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HISTÓRIA DIGITAL
Projeto promete digitalizar 30 milhões de páginas de periódicos que circularam no país de 1836 a 1922
Jornais antigos dos EUA vão à internet
DE NOVA YORK
Em um projeto ambicioso, a
Fundação Nacional para as Humanidades (NEH, pela sigla em
inglês) promete colocar 30 milhões de páginas de jornais americanos antigos na internet. Devem
estar on-line até o segundo semestre de 2006. As publicações
que ajudam a contar a história
dos EUA de um modo que não está nos livros escolares ficarão disponíveis para consulta a qualquer
pessoa que tenha acesso à rede
mundial de computadores.
Os primeiros jornais que ficarão
disponíveis foram publicados de
1836 a 1922, uma época fervilhante da história americana. O tipo de
letra usado para impressão dos
jornais anteriores a esse período
não pode ser digitalizado, e sobre
o material publicado a partir do
ano de 1923 já vigoram as leis de
proteção à propriedade intelectual.
"Os jornais são o primeiro rascunho de nossa história, e em
muitas cidades são a única fonte
disponível. Se eles acabam, o registro da história dessa cidade
acaba também", disse à Folha
Bruce Cole, diretor do NEH.
O material a ser digitalizado é
produto de um esforço de 20
anos, no qual o NEH e a Biblioteca
do Congresso trabalharam em
conjunto com os Estados para
reunir cerca de 140 mil títulos diferentes. Entre eles, há pérolas como "O Democrata Destemido
Diário" (Colorado), "O Cruzado
Temperança" (Geórgia) e "O Castigador de Ripley" (Ohio).
Outra curiosidade: muitos jornais dessa época eram bilíngües
-"O Californiano", primeiro
jornal do Estado, circulava em inglês e espanhol. "O Defensor dos
Cherokees" trazia sua versão na
língua indígena e, na Chicago do
início do século 20, era possível ler
jornais em alemão, grego, polonês, francês, hebraico, lituano, esloveno, dinamarquês, sueco, norueguês, iídiche e boêmio.
"Esse jornais estavam espalhados, enfurnados em depósitos, bibliotecas e casas. O projeto era
não só enorme mas também urgente, porque após 1850 o papel
passa a usar material ácido, que se
autodestrói", afirmou Cole.
Página inteira
Cerca de 67 milhões de páginas
já haviam sido microfilmadas
dentro do projeto. Mas o acesso,
disse Cole, continuava difícil. Era
preciso ir a uma biblioteca pública, solicitar o microfilme, e o volume de material tornava qualquer
pesquisa exaustiva.
Com os jornais digitalizados, é
possível fazer buscas usando palavras-chaves por todo o material
sem sair de casa. A técnica utilizada, de reconhecimento ótico de
caracteres (ROC), permite visualizar a página toda, e não somente
os textos -mais ou menos como
um arquivo PDF, mas com acesso
mais fácil. "Além das notícias, os
jornais têm anúncios, editoriais,
colunas de fofocas, obituários, comunicados jurídicos. Tudo isso
ajuda a mostrar como era o cotidiano das pessoas."
O foco do projeto são os jornais
de cidades pequenas. "Os grandes
jornais, em grande parte, já têm
sua produção microfilmada ou
digitalizada", afirmou Cole.
Três critérios foram levados em
conta para escolher o que vai para
a internet: a credibilidade da publicação -se era nele que os comunicados de fatos relevantes das
empresas eram publicados-, a
representatividade de diferentes
regiões e se o período de publicação cobre algum evento ou movimento importante.
O projeto, batizado de Programa Nacional de Jornais Digitais,
deve consumir até sua conclusão
cerca de US$ 88 milhões. A verba
é da NEH, uma agência federal independente que patrocina as humanidades nos EUA, por meio de
programas públicos, projetos
educacionais e bolsas de estudo.
Por trás dessa iniciativa está o
programa "We the People", criado no início do ano passado pelo
governo de George W. Bush para
difundir o ensino de história americana entre os cidadãos.
"Não sei como é no Brasil, mas
nos EUA as pessoas, sobretudo os
jovens, não sabem o suficiente sobre sua própria história", disse
Cole. "Conhecimento histórico
não é um luxo. É necessidade."
(LUCIANA COELHO)
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