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Oposição não aceita proposta de Morales
Governadores mantêm diálogo com base em pré-acordo com o vice-presidente
Líder boliviano quer manter cronograma para aprovar Carta; movimentos sociais rejeitam mudanças em novo texto constitucional
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A COCHABAMBA
O bloco de governadores
oposicionistas da Bolívia decidiu ignorar a proposta de mudança na agenda de negociação
feita anteontem pelo presidente Evo Morales, que insistiu na
"viabilização" dos dois referendos que faltam para promulgar
o novo texto constitucional, sua
principal bandeira política.
Os opositores anunciaram
que, por ora, vão se limitar a seguir os pontos do pré-acordo
fechado na terça-feira, entre o
vice-presidente, Álvaro García
Linera, e o governador opositor
de Tarija, Mario Cossío, representante também dos departamentos rebeldes de Santa Cruz,
Beni, Chuquisaca e Pando -este último em estado de sítio
desde o dia 13.
Por esse pré-acordo, a análise, pelo Congresso, dos referendos que abrem caminho para a nova Carta ficaria congelada por pelo menos um mês,
prazo que seria prorrogável.
Com a decisão dos governadores -anunciada ainda na
madrugada de ontem, ao final
de uma primeira e maratônica
rodada de negociações-, ontem foram montadas duas mesas temáticas com representantes do governo e dos opositores, ante a presença de observadores nacionais e internacionais, num centro de eventos da
cidade de Cochabamba (centro
da Bolívia).
A primeira mesa discutirá a
distribuição do IDH às regiões
-parte do imposto sobre o gás
foi redirecionado por Morales
para pagar um programa a idosos. A segunda tratará de compatibilizar a exigência dos departamentos por autonomia
administrativa e o novo texto
constitucional.
Pressões
A proposta de Morales de insistir com os referendos da Carta em troca da "pacificação" do
país, com a contenção dos movimentos sociais que cercam a
cidade opositora de Santa Cruz,
desagradou os governadores
oposicionistas, que a consideraram um desrespeito ao pré-acordo.
Mas, a avaliação é que, ainda
assim, vale a pena seguir com as
mesas de diálogo na presença
dos observadores internacionais. Segundo Cossío, eles trazem a oportunidade de o bloco
oposicionista ser ouvido internacionalmente e funcionam
como pressão para que o governo "cumpra sua palavra" depois
de tantos "fracassos" nas negociações. Ontem, chegou ao país
para participar da rodada o presidente da OEA (Organização
dos Estados Americanos), José
Miguel Insulza.
Para o senador por Tarija Roberto Ruiz (Podemos, direita),
a proposta de Morales significa
"um retrocesso". "Mas ele está
falando para sua própria base
quando fala de levar adiante a
Carta, para não desagradar os
movimentos sociais, numa tentativa de desmobilizá-los. É um
instrumento."
Ruiz, porém, critica o discurso duplo: "O governo brinca de
aprendiz de feiticeiro. Está mexendo com forças que não controla totalmente".
Nos últimos dias, vários dirigentes de amplos movimentos
camponeses e sindicais, base de
apoio de Morales, têm repetido
que não se pode "mexer nem
uma vírgula" do texto constitucional aprovado por constituintes governistas em 2007,
que toca em temas como reforma agrária e reeleição presidencial (uma vez só).
Já o governo comprometeu-se a "melhorar" o capítulo sobre a autonomia administrativa para os departamentos. Ministros também mantêm discurso dúbio quando questionados se Morales toparia mexer
no tema de regime fundiário
-as mais produtivas terras do
país estão nas mãos de grandes
proprietários nos departamentos rebeldes. "Vamos chegar a
um consenso primeiro sobre
autonomias. Depois, veremos",
disse Carlos Romero, ministro
do Desenvolvimento Rural e
integrante de uma das mesas de
negociação.
Após o trabalho técnico das
comissões temáticas, Morales
deve voltar a Cochabamba para
se reunir com os negociadores.
O presidente deixou o país na
madrugada de ontem para viajar ao Panamá, onde recebeu o
título de doutor honoris causa
em uma universidade.
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