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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Chavistas teriam atacado marcha opositora perto de Caracas; Carter se reúne com Chávez e tenta acordo

Confronto na Venezuela deixa 1 morto

Rodrigo Arangua/France Presse
Paramédicos e civis atendem homem ferido a bala no pescoço durante confronto entre chavistas e oposicionistas perto de Caracas


DA REDAÇÃO

Uma pessoa morreu e ao menos 28 ficaram feridas ontem durante um confronto entre simpatizantes do presidente Hugo Chávez e opositores em Charallave, a cerca de 40 km da capital venezuelana, Caracas.
A violência aumentou a tensão no país, que enfrenta uma greve geral desde o dia 2 de dezembro. A oposição quer, com a paralisação, forçar Chávez a renunciar ou a convocar eleições antecipadas. Seis pessoas já morreram em protestos desde o início da greve.
Segundo o governador do Estado de Miranda, Enrique Mendoza, adversário político de Chávez, os chavistas teriam atacado uma marcha opositora com garrafas e pedras. Um tiroteio teria se iniciado após a intervenção da polícia. Um homem de 29 anos morreu com um tiro no pescoço.
O confronto coincidiu com a visita do ex-presidente americano Jimmy Carter (1977-1981), que iniciou ontem contatos para tentar ajudar na mediação de um acordo entre governo e oposição.
Carter, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em outubro, se encontrou ontem com Chávez e participou da mesa de diálogo patrocinada pela OEA (Organização dos Estados Americanos). A OEA tenta há meses conseguir um acordo, sem sucesso.
O governo venezuelano negou ontem que pretendesse se retirar da mesa de diálogo, como havia ameaçado Chávez na véspera. O chanceler Roy Chaderton, porém, afirmou que para isso é necessário um compromisso dos opositores "contra o golpismo".
Chaderton disse esperar que o Grupo de Amigos da Venezuela, formado na semana passada, pressione a oposição a "se livrar do golpismo". "Esperamos que, com a influência dos países do grupo, a oposição defina sua atitude em relação ao golpismo."
O Grupo de Amigos da Venezuela, formado por Brasil, Chile, EUA, México, Portugal e Espanha, tem como objetivo apoiar a OEA no trabalho de mediação do diálogo no país. O grupo realizará sua primeira reunião na sexta-feira em Washington, na sede da OEA.
O vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel, que participou ontem no final da tarde da mesa de diálogo, representando o governo, disse que há disposição de diálogo "com a oposição democrática".
"Em direção a ela estendemos a mão. Mulheres, homens, profissionais, operários e camponeses que, por diversas razões, não estão de acordo com o governo de Chávez e que não são golpistas nem terroristas", disse Rangel.
O governo acusa diversos líderes da oposição de participar de uma conspiração golpista para derrubar Chávez, cujo mandato termina em janeiro de 2007. Muitos teriam participado da tentativa de golpe que tirou Chávez do cargo por dois dias, em abril.
A oposição acusa Chávez de arruinar a economia venezuelana com suas políticas populistas de esquerda e de tentar impor ao país um regime comunista de inspiração cubana. Chávez, por sua vez, diz ser vítima de um complô, com apoio dos grandes grupos de mídia do país, por ter atacado os privilégios da elite que mandou na Venezuela por décadas.
O governo notificou ontem o canal de TV Globovisión sobre um processo administrativo por estar dedicando sua programação exclusivamente à divulgação da greve geral desde o dia 2 de dezembro. Segundo o governo, o processo não tem por objetivo fechar a TV, mas aplicar multas.
Chávez, que chamou os quatro principais canais de TV do país de "quatro cavaleiros do Apocalipse", os acusa de propiciar "ações golpistas".
Desde o começo da greve geral, as TVs deixaram de lado sua programação habitual para dar cobertura intensiva à paralisação. Além disso, suas publicidades foram substituídas por propagandas da Coordenação Democrática, grupo que reúne partidos e organizações de oposição e que vem organizando os protestos contra Chávez. As propagandas também promovem um referendo sobre o mandato de Chávez, no dia 2 de fevereiro, exigido pela oposição.
A realização do referendo ainda depende do aval da Suprema Corte, que deve se pronunciar sobre sua legalidade nos próximos dias. Chávez argumenta que a Constituição só permite uma consulta a partir de agosto, quando seu mandato chega à metade.

Com agências internacionais


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