|
Próximo Texto | Índice
TRANSIÇÃO EM CUBA / RELAÇÃO COM OS EUA
Congresso chamará Casa Branca para rever embargo
Iniciativa é de democrata e conta com apoio cada vez maior na bancada opositora
Em questionário de 2003, Obama defendeu o fim da política, que chamou de "isolacionista"; peso da Flórida vai contra mudança
Alejandro Ernesto/Efe
|
|
A frota pré-revolucionária cubana sob cartaz contra a "agressão" americana em Havana; embargo foi resposta a nacionalizações, em 1962
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI (FLÓRIDA)
O Congresso americano deve
chamar funcionários do governo de George W. Bush para explicar a atual política do país
em relação a Cuba. O objetivo
da ação, liderada pelo democrata Howard Berman, da Califórnia, é rever o embargo econômico, financeiro e comercial
imposto pelos Estados Unidos
à ilha desde 1962.
"Queremos ouvir representantes do governo e especialistas de fora para ter a dimensão
do impacto da renúncia de Fidel e para rever a política dos
EUA em relação à ilha", disse
Berman, presidente interino da
Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes. Para ele, a renúncia do
ditador cubano aos cargos no
Executivo da ilha, anuncida anteontem, é "uma excelente
oportunidade para o país injetar criatividade e novas idéias"
nas relações com o vizinho.
Entre os chamados a testemunhar devem estar o secretário do Comércio dos EUA, Carlos Gutiérrez, o único cubano-americano do gabinete de Bush
e ferrenho defensor do embargo, Thomas Shannon, número 1
para a América Latina do Departamento de Estado, e Caleb
McCarry, chefe da Comissão de
Assistência para uma Cuba Livre, criada em 2003, com orçamento de US$ 80 milhões.
Berman não está sozinho.
Anteontem, 104 congressistas
mandaram carta à secretária de
Estado, Condoleezza Rice, pedindo "revisão completa" da
política. Entre os signatários,
está o republicano Jeff Flake,
do Arizona. "Se esse novo capítulo [nas relações bilaterais] vai
ser aberto, depende grandemente de uma nova abordagem
de Cuba pelo governo dos Estados Unidos", disse ele.
No Senado, a corrente começa a ganhar força. "O embargo é
uma das políticas externas
mais ineficazes e de resultados
mais negativos da história",
disse o democrata e ex-pré-candidato à Presidência Chris
Dodd. O fim da medida dependeria de mudanças na atual lei,
que só seriam aprovadas por
maioria, o que os democratas
têm em ambas as Casas.
Por fim, há o lobby do negócio. Empresas de infra-estrutura e turismo e a agroindústria
fazem cada vez mais pressão
política para que seja permitida
a entrada num país de 11 milhões de pessoas que fica a apenas 145 km da Flórida.
Ainda assim, qualquer mudança, se houver, não deve ser
para já. "Não espere um fim do
embargo para esse ano", disse à
Folha Brian Latell, autor de
uma das principais biografias
de Raúl Castro, "After Fidel".
"Pode sair no ano que vem,
dependendo de quem for eleito
presidente e da relação dele ou
dela com o Congresso."
Peso da Flórida
De fato, o assunto é espinhoso por diversos motivos para os
três candidatos na corrida sucessória de Bush. John McCain
ganhou as primárias da Flórida
após importante apoio do governador local, Charlie Crist,
que é a favor do embargo. Nas
eleições de novembro, o Estado
voltará a exercer seu peso eleitoral, alimentado pela comunidade cubano-americana, calculada em 500 mil pessoas.
Já os democratas Barack
Obama e Hillary Clinton ainda
brigam pelos delegados das primárias do Estado -sem efeito
pois realizadas antes da data
determinada pela direção do
partido, apesar de vencidas pela ex-primeira-dama. Uma vitória aqui em novembro pode
ser decisiva, como mostrou a
eleição de Bush em 2000.
Esse foi um dos motivos que
levou os três a se manifestar sobre o assunto. McCain deu
mostras de que seguirá a política de Bush; Hillary ficou mais
ao centro, pedindo que primeiro o governo de Cuba faça mudanças, e Obama foi o mais receptivo a um diálogo.
Obama havia sido mais explícito num questionário que o
então candidato ao senado por
Illinois respondeu em 2003. À
pergunta "você apoia o Ato
Helms-Burton [que endurece
ainda mais o embargo]", respondeu: "Não, essa legislação
só faz de nossos aliados adversários e perpetua nossa política
externa isolacionista".
Próximo Texto: Raúl usa versão de slogan de Obama em Cuba Índice
|