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Brasil se abstém em votação contra o Irã
País não aprova resolução da ONU que condena violações dos direitos humanos, incluindo apedrejamento
Discussão foi motivada pelo caso da iraniana Sakineh, condenada a morrer por supostos adultério e assassinato
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
O Brasil se absteve anteontem na votação por um comitê da ONU de uma resolução
expressando "preocupação
profunda com as recorrentes
violações dos direitos humanos" no Irã.
A resolução, aprovada no
comitê de direitos humanos
da Assembleia Geral, foi patrocinada por 42 países liderados pelo Canadá.
O texto condena, "entre
outros [casos], a tortura, a alta incidência de aplicação de
pena de morte, inclusive contra pessoas menores de 18
anos, a violência contra a
mulher e a perseguição contra minorias étnicas".
Ao defender a proposta, o
canadense John McNee afirmou que "apedrejamentos,
chibatadas, amputações,
execuções de adolescentes,
execuções por estrangulamento e discriminação contra mulheres e minorias não
podem ser ignorados".
Neste ano, o caso da iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e de coautoria no assassinato de seu
marido, ganhou repercussão
mundial.
Ela foi condenada em 2006
à morte por apedrejamento e
aguarda decisão presa.
Não se sabe se o julgamento da iraniana está concluído
nem quando a pena imposta
a ela pode ser implementada
pelas autoridades.
DILMA
A resolução foi aprovada
por 80 votos a 44, com 57 abstenções, e será adotada pela
Assembleia Geral.
A diplomacia brasileira,
historicamente refratária a
condenar países acusados de
desrespeito aos direitos humanos, se aproximou nos últimos anos do regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Já a presidente eleita, Dilma Rousseff, disse no início
do mês que o apedrejamento
é uma "coisa muito bárbara",
o que pode sugerir uma inflexão sobre o tema quando ela
assumir, em janeiro.
A delegação brasileira, ao
justificar o voto, destacou
preocupação com os direitos
humanos no Irã, mas afirmou crer que a resolução seja
"produto de um processo
que precisa ser melhorado".
"As resoluções [referentes
ao Irã] são as únicas que não
passam por um processo de
consultas abertas e transparentes", afirmou o representante do Brasil, Alan Sellos.
"Além disso, a maneira pela qual algumas situações de
direitos humanos são destacadas, enquanto outras não,
serve apenas para reforçar
que questões de direitos humanos são tratadas de forma
seletiva e politizada."
O Brasil assegurou que se
preocupa com a situação no
Irã, especialmente das mulheres, e mencionou a importância do respeito a direitos
civis e políticos e à liberdade
de expressão e opinião.
O representante iraniano
presente à reunião, Mohammad Larijani, disse que a resolução nada tem a ver com
direitos humanos, mas procura servir à política norte-americana.
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