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EUROPA
David Irving, o mais importante negacionista da Europa, agora diz acreditar no genocídio, mas pega 3 anos de prisão
Áustria pune britânico por negar Holocausto
DA REDAÇÃO
O historiador britânico David
Irving, 67, foi condenado na Áustria ontem a três de prisão por negar o Holocausto -um crime
nesse país europeu uma vez ocupado pelos nazistas. Sua defesa
disse que recorrerá da decisão.
Irving, que se declarou culpado,
insistiu, no julgamento, que ele
havia mudado de idéia e agora reconhecia o assassinato de 6 milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
A condenação de David Irving
deve aumentar o debate sobre liberdade de expressão na Europa,
onde foram publicadas charges
do profeta Muhammad que desencadearam violentos protestos
em países islâmicos.
Antes do veredicto, ele admitiu
que havia errado ao afirmar que
não havia câmaras de gás no campo de concentração de Auschwitz
e disse lamentar "por todas as
pessoas inocentes que morreram
na Segunda Guerra".
"A corte não acredita que o réu
tenha genuinamente mudado de
idéia", disse o juiz Peter Liebetreu,
após pronunciar a sentença.
O promotor Michael Klackl
acusou Irving de "falsificador em
série da história" transformado
em mártir pela extrema direita.
Irving disse que estava chocado
com a sentença dada por três juízes e oito jurados. "Considero a
veredicto um pouco severo demais. Diria que se trata um pouco
de um julgamento-mensagem",
disse o advogado do negacionista,
Elmar Kresbach.
Na defesa, ele argumentou que
Irving havia moderado suas posições e que ele não representava
uma ameaça à democracia austríaca, passados mais de 60 anos
desde o fim da Segunda Guerra.
Segundo Kresbach, Irving tem
recebido até 300 cartas de apoio
por semana de simpatizantes do
mundo inteiro. O revisionista está
escrevendo sua versão sobre o caso, com o título provisório de "A
Guerra de Irving" -referência ao
seu livro "A Guerra de Hitler", em
que relativizou as ações nazistas e
duvidou do Holocausto. O réu, algemado, chegou ao tribunal carregando uma cópia desse livro.
A decisão já provocou críticas.
Em editorial publicado hoje, o
diário britânico "The Independent" compara a situação à publicação das charges do profeta Muhammad: "O princípio da liberdade de expressão não pode se
aplicar apenas àqueles com posições com as quais concordamos.
Mas tampouco, como temos visto
com as charges dinamarquesas,
pode ser um escudo atrás do qual
aqueles que, deliberadamente ou
não, ofendem gratuitamente os
outros podem se esconder."
"Apesar disso, todos deveriam
ter o direito de crer no que quiserem e dizerem isso, até o ponto
em que suas palavras não incitem
o ódio, a violência ou o assassinato. Negar o Holocausto, por si só,
não está nessa categoria, embora
errado e repulsivo."
Problemas com a Justiça
Irving estava sob custódia desde
a sua prisão na Áustria, em 11 de
novembro, em razão de duas palestras que havia proferido nesse
país em 1989, nos quais negava o
Holocausto. Ele foi indiciado por
uma lei federal austríaca que criminaliza diminuir, negar ou justificar o Holocausto. A pena máxima é de dez anos de prisão.
O britânico tentou pagar uma
fiança de US$ 24 mil para obter liberdade provisória, mas um tribunal de Viena recusou, sob o argumento de que havia o risco de
ele fugir do país.
Momentos antes do julgamento, Irving disse que considerava
"ridículo" ser processado por comentários feitos há 17 anos.
No passado, Irving chegou a dizer que "não há nenhuma evidência" de que os nazistas empregaram a chamada "Solução Final"
para exterminar a população judaica européia. Autor de quase 30
livros, defendeu ainda que a
maioria dos que morreram em
campos como o de Auschwitz foram vítimas de doenças.
Com agências internacionais
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