São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2004

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HISTÓRIA DIGITAL

Projeto promete digitalizar 30 milhões de páginas de periódicos que circularam no país de 1836 a 1922

Jornais antigos dos EUA vão à internet

DE NOVA YORK

Em um projeto ambicioso, a Fundação Nacional para as Humanidades (NEH, pela sigla em inglês) promete colocar 30 milhões de páginas de jornais americanos antigos na internet. Devem estar on-line até o segundo semestre de 2006. As publicações que ajudam a contar a história dos EUA de um modo que não está nos livros escolares ficarão disponíveis para consulta a qualquer pessoa que tenha acesso à rede mundial de computadores.
Os primeiros jornais que ficarão disponíveis foram publicados de 1836 a 1922, uma época fervilhante da história americana. O tipo de letra usado para impressão dos jornais anteriores a esse período não pode ser digitalizado, e sobre o material publicado a partir do ano de 1923 já vigoram as leis de proteção à propriedade intelectual.
"Os jornais são o primeiro rascunho de nossa história, e em muitas cidades são a única fonte disponível. Se eles acabam, o registro da história dessa cidade acaba também", disse à Folha Bruce Cole, diretor do NEH.
O material a ser digitalizado é produto de um esforço de 20 anos, no qual o NEH e a Biblioteca do Congresso trabalharam em conjunto com os Estados para reunir cerca de 140 mil títulos diferentes. Entre eles, há pérolas como "O Democrata Destemido Diário" (Colorado), "O Cruzado Temperança" (Geórgia) e "O Castigador de Ripley" (Ohio).
Outra curiosidade: muitos jornais dessa época eram bilíngües -"O Californiano", primeiro jornal do Estado, circulava em inglês e espanhol. "O Defensor dos Cherokees" trazia sua versão na língua indígena e, na Chicago do início do século 20, era possível ler jornais em alemão, grego, polonês, francês, hebraico, lituano, esloveno, dinamarquês, sueco, norueguês, iídiche e boêmio.
"Esse jornais estavam espalhados, enfurnados em depósitos, bibliotecas e casas. O projeto era não só enorme mas também urgente, porque após 1850 o papel passa a usar material ácido, que se autodestrói", afirmou Cole.

Página inteira
Cerca de 67 milhões de páginas já haviam sido microfilmadas dentro do projeto. Mas o acesso, disse Cole, continuava difícil. Era preciso ir a uma biblioteca pública, solicitar o microfilme, e o volume de material tornava qualquer pesquisa exaustiva.
Com os jornais digitalizados, é possível fazer buscas usando palavras-chaves por todo o material sem sair de casa. A técnica utilizada, de reconhecimento ótico de caracteres (ROC), permite visualizar a página toda, e não somente os textos -mais ou menos como um arquivo PDF, mas com acesso mais fácil. "Além das notícias, os jornais têm anúncios, editoriais, colunas de fofocas, obituários, comunicados jurídicos. Tudo isso ajuda a mostrar como era o cotidiano das pessoas."
O foco do projeto são os jornais de cidades pequenas. "Os grandes jornais, em grande parte, já têm sua produção microfilmada ou digitalizada", afirmou Cole.
Três critérios foram levados em conta para escolher o que vai para a internet: a credibilidade da publicação -se era nele que os comunicados de fatos relevantes das empresas eram publicados-, a representatividade de diferentes regiões e se o período de publicação cobre algum evento ou movimento importante.
O projeto, batizado de Programa Nacional de Jornais Digitais, deve consumir até sua conclusão cerca de US$ 88 milhões. A verba é da NEH, uma agência federal independente que patrocina as humanidades nos EUA, por meio de programas públicos, projetos educacionais e bolsas de estudo.
Por trás dessa iniciativa está o programa "We the People", criado no início do ano passado pelo governo de George W. Bush para difundir o ensino de história americana entre os cidadãos.
"Não sei como é no Brasil, mas nos EUA as pessoas, sobretudo os jovens, não sabem o suficiente sobre sua própria história", disse Cole. "Conhecimento histórico não é um luxo. É necessidade." (LUCIANA COELHO)


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