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Israel lança alerta a planos do Brasil de atuar pela paz
Premiê Netanyahu cobra que Brasília se afaste do Irã e rejeite diálogo com Hamas
Presidente Lula fará visita ao Oriente Médio em março para tentar inserir Itamaraty nas negociações entre os palestinos e os israelenses
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Israel considera "perfeitamente possível" que o Brasil
venha a ter um papel nas negociações com os palestinos, mas
alerta: se quer promover a paz
na região, o governo brasileiro
deve se afastar do Irã e desistir
da ideia de dialogar com o grupo islâmico Hamas.
Para o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, "o Brasil é uma grande potência" e poderia tomar parte
das comissões temáticas sobre
o conflito quando as negociações forem retomadas.
O governo brasileiro tem demonstrado crescente interesse
em participar do processo de
paz da região. O chanceler Celso Amorim revelou recentemente que o Itamaraty está estudando ideias que facilitem as
negociações e que uma iniciativa poderá ser apresentada durante a visita do presidente Lula a Israel e territórios palestinos, no meio de março.
Questionado pela Folha sobre a pretensão brasileira de
ter parte no processo de paz,
durante uma entrevista coletiva em Jerusalém, Netanyahu
primeiro reagiu com humor,
propondo "compartilhar também o território e a água". Após
arrancar gargalhadas dos jornalistas, respondeu:
"Como o Brasil pode ter um
papel aqui? Acho que se conseguirmos relançar as negociações de paz, serão formadas comissões para discutir os vários
problemas, como água, meio
ambiente, energia, refugiados e
muitos outros. Acho perfeitamente possível contemplar um
papel para o Brasil em mais de
um tema desses. Eu estaria disposto a considerar isso".
O diálogo entre Israel e os
palestinos está parado desde
dezembro de 2008, quando começou a ofensiva israelense
contra o Hamas na faixa de Gaza. Ontem à noite, o enviado
dos Estados Unidos para o
Oriente Médio, George Mitchell, desembarcou em Israel
para uma nova tentativa de
destravar o processo, mas as
chances parecem remotas.
Na entrevista de 33 minutos
a representantes da imprensa
estrangeira, Netanyahu dedicou boa parte de seu discurso a
ataques ao Irã. "Bibi", como o
premiê é conhecido em Israel,
também criticou a aproximação do Brasil com o governo
iraniano e a declaração de
Amorim de que não exclui um
diálogo direto com o Hamas.
"O princípio sempre lembrado de que a paz é feita com inimigos é absolutamente verdadeiro. Mas a paz é feita com inimigos que querem deixar de
ser inimigos. Um inimigo que
só quer cortar você em pedaços
e não tem intenção de permitir
que você viva não é um parceiro para a paz. Essa distinção é
crucial", disse Netanyahu.
Fazer escolhas
O premiê israelense acredita
que há um um grande potencial
para o aumento da cooperação
entre Israel e o Brasil em áreas
como tecnologia e meio ambiente. Para ele, contudo, o governo brasileiro precisa fazer
escolhas que estimulem a paz.
"O Hamas e seu padrinho, o
Irã, dizem abertamente que seu
objetivo é nos destruir", disse
Bibi. "Eu sei que as intenções
do Brasil são de paz, mas peço
que [o governo] olhe mais de
perto para essa distinção, que é
vital. Se queremos a paz, precisamos encorajar os que querem
a paz, não aqueles que querem
o contrário da paz."
Preocupado em reforçar a
mensagem, o premiê israelense
fez questão de voltar ao assunto
quando um jornalista francês já
fazia outra pergunta: "Em outras palavras, não negociem
com o Hamas e não convidem
Ahmadinejad. Não é uma boa
ideia para a paz".
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