São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Pelotão matava "por esporte", diz jornal

"Washington Post" revela que soldados dos EUA em Candahar chegaram a simular ataque para matar afegão

Pai de um dos militares envolvidos afirma que tentou alertar Exército, sem sucesso; primeira morte foi em janeiro


Reprodução
O soldado Winfield, que contou o caso ao pai no Facebook

DE SÃO PAULO

Cinco soldados norte-americanos são acusados de matar três civis afegãos, além de desmembrar cadáveres e fotografá-los, na Província de Candahar, no Afeganistão.
As autoridades militares não comentaram o caso, mas uma reportagem do "Washington Post" de ontem afirmou que os assassinatos foram cometidos "por esporte, por soldados que tinham apreço por haxixe e álcool".
As conclusões do jornal são fruto da análise de relatórios oficiais e de entrevistas com envolvidos nos casos.
Segundo o texto, as mortes começaram a ser planejadas em dezembro, após a chegada do sargento Calvin Gibbs, 25, ao pelotão. Ele é apontado como líder do chamado "grupo de extermínio".
A primeira morte teria ocorrido em 15 de janeiro.
O "Washington Post" relata que, nessa data, o civil afegão Gul Mudin andava na direção do pelotão quando um soldado, Jeremy Morlock, 22, atirou uma granada no chão e fingiu estar sendo atacado. Seus companheiros começaram a atirar. Mudin morreu.
O pelotão estava no local para garantir a segurança durante o encontro entre oficiais norte-americanos e anciãos de tribos afegãs.
Em conversa pelo Facebook, o soldado Adam Winfield relatou o assassinato a seu pai, que procurou as autoridades militares dos EUA para denunciar o caso. Segundo ele, os repetidos alertas foram ignorados.
Um sargento com quem seu pai falou, segundo a reportagem, disse não poder fazer nada a não ser que o próprio soldado relatasse o ocorrido a seus superiores.

OSSOS
Oito dias depois do aviso, o pelotão teria assassinado mais um civil, em 22 de fevereiro. Nessa ocasião, segundo relatos oficiais, o soldado Michael Wagnon estava em posse de um crânio -mas não se sabe se pertencia a uma das vítimas.
Os registros apontam o assassinato seguinte em 2 de maio, com uma granada arremessada e tiros disparados contra o clérigo afegão Mullah Adahdad.
Um dos acusados, nesse caso, é o próprio Adam Winfield. O advogado da família alega que o rapaz recebeu ordens de atirar no clérigo, mas errou o disparo de propósito.
Os supostos envolvidos nesse e nos demais assassinatos negam as denúncias, por meio de advogados e familiares. Há também outros sete acusados de crimes relacionados ao caso, incluindo uso de haxixe e tentativas de impedir as investigações.
O Exército norte-americano agendou a coleta de depoimentos pré-julgamento para os próximos meses.
Há a preocupação, entre militares, de que a investigação trará atenção ao caso, deixando raivosos os civis afegãos -cujo apoio é essencial na luta que o país trava contra o Taleban.


Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.