuela expulsou do país, na quinta à noite, os dois executivos da ONG
Human Rights Watch (HRW)
que horas antes haviam apresentado um relatório com um
balanço negativo dos quase dez
anos na Presidência de Hugo
Chávez. Eles foram escoltados
até o aeroporto e colocados no
primeiro vôo, que era para São
Paulo, aonde chegaram ontem.
Em comunicado, a Chancelaria venezuelana disse que o diretor para as Américas da organização, o chileno José Miguel
Vivanco, "violentou a Constituição e as leis da Venezuela,
agredindo suas instituições democráticas e intrometendo-se
ilegalmente em assuntos internos, bem como seu acompanhante, [o americano] Daniel
Wilkinson", vice de Vivanco.
No relatório, de quase 300
páginas, a HRW diz que o governo Chávez debilita a democracia a fim de conter a oposição e consolidar-se no poder.
Entre outras coisas, o acusa de
não respeitar a separação de
Poderes e tolher as liberdades
civis, "desperdiçando a oportunidade" gerada pela Carta
aprovada por sua própria iniciativa em 1999.
A notificação da expulsão de
Vivanco e Wilkinson, acusados
de atividades "antiestatais" e
não compatíveis com o visto de
turistas que possuíam, foi feita
no hotel em que se encontravam, em Caracas, e com transmissão da estatal VTV. Segundo a HRW, eles tiveram seus celulares confiscados e foram impedidos de contatar suas respectivas embaixadas.
O chanceler venezuelano,
Nicolás Maduro, disse que não
iriam "tolerar que nenhum estrangeiro venha tratar de manchar a nossa dignidade". Maduro relacionou ainda a apresentação do texto à suposta tentativa de golpe contra Chávez, denunciada pelo governo na semana passada, à recente expulsão do embaixador americano e
à proximidade com as eleições
de novembro.
Em agosto, a Justiça venezuelana confirmou a impugnação das candidaturas de quase
300 candidatos ao pleito regional e municipal de 23 de novembro, incluindo a do líder
oposicionista Leopoldo López,
prefeito de Chacao (município
nobre da Grande Caracas) e até
então favorito ao governo metropolitano.
Mensagem e mensageiro
O governo também acusou a
HRW de estar vinculada aos
EUA e de ser financiada por
agências do governo americano
e respondeu as críticas do relatório. Disse, por exemplo, que a
ONG "esconde avanços" como
a redução da pobreza, de 34%, e
da pobreza extrema, de 54%,
desde 1998 e o reconhecimento
pela ONU de país livre do analfabetismo.
A HRW afirma, em nota, que
as expulsões de Vivanco e Wilkinson "revelam a crescente intolerância da administração
Chávez com visões discordantes", e defende-se das acusações dizendo ser uma "organização não-governamental, independente e que não aceita
quaisquer recursos de governos, direta ou indiretamente".
Nos últimos anos, a ONG tem
feito críticas ao governo americano, pela manutenção de prisioneiros na base de Guantánamo, e à Colômbia, cujo governo
é próximo a Washington, por
dificultar investigações sobre o
envolvimento de políticos com
paramilitares. No Brasil, tem
criticado a violência policial.
À Folha, a HRW disse que já
foi impedida de entrar em vários países, mas em circunstâncias diferentes. A última, em fevereiro deste ano, quando o seu
diretor-executivo, Kenneth
Roth, teve o visto de entrada
para a Rússia negado por Moscou, onde seria apresentado
um relatório com críticas às
restrições à atuação de ONGs.
"Chávez pode ter expulsado
o mensageiro, mas apenas reforçou a mensagem: as liberdades civis na Venezuela estão
sob ataque", disse Roth. A
Chancelaria chilena disse que
vai questionar a expulsão de
Vivanco e chamou a medida
adotada de "desproporcional".
Com agências internacionais
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