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Fuzis sem munição controlam multidão
DO ENVIADO A PETIT GOAVE (HAITI)
A distribuição de uma carga
de água, ontem, num descampado perto da cidade de Leogane (50 km a oeste de Porto
Príncipe), mostra que a participação dos americanos na operação vai muito além da simples garantia de segurança. Deles depende a maior parte da logística da entrega.
Por volta das 14h de ontem
(17h em Brasília), a Folha presenciou a chegada de um carregamento de água por helicóptero, em seguida descarregado e
transportado para uma camionete por um grupo de cem fuzileiros navais. Aos cerca de 20
soldados da Minustah presentes cabia um papel coadjuvante: o de observar a operação e
dirigir o veículo a um ponto de
distribuição a cerca de dois quilômetros do local.
Os americanos também formavam um cordão separando
do local cerca de 200 haitianos,
que observavam à distancia. Tinham à mostra fuzis M16, com
o detalhe de que estavam descarregados.
"Eles [os haitianos] não sabem, mas as balas estão guardadas. É apenas um efeito moral",
disse o primeiro sargento Timothy Leherke. Aparentemente, funcionava perfeitamente. A
multidão mantinha uma respeitosa distância das armas de
grosso calibre, desarmadas.
De repente, um comandante
do destacamento dos EUA grita: "Preciso de homens atrás da
caçamba daquele veículo!". A
camionete estava atolada. Com
dificuldade, o carro foi recolocado em movimento.
Os americanos chegaram ontem e acamparam no local, um
terreno plano ideal para o pouso de helicópteros. Dizem não
ter ideia de quanto tempo ficarão por ali. Afirmam também
que têm balas de borracha e
bombas de gás lacrimogêneo
para controlar a multidão que
se aglomerava.
"Mas acho que não será preciso. Muitos dos haitianos que
estão aqui sabem que esse carregamento não é para eles. É
para outras regiões mais necessitadas", disse Leherke, um dos
coordenadores da operação.
Os pontos de distribuição foram selecionados pela Minustah. Na região de Leogane,
quem controla as atividades
são soldados do Sri Lanka. O
Brasil cuida da capital.
O vice-comandante da tropa
da ONU, Herath Wasantha,
afirmou que a parceria vai continuar. "Nosso papel é identificar o destino final desse carregamento. Sabemos quais os locais onde ele é mais necessário
e como chegar lá", disse, antes
de dar o sinal para seus homens
darem a partida na camionete.
Segundo ele, as pessoas que
ali estavam observando ao longe não tinham a esperança de
conseguir algum tipo de suprimento. "Mas eles também sabem que daqui a pouco pode
chegar algum outro carregamento de alguma ONG e por isso não vão embora", afirmou.
No momento em que a Folha
visitou o local, chegava o quarto carregamento de água do
dia. A água seguiria para um orfanato perto de Leogane. De
acordo com os americanos, a
prioridade são os pontos de
distribuição da própria ONU e
os hospitais do país.
O oficial de relações públicas
dos fuzileiros navais, Clark
Carpenter, disse que as tropas
americanas ainda estão colhendo informações no país caribenho para, somente depois,
definirem que estratégia irão
adotar no Haiti.
"Precisamos ter uma ideia
melhor de como usar nossa capacidade. Temos homens especializados em situações como
essa, mas temos de reconhecer
o terreno", disse.
(FÁBIO ZANINI)
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