São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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VENEZUELA

Segundo diplomatas, monitores internacionais poderão abandonar o país ou ser expulsos por causa de pressão de Chávez

Observadores podem deixar Venezuela

DA REDAÇÃO

Observadores internacionais poderão deixar a Venezuela em breve devido aos sucessivos obstáculos que o presidente Hugo Chávez está colocando à realização de um referendo sobre a duração de seu mandato em agosto próximo, segundo disseram fontes diplomáticas ao jornal britânico "Financial Times".
"Os observadores acabarão por deixar o país. A Organização dos Estados Americanos [OEA] e o Centro Carter são instituições respeitáveis e não endossarão inconsistências óbvias e mudanças de regras", disse um embaixador latino-americano ao "FT".
De acordo com o diplomata, que não quis se identificar, os observadores deixarão o país por conta própria ou serão expulsos pelo presidente venezuelano.
A oposição venezuelana reuniu, em dezembro passado, 3,4 milhões de assinaturas pedindo a realização de um referendo no qual a população dirá se é favorável à redução do mandato de Chávez e à antecipação das eleições presidenciais de 2007 para este ano. Para que a consulta seja realizada, são necessárias 2,4 milhões de assinaturas.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) analisa o abaixo-assinado para determinar se ele é válido ou se houve fraudes na coleta de assinaturas. Após adiamento de seu veredicto na semana passada, o CNE anunciou que dará uma resposta até o dia 29 de fevereiro.
Na semana passada, o CNE, formado por cinco membros escolhidos pelo Supremo Tribunal de Justiça, deu indícios de que poderá considerar milhares de assinaturas inválidas devido a impressões digitais irregulares ou problemas no preenchimento dos formulários.
Representantes da OEA e enviados do Centro Carter, liderado pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-81), alertaram o CNE a respeitar o "desejo das pessoas" e a não se prender a tecnicalidades.
Chávez, por sua vez, disse que os representantes da OEA e os enviados do Centro Carter devem aguardar a decisão do CNE.
A oposição teme que o CNE se dobre às pressões de Chávez e considere o abaixo-assinado ilegal, inviabilizando a realização do referendo em agosto, quando o mandato de Chávez, que vai até 2007, passará da metade.
Segundo a oposição, o CNE reteve mais de 50% das assinaturas para uma análise mais detalhada.
Teme-se que, se o CNE descartar o referendo, as hostilidades entre a oposição e o governo resultem em novos conflitos. Diversas pessoas, dos dois lados, já morreram em enfrentamentos em Caracas nos últimos anos.
Em abril de 2002, Chávez chegou a ser deposto por alguns dias, mas, depois, recuperou o poder, com o apoio das Forças Armadas.
Ontem, líderes da oposição pediram ao secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), o colombiano Cesar Gaviria, que viaje rapidamente para Caracas para impedir que Chávez bloqueie o referendo.
Nos últimos dois anos, com o agravamento do conflito político na Venezuela, Gaviria passou vários meses no país tentando mediar uma solução negociada para a crise. Até agora, não houve resultados significativos.
"Dada a seriedade da situação, vamos torcer para que o secretário-geral venha [a Caracas]. Quanto antes, melhor", disse Humberto Calderon, porta-voz da Coordenação Democrática (coalizão de partidos e movimentos contrários a Chávez).
"A OEA não ficará em silêncio diante do que está acontecendo aqui", disse o opositor.
A Venezuela é o 5º maior exportador de petróleo do mundo, mas vive uma intensa crise econômica devido à instabilidade política.
Chávez, coronel da reserva que tentou dar um golpe em 1992 e foi eleito presidente em eleições democráticas em 1998, é popular entre as classes mais baixas da população, mas enfrenta resistência das classes média e alta.


Com Agências Internacionais

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