São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / FALTA UM MÊS

Obama completa seu gabinete eclético

"É mais cedo que qualquer presidente na história", gaba-se democrata, ao anunciar nomes de republicano, hispânica e negro

À frente da secretaria de Comércio Exterior estará ex-prefeito que defende livre comércio; pasta deve ficar em segundo plano

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Com um republicano, uma hispânica e um negro, Barack Obama completa as posições principais do gabinete com o qual começará a governar os EUA a partir de 20 de janeiro. A conclusão acontece "mais cedo do que qualquer presidente na história", gabou-se o democrata em entrevista coletiva ontem à tarde em Chicago.
Obama anunciou o deputado republicano Ray LaHood, de Illinois, seu berço político, para o Departamento dos Transportes. A pasta ganha importância inédita sob Obama, que promete o maior investimento do governo no setor desde os anos 50, parte do plano de gerar empregos de forma rápida.
O democrata anunciou ainda Hilda Solis, da Califórnia, para a pasta do Trabalho. Filha de uma nicaragüense com um mexicano, a deputada democrata será a primeira hispânica com origens na América Central a fazer parte de um gabinete presidencial americano. Ontem, ela fez parte de seu agradecimento em espanhol.
Completaram a tarde os nomes de Karen Gordon Mill, empresária do Maine, para dirigir a Administração de Pequenos Negócios, e do democrata Ron Kirk, ex-prefeito de Dallas (Texas), para comandar a secretaria especial de Comércio Exterior (USTR, na sigla em inglês), cargo ocupado hoje por Susan Schwab.

Em segundo plano
A escolha de Kirk, a que mais interessa ao Brasil, não chega sem polêmicas. Seu cargo tem, entre outras atribuições, negociar tratados de livre comércio com outros países e defender as posições dos EUA na Rodada Doha de liberalização comercial, cuja conclusão é uma das prioridades do Itamaraty de Lula. Mas o ex-prefeito de Dallas é o "plano B" de Obama.
A primeira opção era o deputado hispânico Xavier Becerra, protecionista da Califórnia. Depois de discutir com a equipe econômica obamista os termos do trabalho na secretaria especial, Becerra recuou e abriu mão do cargo. Disse a um jornal voltado à comunidade hispânica que fez isso ao sentir que a pasta não seria prioridade para o novo governo.
O histórico de votação do atual Congresso, dominado pelo partido de Obama, sugere isso. Descansam há dois anos no Legislativo acordos com a Colômbia e a Coréia do Sul.
Ontem, analistas ecoavam Becerra. Ao comentar a escolha, o colunista conservador Charles Krauthammer disse que Kirk será "o homem mais desocupado do novo governo. Lerá muitos romances nos próximos quatro anos".
Apesar de ser considerado pró-livre comércio -é defensor, por exemplo, do Nafta, o acordo comercial entre EUA, México e Canadá criticado por alguns obamistas e que o próprio presidente eleito prometeu rever, quando era candidato-, Kirk não tem grande experiência na área. Esta se resume a liderar delegações comerciais quando prefeito de Dallas.
Outro potencial conflito é o fato de a futura secretária do Trabalho, Hilda Solis, ter feito carreira com uma plataforma protecionista e ser ligada ao movimento sindical, que em geral vê nos tratados uma ameaça aos empregos no país.
Ao anunciar o nome dos dois, Obama disse que "não há incoerência entre defender o livre comércio e proteger os trabalhadores americanos". Para ele, "o sucesso das empresas americanas depende da habilidade de vender produtos no mundo. É por isso que devemos nos comprometer com um comércio forte e robusto e de portas abertas a esses produtos".


Próximo Texto: Illinois: Governador se diz inocente e quer seguir no cargo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.