São Paulo, sexta-feira, 20 de novembro de 2009

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Prefeito de Buenos Aires critica Casa Rosada

"É evidente que querem tudo, mas não podem comprar todos", diz Mauricio Macri dirigindo-se aos Kirchner

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

Acuado pelo escândalo de um esquema de grampos ilegais promovido pela chefia da polícia municipal, o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, partiu ontem para o contra-ataque e mirou a Casa Rosada.
"Vocês não vão nos deter. É evidente que querem tudo. Mas não podem comprar todos. Não vão poder conosco", disse Macri, dirigindo-se "ao casal presidencial [a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner]", durante entrevista coletiva, em Buenos Aires.
De perfil conservador, Macri é um adversário político do kirchnerismo e tem pretensões de chegar à Presidência.
Como a segurança pública é uma das principais preocupações da população argentina, um eventual êxito da recém-criada polícia da capital poderia alavancar sua campanha para a eleição de 2011.
O elo entre o escândalo e a disputa eleitoral foi assinalado pelo prefeito. "Assumimos o desafio inédito de construir uma polícia do zero. Uma nova polícia, com outros valores, outros equipamentos, outro profissionalismo. Isso vai contra muitos interesses em torno da segurança pública", disse.
Pela manhã, o chefe de gabinete de Cristina sugeriu que Macri deveria deixar o cargo, ao afirmar que "por muito menos, [o presidente dos EUA] Richard Nixon renunciou".
Em resposta a Fernández, Macri acusou o governo federal de corrupção e citou o impeachment do presidente brasileiro Fernando Collor de Mello (1990-1992), que hoje é senador pelo Estado de Alagoas. "Por 10% dos casos de corrupção que eles têm [no governo federal] tiraram [da Presidência do Brasil Fernando] Collor de Mello".
O chefe de gabinete de Cristina treplicou, dizendo que "Macri toma a todos por idiotas".
A investigação sobre os grampos ilegais levou à prisão de Jorge Palacios na terça passada. Ele havia sido designado pelo prefeito como chefe da Polícia Municipal e deixou o cargo no início do escândalo.
O substituto de Palacios, Osvaldo Chamorro, que era seu sócio numa empresa privada de segurança, foi demitido na última terça, sob suspeita de participação no esquema.
Os dois são acusados de espionar políticos e empresários. O juiz do caso chegou a suspeitar que o casal presidencial tivesse sido espionado, mas a hipótese foi descartada.
Macri decidiu manter no cargo seu secretário de Segurança e Justiça e afirmou que a polícia "sairá às ruas", com 800 agentes "antes do final do ano, apesar das dificuldades".
"O objetivo é reduzir os medos e as angústias que todos nós temos. Quando nossos filhos vão a um show, não sabemos se vão voltar sãos e salvos", disse, referindo-se ao episódio de um jovem que entrou em coma nesta semana, após ser atacado na saída de um show.


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