São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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Brasil quer dialogar com todos no Oriente Médio

Lula receberia presidente do Irã, diz Celso Amorim

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Atendendo à ambição de transformar o Brasil num protagonista do cenário diplomático, o governo brasileiro continuará buscando um papel mais ativo no Oriente Médio, movido pela convicção de que todas as forças da região deveriam ser incluidas em negociações de paz, incluindo Irã e Síria e os grupos radicais Hamas e Hizbollah.
Foi o que disse o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, em entrevista à Folha, por telefone, momentos antes de embarcar para Buenos Aires, onde participa de reunião preparatória para a segunda Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA). Idealizada pelo presidente Lula, a ASPA 1 aconteceu em Brasília, em maio de 2005.
O Oriente Médio voltou à lista de prioridades do Itamaraty depois que o Brasil participou, a convite da Casa Branca, da Conferência de Annapolis (EUA), em novembro, selando a estréia da diplomacia brasileira nas discussões sobre a paz entre israelenses e palestinos.
Há duas semanas, Amorim fez uma turnê pelo Oriente Médio, num roteiro que incluiu Arábia Saudita, Síria, Jordânia, Cisjordânia e Israel e visava, além da aproximação política, pavimentar o terreno para a próxima visita de Lula à região, no fim deste ano.
Amorim voltou da viagem defendendo a tradição includente da diplomacia brasileira. "Para se chegar à paz, de alguma forma e em algum momento, todas as forças têm que ser envolvidas", disse Amorim, numa referência aos grupos Hizbollah, no Líbano, e Hamas, na faixa de Gaza, ambos misto de partido e milícia, considerados terroristas por boa parte do Ocidente.
O ministro respondeu no mesmo tom quando perguntado sobre o Irã, acusado por EUA e União Européia de desenvolver um arsenal nuclear e cujo presidente, Mahmoud Ahmadinejad, prega a destruição de Israel. "Como influir no comportamento de alguém se você não conversa com essa pessoa?", argumentou Amorim, que disse que a crise deve ser resolvida na AIEA (Agência Internacional de Energência Atômica), não no Conselho de Segurança da ONU.
Impulsionados por um comércio bilateral de US$ 2 bilhões, Brasil e Irã vêm intensificando relações. Em janeiro de 2007, o próprio Lula convidou Ahmadinejad a Brasília, quando se encontrarem em Quito para a posse do presidente equatoriano, Rafael Correa. Meses depois, Lula afirmou, em plena residência oficial de Camp David (EUA), que o Irã "tem problemas com outros países, não com o Brasil".
Mas a diplomacia iraniana estranhou o fato de Amorim não ter incluido Teerã em seu giro pelo Oriente Médio. O Irã também questiona por que não consegue agendar uma visita de Ahmadinejad ao Brasil. Amorim garante que não há problema. "Temos relações normais com o Irã. Se o presidente Ahmadinejad desejar vir ao Brasil, será bem recebido", disse.
Mesmo acompanhando os desafios do Oriente Médio, Amorim admite que o Brasil não pode sonhar em ter um papel concreto na resolução dos conflitos, especialmente entre palestinos e israelenses. "É como no teatro grego. Não somos protagonistas da peça, somos o coro, que chama a atenção para alguns problemas e muitas vezes é ouvido", compara.


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