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SUCESSÃO NOS EUA / FALTA UM MÊS
Obama completa seu gabinete eclético
"É mais cedo que qualquer presidente na história", gaba-se democrata, ao anunciar nomes de republicano, hispânica e negro
À frente da secretaria de Comércio Exterior estará
ex-prefeito que defende livre comércio; pasta deve ficar em segundo plano
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Com um republicano, uma
hispânica e um negro, Barack
Obama completa as posições
principais do gabinete com o
qual começará a governar os
EUA a partir de 20 de janeiro. A
conclusão acontece "mais cedo
do que qualquer presidente na
história", gabou-se o democrata em entrevista coletiva ontem
à tarde em Chicago.
Obama anunciou o deputado
republicano Ray LaHood, de
Illinois, seu berço político, para
o Departamento dos Transportes. A pasta ganha importância
inédita sob Obama, que promete o maior investimento do governo no setor desde os anos
50, parte do plano de gerar empregos de forma rápida.
O democrata anunciou ainda
Hilda Solis, da Califórnia, para
a pasta do Trabalho. Filha de
uma nicaragüense com um mexicano, a deputada democrata
será a primeira hispânica com
origens na América Central a
fazer parte de um gabinete presidencial americano. Ontem,
ela fez parte de seu agradecimento em espanhol.
Completaram a tarde os nomes de Karen Gordon Mill, empresária do Maine, para dirigir
a Administração de Pequenos
Negócios, e do democrata Ron
Kirk, ex-prefeito de Dallas (Texas), para comandar a secretaria especial de Comércio Exterior (USTR, na sigla em inglês),
cargo ocupado hoje por Susan
Schwab.
Em segundo plano
A escolha de Kirk, a que mais
interessa ao Brasil, não chega
sem polêmicas. Seu cargo tem,
entre outras atribuições, negociar tratados de livre comércio
com outros países e defender as
posições dos EUA na Rodada
Doha de liberalização comercial, cuja conclusão é uma das
prioridades do Itamaraty de
Lula. Mas o ex-prefeito de Dallas é o "plano B" de Obama.
A primeira opção era o deputado hispânico Xavier Becerra,
protecionista da Califórnia.
Depois de discutir com a equipe econômica obamista os termos do trabalho na secretaria
especial, Becerra recuou e
abriu mão do cargo. Disse a um
jornal voltado à comunidade
hispânica que fez isso ao sentir
que a pasta não seria prioridade
para o novo governo.
O histórico de votação do
atual Congresso, dominado pelo partido de Obama, sugere isso. Descansam há dois anos no
Legislativo acordos com a Colômbia e a Coréia do Sul.
Ontem, analistas ecoavam
Becerra. Ao comentar a escolha, o colunista conservador
Charles Krauthammer disse
que Kirk será "o homem mais
desocupado do novo governo.
Lerá muitos romances nos próximos quatro anos".
Apesar de ser considerado
pró-livre comércio -é defensor, por exemplo, do Nafta, o
acordo comercial entre EUA,
México e Canadá criticado por
alguns obamistas e que o próprio presidente eleito prometeu rever, quando era candidato-, Kirk não tem grande experiência na área. Esta se resume
a liderar delegações comerciais
quando prefeito de Dallas.
Outro potencial conflito é o
fato de a futura secretária do
Trabalho, Hilda Solis, ter feito
carreira com uma plataforma
protecionista e ser ligada ao
movimento sindical, que em
geral vê nos tratados uma
ameaça aos empregos no país.
Ao anunciar o nome dos dois,
Obama disse que "não há incoerência entre defender o livre comércio e proteger os trabalhadores americanos". Para
ele, "o sucesso das empresas
americanas depende da habilidade de vender produtos no
mundo. É por isso que devemos
nos comprometer com um comércio forte e robusto e de portas abertas a esses produtos".
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