São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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DISPUTA

Conselho busca dividir oposição, afirma especialista

Conservadores iranianos autorizam 200 candidaturas de reformistas

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O Conselho de Guardiães do Irã anunciou ontem que autorizara que 200 candidatos a postos no Parlamento (cuja candidatura tinha sido invalidada pelo órgão) participassem da eleição legislativa de 20 fevereiro próximo.
Mais de 3.000 candidatos reformistas tiveram sua candidatura bloqueada pelo Conselho de Guardiães, que zela pelo respeito da Constituição no Irã -cujos 12 membros foram apontados por Ali Khamenei, o líder supremo do país. A mudança da decisão do órgão anunciada ontem só atinge, portanto, uma parcela ínfima dos casos (pouco mais de 5%).
Os reformistas, que realizam protesto no Majlis (Parlamento) há dez dias, ameaçam boicotar o pleito se o Conselho de Guardiães não anular todos os vetos, pois consideram que a decisão do órgão foi "politicamente motivada".
Para os liberais mais radicais, o futuro do Irã está em jogo, já que "o confronto entre deputados eleitos pela população e autoridades apontadas pela cúpula conservadora atingiu seu ápice", como afirmou a deputada Fatemeh Haqiqatjou, cuja candidatura à reeleição também foi anulada.
De acordo com Shireen Hunter, autora de "Iran and the World: Continuity in a Revolutionary Decade" (Irã e o mundo: continuidade numa década revolucionária), ainda é cedo para interpretar o anúncio do Conselho de Guardiães, que prometeu analisar outros casos até o final deste mês.
"Creio que o Conselho de Guardiães queira dividir a oposição. Assim, devemos esperar até o final de janeiro para ver quantas candidaturas serão aprovadas pelo órgão. Talvez ele decida permitir que só os líderes do movimento participem da eleição. Mas ele também pode autorizar que todos os reformistas, menos seus líderes, se candidatem a cadeiras no Majlis", explicou Hunter à Folha.
"Enquanto não soubermos qual é a estratégia dos conservadores, não poderemos fazer uma verdadeira análise da situação. A ala conservadora não vai se curvar aos liberais só por conta do protesto no Parlamento. E a falta de um apoio popular mais claro mina os esforços dos reformistas."
O presidente do Irã, o liberal moderado Mohammad Khatami, saudou o anúncio do Conselho de Guardiães, porém afirmou que seus colegas reformistas teriam de acatar qualquer decisão do órgão. De acordo com Hunter, sua estratégia de negociar com os conservadores "perdeu sua força".
"Com isso, boa parte dos liberais e a maioria dos estudantes, que constituem a maior base de apoio dos reformistas, se afastaram de Khatami", analisou. Cerca de 60% dos iranianos têm menos de 30 anos. Os estudantes também prometem boicotar a eleição.


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