São Paulo, terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

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EUROPA

David Irving, o mais importante negacionista da Europa, agora diz acreditar no genocídio, mas pega 3 anos de prisão

Áustria pune britânico por negar Holocausto

DA REDAÇÃO

O historiador britânico David Irving, 67, foi condenado na Áustria ontem a três de prisão por negar o Holocausto -um crime nesse país europeu uma vez ocupado pelos nazistas. Sua defesa disse que recorrerá da decisão.
Irving, que se declarou culpado, insistiu, no julgamento, que ele havia mudado de idéia e agora reconhecia o assassinato de 6 milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
A condenação de David Irving deve aumentar o debate sobre liberdade de expressão na Europa, onde foram publicadas charges do profeta Muhammad que desencadearam violentos protestos em países islâmicos.
Antes do veredicto, ele admitiu que havia errado ao afirmar que não havia câmaras de gás no campo de concentração de Auschwitz e disse lamentar "por todas as pessoas inocentes que morreram na Segunda Guerra".
"A corte não acredita que o réu tenha genuinamente mudado de idéia", disse o juiz Peter Liebetreu, após pronunciar a sentença.
O promotor Michael Klackl acusou Irving de "falsificador em série da história" transformado em mártir pela extrema direita.
Irving disse que estava chocado com a sentença dada por três juízes e oito jurados. "Considero a veredicto um pouco severo demais. Diria que se trata um pouco de um julgamento-mensagem", disse o advogado do negacionista, Elmar Kresbach.
Na defesa, ele argumentou que Irving havia moderado suas posições e que ele não representava uma ameaça à democracia austríaca, passados mais de 60 anos desde o fim da Segunda Guerra.
Segundo Kresbach, Irving tem recebido até 300 cartas de apoio por semana de simpatizantes do mundo inteiro. O revisionista está escrevendo sua versão sobre o caso, com o título provisório de "A Guerra de Irving" -referência ao seu livro "A Guerra de Hitler", em que relativizou as ações nazistas e duvidou do Holocausto. O réu, algemado, chegou ao tribunal carregando uma cópia desse livro.
A decisão já provocou críticas. Em editorial publicado hoje, o diário britânico "The Independent" compara a situação à publicação das charges do profeta Muhammad: "O princípio da liberdade de expressão não pode se aplicar apenas àqueles com posições com as quais concordamos. Mas tampouco, como temos visto com as charges dinamarquesas, pode ser um escudo atrás do qual aqueles que, deliberadamente ou não, ofendem gratuitamente os outros podem se esconder."
"Apesar disso, todos deveriam ter o direito de crer no que quiserem e dizerem isso, até o ponto em que suas palavras não incitem o ódio, a violência ou o assassinato. Negar o Holocausto, por si só, não está nessa categoria, embora errado e repulsivo."

Problemas com a Justiça
Irving estava sob custódia desde a sua prisão na Áustria, em 11 de novembro, em razão de duas palestras que havia proferido nesse país em 1989, nos quais negava o Holocausto. Ele foi indiciado por uma lei federal austríaca que criminaliza diminuir, negar ou justificar o Holocausto. A pena máxima é de dez anos de prisão.
O britânico tentou pagar uma fiança de US$ 24 mil para obter liberdade provisória, mas um tribunal de Viena recusou, sob o argumento de que havia o risco de ele fugir do país.
Momentos antes do julgamento, Irving disse que considerava "ridículo" ser processado por comentários feitos há 17 anos.
No passado, Irving chegou a dizer que "não há nenhuma evidência" de que os nazistas empregaram a chamada "Solução Final" para exterminar a população judaica européia. Autor de quase 30 livros, defendeu ainda que a maioria dos que morreram em campos como o de Auschwitz foram vítimas de doenças.


Com agências internacionais

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