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Brasil quer dialogar com todos no Oriente Médio
Lula receberia presidente do Irã, diz Celso Amorim
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Atendendo à ambição de
transformar o Brasil num protagonista do cenário diplomático, o governo brasileiro continuará buscando um papel mais
ativo no Oriente Médio, movido pela convicção de que todas
as forças da região deveriam ser
incluidas em negociações de
paz, incluindo Irã e Síria e os
grupos radicais Hamas e Hizbollah.
Foi o que disse o ministro das
Relações Exteriores Celso
Amorim, em entrevista à Folha, por telefone, momentos
antes de embarcar para Buenos
Aires, onde participa de reunião preparatória para a segunda Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA). Idealizada
pelo presidente Lula, a ASPA 1
aconteceu em Brasília, em
maio de 2005.
O Oriente Médio voltou à lista de prioridades do Itamaraty
depois que o Brasil participou,
a convite da Casa Branca, da
Conferência de Annapolis
(EUA), em novembro, selando
a estréia da diplomacia brasileira nas discussões sobre a paz
entre israelenses e palestinos.
Há duas semanas, Amorim
fez uma turnê pelo Oriente Médio, num roteiro que incluiu
Arábia Saudita, Síria, Jordânia,
Cisjordânia e Israel e visava,
além da aproximação política,
pavimentar o terreno para a
próxima visita de Lula à região,
no fim deste ano.
Amorim voltou da viagem
defendendo a tradição includente da diplomacia brasileira.
"Para se chegar à paz, de alguma forma e em algum momento, todas as forças têm que ser
envolvidas", disse Amorim, numa referência aos grupos Hizbollah, no Líbano, e Hamas, na
faixa de Gaza, ambos misto de
partido e milícia, considerados
terroristas por boa parte do
Ocidente.
O ministro respondeu no
mesmo tom quando perguntado sobre o Irã, acusado por
EUA e União Européia de desenvolver um arsenal nuclear e
cujo presidente, Mahmoud Ahmadinejad, prega a destruição
de Israel. "Como influir no
comportamento de alguém se
você não conversa com essa
pessoa?", argumentou Amorim, que disse que a crise deve
ser resolvida na AIEA (Agência
Internacional de Energência
Atômica), não no Conselho de
Segurança da ONU.
Impulsionados por um comércio bilateral de US$ 2 bilhões, Brasil e Irã vêm intensificando relações. Em janeiro de
2007, o próprio Lula convidou
Ahmadinejad a Brasília, quando se encontrarem em Quito
para a posse do presidente
equatoriano, Rafael Correa.
Meses depois, Lula afirmou,
em plena residência oficial de
Camp David (EUA), que o Irã
"tem problemas com outros
países, não com o Brasil".
Mas a diplomacia iraniana
estranhou o fato de Amorim
não ter incluido Teerã em seu
giro pelo Oriente Médio. O Irã
também questiona por que não
consegue agendar uma visita de
Ahmadinejad ao Brasil. Amorim garante que não há problema. "Temos relações normais
com o Irã. Se o presidente Ahmadinejad desejar vir ao Brasil,
será bem recebido", disse.
Mesmo acompanhando os
desafios do Oriente Médio,
Amorim admite que o Brasil
não pode sonhar em ter um papel concreto na resolução dos
conflitos, especialmente entre
palestinos e israelenses. "É como no teatro grego. Não somos
protagonistas da peça, somos o
coro, que chama a atenção para
alguns problemas e muitas vezes é ouvido", compara.
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