São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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Eleição pode dar nova coalizão a Merkel

Chanceler alemã lidera pesquisas para pleito do próximo fim de semana, mas maior dúvida é configuração de governo

Após quatro anos de aliança com social-democratas, atual governante quer se unir agora com o direitista Partido Democrata Liberal

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Quando os alemães saírem para votar nas eleições parlamentares do próximo fim de semana, a escolha que farão não será tanto quem será o chefe de governo, mas com quem e com que tendência ele governará. Na verdade, ela.
Angela Merkel, chanceler (premiê) desde 2005, lidera as pesquisas, 11 pontos à frente de seu rival e atual ministro das Relações Exteriores, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier. Para um jornal alemão, só perde se for filmada roubando um supermercado.
A ampla vantagem, porém, não lhe garante hoje a configuração de governo que deseja.
Após uma coalizão de quatro anos com o Partido Social-Democrata (SPD), Merkel deixou claro que prefere uma aliança entre sua União Democrata Cristã (CDU, conservadora) com o Partido Democrata Liberal (FDP, de direita). Assim, espera passar reformas econômicas que a associação com os social-democratas impede e recuperar a grande parcela de sua base que crê que ela "social-democratizou" demais a CDU.
"Para preservar e aumentar nossa prosperidade, precisamos de políticas orientadas ao crescimento", disse Merkel em campanha anteontem. "Podemos implementar essa política com mais determinação em um novo governo."
Há duas semanas, esse cenário era dado como certo. Mas as últimas pesquisas mostram que CDU e SPD podem ser levados a um casamento forçado.
Juntos, cristão-democratas e liberais lideram com 49% a corrida ao Bundestag (a Câmara Baixa do Parlamento). São só três pontos de vantagem sobre os outros três maiores partidos somados (SPD, Verdes e A Esquerda) -uma vantagem débil tendo em conta os 45% que, segundo as sondagens, se dizem indecisos.
Alguns analistas interpretam esses números como uma possibilidade de coalizão de três partidos -quebrando 60 anos de tradição bipartidária. A mais provável é a "Coalizão Jamaica", assim chamada porque as cores dos partidos (CDU, FDP e Verdes) imitam a bandeira do país caribenho. Cenário menos provável é a "Coalizão Semáforo": SPD (vermelho), FDP (amarelo) e Verdes. Nos dois casos, os Verdes teriam papel determinante.
O sistema alemão tem a particularidade de que as coligações são definidas após as eleições, uma vez calculada a representação de cada partido segundo as listas proporcionais. A diferença é que antes os alinhamentos eram mais óbvios, e o voto, mais uniforme.
"Há 15 anos, as pessoas votavam por tradição, sindicalistas sempre com o SPD, católicos sempre com a CDU. Hoje, a sociedade alemã não é mais claramente estratificada e identificável", afirma Peter Fischer-Bollin, diretor no Brasil da Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU. "Há menos católicos, há menos sindicatos fortes. E há mais pessoas, principalmente social-democratas, frustradas e descontentes com as reformas consideradas neoliberais implementadas no governo Gerhard Schröder [antecessor de Merkel, em coalizão entre SPD e Verdes] e que provocaram uma revisão do Estado de bem-estar social."

Campanha do Valium
A questão é como esses indecisos se posicionarão -e mesmo se irão votar. Tampouco ajuda o tom da campanha. Com os dois principais adversários dentro do mesmo governo, falta agressividade. Jornais alemães chegaram a usar o termo "campanha do Valium" (pelo poder de fazer dormir).
Analistas alertam contra prognósticos precipitados. "Em 2002, os cristão-democratas e os liberais estavam sempre liderando as pesquisas, com exceção de um único dia -e foi o dia da eleição", disse Dietmar Herz, professor da Universidade Erfurt. Um repeteco da grande coalizão é visto com reserva pelos analistas. Para os social-democratas, tampouco é o melhor resultado.
"Nossa opção preferida seria um governo com os verdes", disse à Folha Niels Annen, deputado do SPD. "A grande coalizão não foi um mau governo. Mas não podemos esquecer que social-democratas e cristão-democratas são os dois grandes rivais na política alemã. Por isso a social-democracia não está muito contente."
Em geral, uma grande coalizão nasce quando os dois partidos dominantes, com diferentes orientações ideológicas, se unem em um governo. "Grandes coalizões são impopulares, são vistas como uma exceção à regra. Devemos tê-la apenas em situação de crise", diz Herz.


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