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Brasil se anima com decisão da ONU sobre CS
Negociações sobre reforma de órgão terão que começar até fevereiro, mas devem enfrentar resistência
TAHIANE STOCHERO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
O governo brasileiro comemorou nesta semana uma resolução da Assembléia Geral das
Nações Unidas que fixou 28 de
fevereiro de 2009 como data-limite para o início das negociações visando uma reforma do
Conselho de Segurança da
ONU. A decisão foi tomada por
unanimidade pelos 192 países-membros na segunda e será tema do discurso do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva na
abertura da 63ª reunião da Assembléia na próxima terça.
"O Brasil está muito satisfeito [com a decisão]. A data marca a passagem da fase de consultas em um grupo de trabalho
para as negociações intergovernamentais reais", afirmou a
embaixadora Maria Luiza Viotti, chefe da representação brasileira em Nova York.
Para a missão brasileira na
ONU, a resolução é "histórica"
por ser a primeira vez que as
negociações serão realizadas
no âmbito da assembléia, onde
as eleições ocorrem por maioria de dois terços, e não mais
por consenso (como é no grupo
de trabalho). Além disso, acreditam os diplomatas, como o
Brasil já foi eleito em nove ocasiões como membro não-permanente, teria os votos suficientes para ser escolhido como membro permanente caso
a eleição venha a ser realizada.
A reforma do Conselho de
Segurança, no entanto, pode
ser barrada caso qualquer um
dos cinco atuais membros permanentes (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) exerça o seu poder de veto.
O Brasil luta por um assento
permanente não só para ele,
mas para o chamado Grupo dos
4, que inclui Alemanha, Índia e
Japão, que sofrem maiores restrições dos membros permanentes por rivalidades regionais e temores de desequilíbrio
de representatividade. Washington não quer a Alemanha
entre os membros permanentes. A China, por sua vez, se
opõe ao ingresso do Japão.
"Apoiamos uma reforma no
Conselho de Segurança, assim
como o ingresso do Japão, mas
achamos que a questão ainda
deve ser mais aprofundada. A
entrada de alguns países europeus industrializados é uma
coisa que ainda precisa ser discutida", disse o porta-voz dos
EUA na ONU, Patrick Ventrell.
Pela proposta apresentada
pelo Brasil, se o G4 conseguir
ingressar no Conselho permanentemente, os quatro países
concordam em abrir mão do direito de veto por 15 anos. Após
este período, o conselho passaria por nova reforma, e o direito
de veto seria estendido ao G4.
Além dos cinco membros fixos, atualmente outros dez
membros são eleitos pela Assembléia Geral com base em representação regional para o
mandato de dois anos. Para serem aprovadas, as decisões do
Conselho exigem que ao menos
nove países digam sim e nenhum membro permanente
exerça seu poder de veto.
Para a missão brasileira, "os
novos membros permanentes
devem ser apontados democraticamente pela Assembléia Geral ou por consenso entre os
grupos regionais", e "o Brasil
está pronto para assumir esta
responsabilidade, representando a América Latina e o Caribe". A região, principalmente
Argentina e México, tem, no
entanto, reservas quanto ao
Brasil ganhar o novo status.
O presidente da Assembléia
Geral, o nicaragüense Miguel
D'Escoto, prometeu discutir o
tema durante a próxima terça
com todos os líderes e políticos
para que as negociações comecem efetivamente. "Vamos
pressionar inquietantemente
pela democratização da ONU,
pois é urgente descentralizar o
poder acumulado há 63 anos
por um pequeno grupo de Estados. Não podemos passar mais
15 anos ouvindo discursos que
não levam a lugar nenhum."
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