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DISPUTA
Conselho busca dividir oposição, afirma especialista
Conservadores iranianos autorizam 200 candidaturas de reformistas
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O Conselho de Guardiães do Irã
anunciou ontem que autorizara
que 200 candidatos a postos no
Parlamento (cuja candidatura tinha sido invalidada pelo órgão)
participassem da eleição legislativa de 20 fevereiro próximo.
Mais de 3.000 candidatos reformistas tiveram sua candidatura
bloqueada pelo Conselho de
Guardiães, que zela pelo respeito
da Constituição no Irã -cujos 12
membros foram apontados por
Ali Khamenei, o líder supremo do
país. A mudança da decisão do
órgão anunciada ontem só atinge,
portanto, uma parcela ínfima dos
casos (pouco mais de 5%).
Os reformistas, que realizam
protesto no Majlis (Parlamento)
há dez dias, ameaçam boicotar o
pleito se o Conselho de Guardiães
não anular todos os vetos, pois
consideram que a decisão do órgão foi "politicamente motivada".
Para os liberais mais radicais, o
futuro do Irã está em jogo, já que
"o confronto entre deputados
eleitos pela população e autoridades apontadas pela cúpula conservadora atingiu seu ápice", como afirmou a deputada Fatemeh
Haqiqatjou, cuja candidatura à
reeleição também foi anulada.
De acordo com Shireen Hunter,
autora de "Iran and the World:
Continuity in a Revolutionary Decade" (Irã e o mundo: continuidade numa década revolucionária),
ainda é cedo para interpretar o
anúncio do Conselho de Guardiães, que prometeu analisar outros casos até o final deste mês.
"Creio que o Conselho de Guardiães queira dividir a oposição.
Assim, devemos esperar até o final de janeiro para ver quantas
candidaturas serão aprovadas pelo órgão. Talvez ele decida permitir que só os líderes do movimento participem da eleição. Mas ele
também pode autorizar que todos
os reformistas, menos seus líderes, se candidatem a cadeiras no
Majlis", explicou Hunter à Folha.
"Enquanto não soubermos qual
é a estratégia dos conservadores,
não poderemos fazer uma verdadeira análise da situação. A ala
conservadora não vai se curvar
aos liberais só por conta do protesto no Parlamento. E a falta de
um apoio popular mais claro mina os esforços dos reformistas."
O presidente do Irã, o liberal
moderado Mohammad Khatami,
saudou o anúncio do Conselho de
Guardiães, porém afirmou que
seus colegas reformistas teriam de
acatar qualquer decisão do órgão.
De acordo com Hunter, sua estratégia de negociar com os conservadores "perdeu sua força".
"Com isso, boa parte dos liberais e a maioria dos estudantes,
que constituem a maior base de
apoio dos reformistas, se afastaram de Khatami", analisou. Cerca
de 60% dos iranianos têm menos
de 30 anos. Os estudantes também prometem boicotar a eleição.
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