São Paulo, terça-feira, 20 de outubro de 2009

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3º mandato dependerá da Justiça, afirma Uribe

Ao lado de Lula, em São Paulo, colombiano abandona discurso hesitante sobre tema

Brasileiro diz confiar nas explicações de Uribe e Obama para bases militares na Colômbia, mas diz que quer analisar teor do acordo


Moacir Lopes Jr./Folha Imagem
Uribe e Lula, na Fiesp; brasileiro disse confiar na palavra de colombiano sobre bases dos EUA

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, afirmou ontem em São Paulo que sua candidatura a um terceiro mandato, que lhe permitiria ficar no poder até 2014, dependerá da Justiça, do povo e de Deus.
O conservador Uribe, eleito em 2002, que vinha repetindo estar dividido quanto ao tema, pôs assim a questão na mão da Corte Constitucional, que analisa a convocação de um referendo que perguntará se a população aprova a mudança legal que lhe permitirá tentar uma segunda reeleição. O pleito será em março de 2010.
O assunto foi trazido à tona pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Uribe se reuniu ontem na sede da Fiesp, em São Paulo (leia texto nesta pág.). Discursando a empresários, Lula desafiou o colombiano a trabalhar para dobrar o intercâmbio comercial bilateral no que lhes resta de mandato.
"Uribe, eu tenho um ano e dois meses [de governo]. Você... [risos] A troca de governo seria em agosto [de 2010]? Teoricamente você tem dez meses. Independentemente do que vai acontecer depois...", disse Lula.
A segunda reeleição de Uribe é tema de desconforto até para governistas, além de empresários, que criticam a iniciativa que o aproxima do seu antípoda esquerdista, o venezuelano Hugo Chávez, que conseguiu aprovação popular para a reeleição indefinida.
Para conseguir disputar, Uribe tem como adversário, além da avaliação da Justiça, o tempo curto para realizar o referendo até o ano que vem.
O colombiano será franco favorito na eleição, caso dispute. Ele exibe aprovação de 70% a despeito de uma série de escândalos: o das gravações clandestinas de conversas de jornalistas, ativistas e juízes feitas pelo órgão de inteligência; o da compra de votos para a aprovação da primeira reeleição, em 2006; o da execução de 2.000 civis por militares, que apresentavam as vítimas como guerrilheiros abatidos; e o da parapolítica, sobre ligação entre políticos de sua base e paramilitares.
Ontem, a procuradoria Geral da República abriu mais um capítulo do escândalo ao reabrir uma investigação preliminar sobre o suposto envolvimento do vice-presidente, Francisco Santos, com paramilitares.

Bases americanas
Lula disse ontem que a região trabalha "para encontrar uma solução" ante a decisão da Colômbia de permitir que EUA utilizem ao menos sete instalações militares do país. Washington e Bogotá estão prestes a assinar o acordo.
A decisão provocou incômodo no governo brasileiro e reação contrária enérgica dos governos de Venezuela e Equador. Ontem, Lula usou tom mais ameno. Disse confiar nas palavras de Uribe e do presidente americano, Barack Obama, que garantem que as bases visam atacar problemas internos na Colômbia. "Certamente isso estará colocado e [espero] que, quando esse acordo for assinado, a gente possa tomar conhecimento", disse Lula.
O brasileiro defendeu que os países apresentem seus acordos militares no Conselho de Defesa da Unasul. Citou o do Brasil com a França e os da Venezuela "com quem quer que seja" -diante das críticas pelo acordo com os EUA, Uribe pede que Caracas explique seus elos militares com Irã e Rússia.


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