UOL


São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO

Síndrome anti-China no governo Bush

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entre especialistas, concluiu um trabalho do jornalista Ritt Goldstein, fala-se numa síndrome antichinesa do governo Bush. No "Asia-Pacific Center for Security Studies", publicação do Exército americano, saiu artigo dizendo que, "antes do 11 de Setembro, se encaminhavam para um confronto as relações entre os países mais poderoso e mais populoso do mundo", EUA e China. Os falcões aproveitaram o incidente em 2001 com um avião espião dos EUA em mãos dos chineses para impulsionar um acerto de contas.
Desde 1997, agrupados em seus "think tanks", como o Project for a New American Century (PNAC), neoconservadores já marcavam a China como o novo alvo. Dos fundadores do PNAC, 40% estão ou estiveram no governo Bush, como Cheney e Rumsfeld. Os desafios representados pela China são temas da "Weekly Standard", de leitura obrigatória na Casa Branca. O apoio chinês aos países pobres em Cancún criou em Washington a expectativa de uma estratégia hostil com dupla cara -aliança com o "sul" e avanços tecnológicos. A China já envia homens ao espaço.
O petróleo é um elemento-chave. A posse de reservas do arquipélago Spratly, no mar da China, pode acabar sendo uma das causas maiores de um conflito. As disputas (China, Vietnã, Filipinas e Taiwan) envolvendo essas ilhas "impedem que a região seja explorada", alertou em 2002 a "Alexanders Gas and Oil Connections". A possibilidade de que elas se tornem "outro golfo Pérsico" consta de documento da "USA Energy Information Administration" de 2002. A China é o terceiro maior consumidor de petróleo do mundo e depende de importações maciças de energia.
É vital o petróleo de Spratly. Sessenta por cento das importações vinham do golfo Pérsico, sobretudo do Iraque, hoje em mãos dos americanos. Em março, o "Toronto Star" deu a equação completa. Os EUA "passam a controlar o golfo Pérsico a partir da ocupação de um pais estratégico, o Iraque". Com isso "terão mais poder em seu confronto com a China e a Rússia". É citado o analista militar Michael Klare, segundo o qual governo Bush está convencido de que o binômio petróleo e poder militar garantirá a supremacia americana nos próximos anos. Um dos fundadores do "think tank", Aaron Friedberg chegou a dar como inevitável um confronto com a China.
O próprio Bush, na condição de candidato, declarou que a China "é concorrente e não parceiro estratégico". No momento as operações são de "contenção" da China por meio de alianças regionais.


Newton Carlos é jornalista e analista de questões internacionais


Texto Anterior: Número dois do grupo ameaça EUA e aliados
Próximo Texto: Panorâmica - Argentina: Tribunal abre processo contra Menem por omissão de conta bancária na Suíça
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.