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Eleição pode dar nova coalizão a Merkel
Chanceler alemã lidera pesquisas para pleito do próximo fim de semana, mas maior dúvida é configuração de governo
Após quatro anos de aliança com social-democratas, atual governante quer se unir agora com o direitista Partido Democrata Liberal
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Quando os alemães saírem
para votar nas eleições parlamentares do próximo fim de
semana, a escolha que farão
não será tanto quem será o chefe de governo, mas com quem e
com que tendência ele governará. Na verdade, ela.
Angela Merkel, chanceler
(premiê) desde 2005, lidera as
pesquisas, 11 pontos à frente de
seu rival e atual ministro das
Relações Exteriores, o social-democrata Frank-Walter
Steinmeier. Para um jornal alemão, só perde se for filmada
roubando um supermercado.
A ampla vantagem, porém,
não lhe garante hoje a configuração de governo que deseja.
Após uma coalizão de quatro
anos com o Partido Social-Democrata (SPD), Merkel deixou
claro que prefere uma aliança
entre sua União Democrata
Cristã (CDU, conservadora)
com o Partido Democrata Liberal (FDP, de direita). Assim, espera passar reformas econômicas que a associação com os social-democratas impede e recuperar a grande parcela de sua
base que crê que ela "social-democratizou" demais a CDU.
"Para preservar e aumentar
nossa prosperidade, precisamos de políticas orientadas ao
crescimento", disse Merkel em
campanha anteontem. "Podemos implementar essa política
com mais determinação em um
novo governo."
Há duas semanas, esse cenário era dado como certo. Mas as
últimas pesquisas mostram
que CDU e SPD podem ser levados a um casamento forçado.
Juntos, cristão-democratas e
liberais lideram com 49% a corrida ao Bundestag (a Câmara
Baixa do Parlamento). São só
três pontos de vantagem sobre
os outros três maiores partidos
somados (SPD, Verdes e A Esquerda) -uma vantagem débil
tendo em conta os 45% que, segundo as sondagens, se dizem
indecisos.
Alguns analistas interpretam
esses números como uma possibilidade de coalizão de três
partidos -quebrando 60 anos
de tradição bipartidária. A mais
provável é a "Coalizão Jamaica", assim chamada porque as
cores dos partidos (CDU, FDP e
Verdes) imitam a bandeira do
país caribenho. Cenário menos
provável é a "Coalizão Semáforo": SPD (vermelho), FDP
(amarelo) e Verdes. Nos dois
casos, os Verdes teriam papel
determinante.
O sistema alemão tem a particularidade de que as coligações são definidas após as eleições, uma vez calculada a representação de cada partido segundo as listas proporcionais.
A diferença é que antes os alinhamentos eram mais óbvios, e
o voto, mais uniforme.
"Há 15 anos, as pessoas votavam por tradição, sindicalistas
sempre com o SPD, católicos
sempre com a CDU. Hoje, a sociedade alemã não é mais claramente estratificada e identificável", afirma Peter Fischer-Bollin, diretor no Brasil da
Fundação Konrad Adenauer,
ligada à CDU. "Há menos católicos, há menos sindicatos fortes. E há mais pessoas, principalmente social-democratas,
frustradas e descontentes com
as reformas consideradas neoliberais implementadas no governo Gerhard Schröder [antecessor de Merkel, em coalizão
entre SPD e Verdes] e que provocaram uma revisão do Estado de bem-estar social."
Campanha do Valium
A questão é como esses indecisos se posicionarão -e mesmo se irão votar. Tampouco
ajuda o tom da campanha. Com
os dois principais adversários
dentro do mesmo governo, falta agressividade. Jornais alemães chegaram a usar o termo
"campanha do Valium" (pelo
poder de fazer dormir).
Analistas alertam contra
prognósticos precipitados.
"Em 2002, os cristão-democratas e os liberais estavam sempre liderando as pesquisas, com
exceção de um único dia -e foi
o dia da eleição", disse Dietmar
Herz, professor da Universidade Erfurt. Um repeteco da
grande coalizão é visto com reserva pelos analistas. Para os
social-democratas, tampouco é
o melhor resultado.
"Nossa opção preferida seria
um governo com os verdes",
disse à Folha Niels Annen, deputado do SPD. "A grande coalizão não foi um mau governo.
Mas não podemos esquecer
que social-democratas e cristão-democratas são os dois
grandes rivais na política alemã. Por isso a social-democracia não está muito contente."
Em geral, uma grande coalizão nasce quando os dois partidos dominantes, com diferentes orientações ideológicas, se
unem em um governo. "Grandes coalizões são impopulares,
são vistas como uma exceção à
regra. Devemos tê-la apenas
em situação de crise", diz Herz.
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