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HAITI EM RUÍNAS
Novo tremor reaviva trauma haitiano
Em Petit Goave, epicentro do sismo secundário de ontem, moradores desabrigados começam a fugir para montanhas
Desde a última semana, foi construída uma segunda cidade com tendas armadas em matagal próximo, onde animais e pessoas convivem
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PETIT GOAVE
(HAITI)
Oito dias após o terremoto
que devastou o Haiti, um novo
tremor, de 6,1 graus na escala
Richter, voltou a levar medo
aos moradores do sul do país.
O epicentro foi a pequena cidade de Petit Goave, a cerca de
60 km de Porto Príncipe. Seus
moradores, já traumatizados
com o tremor da semana passada, tiveram de sair correndo
das tendas em que passaram a
viver. "Foi muito forte. Estava
dormindo e fui sacudido sem
entender direito o que estava
acontecendo", disse Makenson
Astrel, desempregado.
A cidadezinha fica ao final de
uma pequena serra, de acesso
bastante complicado. Várias
pedras rolaram da montanha,
obstruindo metade da pista.
Em vários trechos, o asfalto
rachou, criando pequenos cânions com até um metro de
profundidade. Em outros pontos, foram criados verdadeiros
degraus na pista. Por isso, a viagem, por uma região montanhosa e no meio de plantações
de cana-de-açúcar e bananais,
chega a demorar três horas.
Em Porto Príncipe e em outras cidades da região, o tremor
também foi sentido. No horário, pouco depois das 6h (9h em
Brasília), muitas pessoas dormiam. O repórter sentiu o chão
ondular por cerca de três segundos na base do batalhão
brasileiro. Mas o chacoalhão
não foi suficiente para fazer
pessoas perderem o equilíbrio.
Em Petit Goave, a sensação,
dizem os moradores, foi de solo
movendo-se com maior intensidade. A cidade já está bastante danificada pelo terremoto
anterior, com várias casas desabadas. Mas não se notaram novas ocorrências do tipo, de
acordo com moradores.
"O problema maior é o medo
do que pode acontecer. Os terremotos acontecem praticamente todos os dias", afirma
Peter Kanjay, pai de duas crianças (ambas de 11 anos de idade).
Desde a semana passada, ele está dormindo em uma tenda no
centro da cidade.
Ontem, por volta das 11h30,
enquanto aguardava o conserto
de um pneu furado no acostamento de uma estrada, o repórter da Folha sentiu outro pequeno abalo. Desta vez, mais
leve, com duração de dois segundos no máximo.
Cidade de tendas na mata
Em Petit Goave, os destroços
de casas se espalham pela cidade. Outros moradores mostram
suas casas rachadas. Por medo
de dormir, construíram uma
segunda cidade, com tendas,
num matagal. Cabras, porcos e
moscas se misturam a homens,
mulheres e crianças.
"Vou para a montanha. Agora, é o único lugar em que poderei me sentir segura", afirmou
Marie Adwije. Ela relatou que
já estava acordada quando o
terremoto começou. "Meus
amigos todos saíram às ruas
perguntando o que estava
acontecendo. Alguns choravam. Só relaxei quando percebi
que tinha parado."
Na cidade, funciona uma unidade da Minustah. A região é de
responsabilidade do contingente de Sri Lanka. "Foi um
susto muito grande para todos,
mas aparentemente não houve
danos adicionais ao que já estava destruído. Houve alguns
chamados aqui, mas nada mais
sério", declarou o sentinela do
quartel, que se identificou apenas como soldado Gamage.
Por ordem do governo do
Haiti, alguns helicópteros foram deslocados para a região,
para verificar a necessidade de
reforçar a ajuda humanitária.
Mas até o fechamento desta
edição não havia notícias de novos mortos ou feridos.
De qualquer forma, em Petit
Goave, a imagem do governo
haitiano e das forças de assistência humanitária não é das
melhores. "Só pensam em
quem está nas cidades maiores", disse Chrisner Celestin.
Em cerca de uma hora no local, a Folha não viu patrulhas
da Minustah, trabalho de resgate ou atendimento aos vários
feridos que se acumulam nas
tendas montadas na cidade.
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