São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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EUA e dólar cairão juntos, diz Chávez

Declaração em Teerã, ecoada pelo presidente iraniano Ahmadinejad, retoma tema de cúpula da Opep

Venezuela e Irã anunciam fábrica de alumínio e criação de banco e de fundo de investimento conjuntos no sétimo encontro desde 2005

Behrouz Mehri/France Presse
Chávez é recebido por Ahmadnejad em Teerã

DA REDAÇÃO

Com juras de parceria eterna e previsões sobre a queda do império americano, cujo prelúdio seria o enfraquecimento do dólar, os presidentes do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e da Venezuela, Hugo Chávez, fizeram ontem em Teerã mais uma demonstração da aliança entre os seus países e assinaram mais quatro acordos de cooperação bilateral, entre eles o da criação de um banco e um fundo de investimentos comuns.
"Dentro de pouco tempo não se vai mais falar em dólar. O dólar está caindo e com ele cairá, graças a Deus, o imperialismo dos EUA", afirmou Chávez. "Ficaremos um ao lado do outro até o final, em defesa dos direitos de nossas nações e de nossos ideais", disse Ahmadinejad, segundo a agência oficial iraniana Irna.
O encontro dos aliados anti-EUA em Teerã acontece um dia depois da cúpula da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em Riad, na Árabia Saudita, na qual Irã e Venezuela defenderam menção ao enfraquecimento do dólar na declaração final e pregaram que o cartel deixe de usar a moeda como referência.
O argumento dos dois é que a queda do dólar contribui para a alta do petróleo -que ronda US$ 100 o barril-, mas os produtores não recebem o valor justo por causa da desvalorização da moeda dos EUA, que vem se acentuando desde o estouro da bolha imobiliária americana, em julho. "Eles recebem nosso petróleo e nos dão um papel que não vale nada", disse Ahmadinejad em Riad.
A menção não entrou na declaração da Opep, mas Ahmadinejad e Chávez obtiveram uma vitória: o tema tornou-se o principal da reunião quando vazaram discussões fechadas em torno da desvalorização.
Diante da proposta do Irã e da Venezuela, o chanceler da Árabia Saudita, Saud al Faisal, argumentou que a simples menção à queda do dólar faria a moeda despencar -declarações captadas pela imprensa.
Ao final da cúpula, a Opep criou um grupo de estudo sobre a questão, formado pelos ministros da Economia do cartel, que deve se reunir em breve.
Segundo análise do jornal "Financial Times", a proposta de deixar de cotizar o petróleo em dólar é pouco factível para a Opep. O cartel teria de voltar a fixar o preço, política que abandonou nos anos 80.
Mas o debate do tema, diz o jornal econômico britânico, é sinal de dois movimentos: "Os países tentarão manter o preço do produto acima das perdas do dólar e buscarão mudar a moeda de suas reservas".

Banco e fundo
A visita de ontem foi a quarta de Hugo Chávez a Teerã desde 2005 -o iraniano já foi a Caracas três vezes. Segundo o governo venezuelano, os dois países já assinaram 186 acordos bilaterais, sem somar os de ontem.
As cifras envolvidas são incertas e, usualmente, não há detalhes dos acordos. Já há vários projetos implementados na Venezuela, como fábricas de tratores e de laticínios, e outros em curso.
Ontem, a lista foi ampliada com a assinatura de um memorando de entendimento para a fundação de um banco e de um fundo de investimentos bilaterais, além de um acordo industrial que permitirá, segundo a Venezuela, a construção de uma fábrica de alumínio, ferro e plástico no país de Chávez.
O presidente venezuelano tem defendido as atividades nucleares do Irã, alvo de sanções do Conselho de Segurança da ONU, que exige que Teerã suspenda seu programa de enriquecimento de urânio (que pode ser usado como combustível tanto para usinas de energia quanto para bombas).
O Irã argumenta que o programa tem fins pacíficos e que, como signatário do Tratado de Não-Proliferação, tem o direito a produzir combustível nuclear (como o Brasil, por exemplo, faz). Mas não tem repassado todas as informações requeridas pela AIEA, a agência nuclear das Nações Unidas.


Com agências internacionais


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