São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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ARTIGO

Como derrotar o narcoterror

JORGE ALBERTO URIBE E.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Relatos diversos feitos pela Polícia Federal brasileira na Amazônia, desde maio do ano passado, revelam que grupos terroristas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estão recrutando jovens indígenas brasileiros. Os responsáveis pelas investigações desconfiam que esses jovens estejam sendo usados como "mulas" no tráfico de drogas que atravessa a fronteira.
Outros informes revelam a presença de grupos das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), as incorretamente chamadas forças paramilitares, que estariam fazendo incursões no Panamá: "Os paramilitares entraram nas vilas indígenas de Paya e Púcuru, na região panamenha de Darién, onde assassinaram quatro pessoas e provocaram um deslocamento maciço dos moradores, fato insólito na história recente do país".
Enquanto isso, o presidente do Conselho pela Paz do Peru diz que "as Farc estão presentes no Peru não como grupos armados, nem instalando acampamentos, mas enviando instrutores e recrutadores para colaborar nos trabalhos de instrução subversiva".
Esses fatos, entre muitos outros, evidenciam a ameaça que esse grupo narcoterrorista de alcance internacional representa para a fronteira entre nossos países.
Essa presença criminosa no teatro andino não é um fenômeno estático, e sim uma realidade dinâmica. Essas ações criminosas exercem um efeito corrosivo sobre a qualidade de vida dos moradores da região, e por esse motivo não importa se os supostos ideais dos criminosos são de esquerda ou de direita -o resultado é o mesmo.
Recentemente, Colômbia, Peru e Brasil assinaram um histórico acordo multilateral que vai contribuir para desmantelar as redes criminosas que ameaçam a paz e a segurança na região.
Estamos oficializando um convênio que vem sendo discutido nos últimos meses entre os governos dos três países, especificamente entre os ministérios da Defesa dos três, já que estamos convencidos de que, unidos, podemos e devemos fazer frente à grande ameaça do narcotráfico e do narcoterrorismo internacional.
Os três países amazônicos compartilhamos não apenas fronteiras amplas, mas também uma visão comum de segurança, o que é precondição para um desenvolvimento econômico estável na região. Esta é uma oportunidade para nossas populações de derrotar a violência financiada pela produção e pelo tráfico de entorpecentes.
Devemos estabelecer um controle férreo sobre os rios, que são as vias de comunicação mais importantes em nossas fronteiras, para garantir que nossos cidadãos possam empregá-los como rotas de comércio e de liberdade, não como o conduto pelo qual os narcoterroristas traficam drogas, miséria e morte.
Colômbia, Peru e Brasil são países ricos em cultura e biodiversidade, e nossa cooperação com vista à segurança é decisiva. Grupos como as Farc, o ELN (Exército de Libertação Nacional) e as AUC não passam de organizações criminosas internacionais cujo único propósito é o enriquecimento próprio por meio da exploração e da opressão de inocentes, como acontece com os indígenas que residem nesta região do planeta há incontáveis gerações.
Esta é uma demonstração a mais de que o problema do narcotráfico e do terrorismo não é um problema colombiano, e sim um problema da humanidade.
Em conseqüência da eliminação dos santuários de que dispunham os plantadores de coca, assim como da redução maciça das plantações ilícitas, em decorrência de iniciativa do governo colombiano, esses criminosos vão procurar regiões mais distantes, incluindo campos nos países vizinhos.
Além desses problemas, até a data atual mais de 1,8 milhão de hectares de floresta tropical já foram destruídos pelo cultivo e o processamento da coca, devido ao grande número de substâncias químicas altamente tóxicas utilizadas nesses empreendimentos criminosos.
Não podemos permitir que isso continue a acontecer na Colômbia ou em nenhum dos países vizinhos. É por isso que se trabalhou tanto para chegar a esse acordo.
Nós, na Colômbia, conhecemos esses grupos por suas ações de terror e assassinato e não por suas siglas, tais como aparecem nos jornais, e esperamos que nossos vizinhos não tenham de sofrer o mesmo que nós.
Juntos, podemos melhorar as condições de vida na região e derrotar esses grupos criminosos. Divididos, nos convertemos em suas vítimas, e nossas populações, em seus escravos. Com a assinatura do presente acordo, damos um passo a mais em direção à paz e à segurança dos cidadãos de nossos países.


Jorge Alberto Uribe E. é ministro da Defesa da Colômbia.

Tradução de Clara Allain


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