São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Novo tremor reaviva trauma haitiano

Em Petit Goave, epicentro do sismo secundário de ontem, moradores desabrigados começam a fugir para montanhas

Desde a última semana, foi construída uma segunda cidade com tendas armadas em matagal próximo, onde animais e pessoas convivem


FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PETIT GOAVE (HAITI)

Oito dias após o terremoto que devastou o Haiti, um novo tremor, de 6,1 graus na escala Richter, voltou a levar medo aos moradores do sul do país.
O epicentro foi a pequena cidade de Petit Goave, a cerca de 60 km de Porto Príncipe. Seus moradores, já traumatizados com o tremor da semana passada, tiveram de sair correndo das tendas em que passaram a viver. "Foi muito forte. Estava dormindo e fui sacudido sem entender direito o que estava acontecendo", disse Makenson Astrel, desempregado.
A cidadezinha fica ao final de uma pequena serra, de acesso bastante complicado. Várias pedras rolaram da montanha, obstruindo metade da pista.
Em vários trechos, o asfalto rachou, criando pequenos cânions com até um metro de profundidade. Em outros pontos, foram criados verdadeiros degraus na pista. Por isso, a viagem, por uma região montanhosa e no meio de plantações de cana-de-açúcar e bananais, chega a demorar três horas.
Em Porto Príncipe e em outras cidades da região, o tremor também foi sentido. No horário, pouco depois das 6h (9h em Brasília), muitas pessoas dormiam. O repórter sentiu o chão ondular por cerca de três segundos na base do batalhão brasileiro. Mas o chacoalhão não foi suficiente para fazer pessoas perderem o equilíbrio.
Em Petit Goave, a sensação, dizem os moradores, foi de solo movendo-se com maior intensidade. A cidade já está bastante danificada pelo terremoto anterior, com várias casas desabadas. Mas não se notaram novas ocorrências do tipo, de acordo com moradores.
"O problema maior é o medo do que pode acontecer. Os terremotos acontecem praticamente todos os dias", afirma Peter Kanjay, pai de duas crianças (ambas de 11 anos de idade). Desde a semana passada, ele está dormindo em uma tenda no centro da cidade.
Ontem, por volta das 11h30, enquanto aguardava o conserto de um pneu furado no acostamento de uma estrada, o repórter da Folha sentiu outro pequeno abalo. Desta vez, mais leve, com duração de dois segundos no máximo.

Cidade de tendas na mata
Em Petit Goave, os destroços de casas se espalham pela cidade. Outros moradores mostram suas casas rachadas. Por medo de dormir, construíram uma segunda cidade, com tendas, num matagal. Cabras, porcos e moscas se misturam a homens, mulheres e crianças.
"Vou para a montanha. Agora, é o único lugar em que poderei me sentir segura", afirmou Marie Adwije. Ela relatou que já estava acordada quando o terremoto começou. "Meus amigos todos saíram às ruas perguntando o que estava acontecendo. Alguns choravam. Só relaxei quando percebi que tinha parado."
Na cidade, funciona uma unidade da Minustah. A região é de responsabilidade do contingente de Sri Lanka. "Foi um susto muito grande para todos, mas aparentemente não houve danos adicionais ao que já estava destruído. Houve alguns chamados aqui, mas nada mais sério", declarou o sentinela do quartel, que se identificou apenas como soldado Gamage.
Por ordem do governo do Haiti, alguns helicópteros foram deslocados para a região, para verificar a necessidade de reforçar a ajuda humanitária. Mas até o fechamento desta edição não havia notícias de novos mortos ou feridos.
De qualquer forma, em Petit Goave, a imagem do governo haitiano e das forças de assistência humanitária não é das melhores. "Só pensam em quem está nas cidades maiores", disse Chrisner Celestin.
Em cerca de uma hora no local, a Folha não viu patrulhas da Minustah, trabalho de resgate ou atendimento aos vários feridos que se acumulam nas tendas montadas na cidade.


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