São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

Fórmula sugerida por Washington não teve apoio local; novo método será traçado sob orientação da ONU

EUA estudam novo modelo para eleição iraquiana

DA REDAÇÃO

Os EUA decidiram engavetar o plano para escolher o governo interino iraquiano por meio de convenções regionais com líderes locais, anunciou ontem o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. "Ele [o plano] não teve muito apoio", afirmou McClellan.
Segundo o jornal "The Washington Post", os EUA devem trabalhar na elaboração de um novo sistema ao lado da ONU e de autoridades iraquianas. O cronograma proposto pelos EUA e aprovado pelo Conselho de Governo Iraquiano prevê a restituição da soberania iraquiana em 30 de junho.
Desde sua proposição, em novembro, o plano foi mal recebido pelos iraquianos, sobretudo pelos xiitas, que exigiam eleições diretas. Nas últimas duas semanas, representantes de Washington já vinham declarando que aceitariam mudanças na proposta, contanto que a data da entrega de poder não fosse alterada.
A decisão foi anunciada um dia depois de o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, declarar que não há tempo para organizar eleições diretas no Iraque até 30 de junho -um endosso da opinião dos EUA, que só prevêem diretas no fim de 2005.
Diante do parecer de Annan, o aiatolá Ali al Sistani, principal líder xiita iraquiano e mais veemente defensor das diretas, deu a entender que aceita o adiamento do pleito desde que os poderes do governo interino sejam limitados. Representantes xiitas no Conselho de Governo Iraquiano já haviam aceitado a postergação sob a condição de terem hegemonia na administração interina.
A declaração de Al Sistani foi feita em uma entrevista por escrito à revista alemã "Der Spiegel". No depoimento, o recluso aiatolá defendeu que o governo interino tenha poder apenas na condução de questões cotidianas.
"Essa instituição não deve poder tomar decisões políticas que afetem o futuro de nosso país. Tais decisões devem ser tomadas apenas por um governo escolhido em eleições livres", afirmou. Indagado sobre até quando as diretas poderiam ser adiadas, ele respondeu: "Não por muito tempo".
Os EUA afirmam que o Iraque só terá condição de promover eleições diretas após promulgar uma nova Constituição -a vigente é anterior à ditadura de Saddam Hussein- e realizar um censo acompanhado de cadastramento eleitoral -o país não possui registros confiáveis.
Segundo o jornal italiano "Corriere della Sera", o diplomata americano Paul Bremer, chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, afirmou que as diretas poderiam acontecer já no início de 2005. Em uma entrevista publicada ontem, ao ser indagado sobre a possibilidade, ele respondeu que "talvez ela exista". "Mas antes precisamos ver quais são as recomendações da ONU", disse.
Até agora, a única recomendação feita pela ONU é de que o prazo de 30 de junho para a devolução da soberania seja respeitado.

Troca na CIA
O jornal "Los Angeles Times" noticiou em sua edição de ontem que o comando da CIA, o serviço de inteligência americano, em Bagdá foi substituído. O motivo, segundo o "Times", foi incompetência.
O trabalho de inteligência americano no Iraque, que já vinha sendo criticado, foi posto em xeque após um inspetor de armas enviado pela Casa Branca afirmar que o país não possui um arsenal de armas de destruição em massa, como acusava Washington. O inspetor, David Kay, atribui as falhas à CIA, que, por sua vez, afirmou nunca ter dito que o Iraque fosse uma ameaça iminente à segurança mundial.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Guerra sem limites: Supremo julgará poderes antiterror de Bush
Próximo Texto: Romeu e Julieta no Iraque: Ex-militar americano revê mulher iraquiana
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.