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Ritmo frenético dá lugar a calmaria em centro de triagem
Centro de Acolhida de Lampedusa, que já abrigou mais de 2.000 pessoas, hoje é ocupado apenas por funcionários
Maior responsabilidade do local hoje é separar menores de maiores, com base em controverso exame ósseo, e prestar primeiros socorros
DA ENVIADA A LAMPEDUSA
Nos três pequenos prédios,
que comportam exatas 804
pessoas -mas que já chegaram
a abrigar a um só tempo mais de
2.000- há apenas os funcionários. Uns reclamam do tédio.
Outros temem perder o emprego. Com 60 contratados e 20
temporários, o quadro acabou
grande demais para tão pouco
trabalho. Os salários já estão
sendo reduzidos.
O Centro de Acolhida de
Lampedusa, que chegou por alguns meses a chamar-se Centro de Identificação e Expulsão,
é administrado por uma cooperativa e gerido como empresa
privada. Além das instalações
administrativas, tem refeitório,
local para oração, enfermaria e
um pátio de triagem com bancos de cimento.
Os quartos distribuídos pelos
barracões, um para mulheres e
crianças e dois para homens,
comportam, cada um, seis beliches com colchões de espuma
em um espaço de mais ou menos 6,5 m2.
O banheiro é dividido em cubículos apertados com chuveiros e tem uma longa pia de alumínio, ambos em mau estado
de conservação apesar da falta
de uso atual. A água vaza pelo
chão. Fotos internas das instalações foram vetadas.
Em janeiro, um desentendimento entre os internos culminou em um incêndio. Havia então 1.200 pessoas ali, mas ninguém se feriu gravemente. Tudo depois foi repintado.
A primeira coisa que a repórter ouve do diretor ao atravessar os portões frágeis é que a
cooperativa havia ganho a licitação do governo italiano por
propor cuidar de cada imigrante por "33 por dia".
Federico Miragliotta, 31, está
à frente do centro desde sua
abertura, há dois anos. Antes
havia outro, no norte escarpado da ilha. "E antes eles chegavam em grupos pequenos, de
20 pessoas, e as próprias pessoas da ilha cuidavam", diz.
Muitos desembarcavam
achando que era a Sicília, onde
poderiam pegar um trem, seguir para o resto da Itália e dali
para França, Alemanha, Suíça.
"Antes de ter o centro, eles
davam a volta na ilha em um
dia e descobriam que estavam
presos do mesmo jeito, sem ter
aonde ir. Sem documento não
se pega avião", conta Steffania,
nascida em Lampedusa.
A maioria dos que são levados ao centro passa menos de
uma semana ali antes de ser
deportada ou transferida a outros centros na Sicília até que
tramite o pedido de asilo.
Mas no ano passado, muitos
chegaram a ficar por dois meses. A situação ficou caótica. Só
em outubro, desembarcaram
mais de 4.000. Uma parte dormiu ao léu. "Trabalhamos em
um mês o que trabalhávamos o
ano todo", lembra Miragliotta.
A maior responsabilidade do
centro hoje é separar os menores de idade -que podem ficar
até que tramite o asilo- dos
maiores, que são deportados. A
decisão tem base em um exame
ósseo cujo resultado tem margem de erro considerável.
Também é feito ali o primeiro tratamento para os que chegam do mar, normalmente desidratados, com câimbras, infecções intestinais e escaras
surgidas da higiene precária.
O centro oferece ainda apoio
psicológico, mas a médica Luisa Grillo afirma ser difícil distinguir entre quem tem problema de fato e quem finge ter para ficar. Um gráfico na parede
mostra que os males recorrentes nos recém-chegados são
histeria e depressão.
Miragliotta insiste que os
doentes são no máximo 25%.
"A maioria é jovem e está em
condição de saúde muito melhor do que os italianos."
(LC)
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