São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2011

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Chilenos desafiam 'mano dura' do governo

Após anúncio de que manifestantes serão punidos pela Lei de Segurança Nacional, protestos levam 200 mil às ruas

Já são mais de 300 os presos pelo governo nos últimos dois dias; atos pedem investimentos em educação gratuita

JOÃO PAULO CHARLEAUX

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SANTIAGO

Mais de 200 mil chilenos saíram ontem às ruas de Santiago para protestar por educação gratuita, no segundo dia de marchas convocadas pelo movimento estudantil.
A polícia difere da estimativa dos organizadores e aponta adesão de 25 mil.
A manifestação, que teve 263 detidos na terça e outros 40 ontem, foi um desafio à Lei de Segurança Nacional e levou o governo a prometer "maiores esforços" em relação às demandas.
Depois da marcha, o ministro da Secretaria de Governo, Andrés Chadwick, admitiu que pode "buscar fórmulas para garantir que até 60% dos estudantes chilenos tenham bolsas e crédito educativo". Antes, o governo dizia que 40% era o limite.
A marcha de ontem foi a 109ª desde maio. Em Santiago, grupos montaram barricadas em chamas e enfrentaram a polícia, que os reprimiu lançando gás lacrimogêneo.
Contudo, o protesto foi pacífico na maior parte do tempo. "Tenho quatro irmãos. Minha família nunca poderá pagar universidade para nós. Não é certo que só quem tem dinheiro possa estudar", disse Carolina Jimenez, 15, que foi de uniforme à marcha.
Camila Vallejo, presidente da Confederação de Estudantes da Universidade do Chile e líder do movimento, disse à Folha que "o Chile é hoje um Estado terrorista, que criminaliza os estudantes". Ela acusa a polícia de usar força excessiva contra os jovens.
Na semana passada, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos questionou a ação da polícia chilena durante os protestos.
A invocação pelo governo, anteontem, da Lei de Segurança Nacional, criada na ditadura para enquadrar os protestos como crime, foi criticada por juristas. "É um erro grave, um exagero enorme, uma medida que provoca efeito inverso. Teremos ainda mais violência", disse Juan Pablo Hermosilla, professor de direito da Universidade Diego Portales. Para ele, o Código Penal já tipifica os crimes cometidos nas marchas.
Com 22% de aprovação, Sebasitán Piñera é hoje o presidente mais mal avaliado das Américas. O empresário de 62 anos assumiu em março de 2010. O mandato presidencial no Chile é de quatro anos, sem direito à reeleição.
"[Piñera] é o que chamamos em política de pato manco, alguém que está no cargo, mas já não fica de pé como deveria", avalia o analista político Patricio Navia.
Como é improvável que outros 33 mineiros fiquem presos num buraco até serem salvos pelo governo -como aconteceu em Copiapó, em 2010, quando a popularidade presidencial foi a 63%-, Piñera tem recorrido à ordem pública para se erguer.
"Ele propôs pré-natal de seis meses e até a suspensão do uso de gás lacrimogêneo pela polícia, mas nada disso surtiu efeito", diz Navia.
Segundo o analista, "ele perdeu prestígio entre seus eleitores tradicionais e agora endurece leis para lidar com os protestos".


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