São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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TRANSIÇÃO EM CUBA / RELAÇÃO COM OS EUA

Congresso chamará Casa Branca para rever embargo

Iniciativa é de democrata e conta com apoio cada vez maior na bancada opositora

Em questionário de 2003, Obama defendeu o fim da política, que chamou de "isolacionista"; peso da Flórida vai contra mudança

Alejandro Ernesto/Efe
A frota pré-revolucionária cubana sob cartaz contra a "agressão" americana em Havana; embargo foi resposta a nacionalizações, em 1962

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI (FLÓRIDA)

O Congresso americano deve chamar funcionários do governo de George W. Bush para explicar a atual política do país em relação a Cuba. O objetivo da ação, liderada pelo democrata Howard Berman, da Califórnia, é rever o embargo econômico, financeiro e comercial imposto pelos Estados Unidos à ilha desde 1962.
"Queremos ouvir representantes do governo e especialistas de fora para ter a dimensão do impacto da renúncia de Fidel e para rever a política dos EUA em relação à ilha", disse Berman, presidente interino da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes. Para ele, a renúncia do ditador cubano aos cargos no Executivo da ilha, anuncida anteontem, é "uma excelente oportunidade para o país injetar criatividade e novas idéias" nas relações com o vizinho.
Entre os chamados a testemunhar devem estar o secretário do Comércio dos EUA, Carlos Gutiérrez, o único cubano-americano do gabinete de Bush e ferrenho defensor do embargo, Thomas Shannon, número 1 para a América Latina do Departamento de Estado, e Caleb McCarry, chefe da Comissão de Assistência para uma Cuba Livre, criada em 2003, com orçamento de US$ 80 milhões.
Berman não está sozinho. Anteontem, 104 congressistas mandaram carta à secretária de Estado, Condoleezza Rice, pedindo "revisão completa" da política. Entre os signatários, está o republicano Jeff Flake, do Arizona. "Se esse novo capítulo [nas relações bilaterais] vai ser aberto, depende grandemente de uma nova abordagem de Cuba pelo governo dos Estados Unidos", disse ele.
No Senado, a corrente começa a ganhar força. "O embargo é uma das políticas externas mais ineficazes e de resultados mais negativos da história", disse o democrata e ex-pré-candidato à Presidência Chris Dodd. O fim da medida dependeria de mudanças na atual lei, que só seriam aprovadas por maioria, o que os democratas têm em ambas as Casas.
Por fim, há o lobby do negócio. Empresas de infra-estrutura e turismo e a agroindústria fazem cada vez mais pressão política para que seja permitida a entrada num país de 11 milhões de pessoas que fica a apenas 145 km da Flórida.
Ainda assim, qualquer mudança, se houver, não deve ser para já. "Não espere um fim do embargo para esse ano", disse à Folha Brian Latell, autor de uma das principais biografias de Raúl Castro, "After Fidel".
"Pode sair no ano que vem, dependendo de quem for eleito presidente e da relação dele ou dela com o Congresso."

Peso da Flórida
De fato, o assunto é espinhoso por diversos motivos para os três candidatos na corrida sucessória de Bush. John McCain ganhou as primárias da Flórida após importante apoio do governador local, Charlie Crist, que é a favor do embargo. Nas eleições de novembro, o Estado voltará a exercer seu peso eleitoral, alimentado pela comunidade cubano-americana, calculada em 500 mil pessoas.
Já os democratas Barack Obama e Hillary Clinton ainda brigam pelos delegados das primárias do Estado -sem efeito pois realizadas antes da data determinada pela direção do partido, apesar de vencidas pela ex-primeira-dama. Uma vitória aqui em novembro pode ser decisiva, como mostrou a eleição de Bush em 2000.
Esse foi um dos motivos que levou os três a se manifestar sobre o assunto. McCain deu mostras de que seguirá a política de Bush; Hillary ficou mais ao centro, pedindo que primeiro o governo de Cuba faça mudanças, e Obama foi o mais receptivo a um diálogo.
Obama havia sido mais explícito num questionário que o então candidato ao senado por Illinois respondeu em 2003. À pergunta "você apoia o Ato Helms-Burton [que endurece ainda mais o embargo]", respondeu: "Não, essa legislação só faz de nossos aliados adversários e perpetua nossa política externa isolacionista".


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