São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Netanyahu é escolhido premiê de Israel

Ascensão de linha-dura, que governou entre 1996 e 1999, põe em risco processo de paz com palestinos; direitista tenta atrair Livni

Com o apoio de mais da metade do Parlamento, líder do Likud será primeiro a chefiar governo sem seu partido ter sido mais votado

Gali Tibbon/France Presse
O líder direitista Binyamin Netanyahu chamou Irã de "maior ameaça" à existência de Israel

DA REDAÇÃO

Dez anos depois de deixar pela primeira vez o cargo de premiê de Israel, o líder do partido direitista Likud, Binyamin Netanyahu, foi incumbido ontem pelo presidente Shimon Peres de formar um gabinete, pondo fim à indefinição que sucedeu o apertado resultado das eleições legislativas do último dia 10.
Conforme a tradição pela qual cabe ao presidente designar a pessoa mais indicada para chefiar o governo, Peres entregou a Netanyahu uma carta oficializando o pedido logo após a última rodada de negociações com líderes dos 12 partidos que formarão o Knesset, o Parlamento israelense unicameral.
Netanyahu, que tem agora 42 dias para confirmar o respaldo de pelo menos 61 dos 120 legisladores eleitos, foi escolhido apesar de seu partido não ter sido o mais votado, algo inédito. O pleito, antes previsto para 2010, foi antecipado pela renúncia do premiê Ehud Olmert sob acusações de corrupção.
O Kadima, o partido de centro-direita de Olmert e hoje liderado pela chanceler Tzipi Livni, obteve uma cadeira a mais do que o Likud (28 a 27).
Mas, numa investida à direita, Netanyahu, 59, arrematou nos últimos dias o apoio de mais da metade dos eleitos, aumentando as chances de uma coalizão mais coesa, estável e duradoura no ultrafragmentado cenário político do país.
Foi decisivo o respaldo do partido ultranacionalista Israel Beitenu, terceiro colocado na eleição, com 15 cadeiras, que praticamente garantiu a volta ao poder de Netanyahu -ele foi um premiê linha-dura entre 1996 e 1999.
Em sua primeira declaração como premiê, Netanyahu lançou um apelo de união às duas maiores siglas: o Kadima, cujo bloco de sustentação tradicional somou 55 cadeiras, e o esquerdista Partido Trabalhista, do ministro da Defesa Ehud Barak (dono de 13 dessas 55).
"Convoquei a líder do Kadima, Tzipi Livni, e o líder do Partido Trabalhista, Ehud Barak, e lhes disse: "vamos nos unir para garantir o futuro do Estado de Israel (...) pelo bem do povo e do estado'", disse Netanyahu, que qualificou o Irã como a maior ameaça a Israel "desde a independência", em 1948.
O aceno está direcionado principalmente a Livni, que vinha conduzindo o diálogo de paz com os palestinos -mediado pela Casa Branca- sob o governo de Olmert.
Manter a chanceler no gabinete seria uma forma de dissipar o temor de muitos países, incluindo os EUA, de que as negociações de paz sejam enterradas -Netanyahu é contra o Estado palestino e a devolução dos territórios ocupados por Israel e prega a expansão das colônias na Cisjordânia.
Netanyahu e Livni se reunirão amanhã para discutir uma possível aliança.

Kadima dividido
Até o fechamento desta edição o Kadima parecia dividido sobre a possibilidade de integrar uma coalizão de governo liderada por Netanyahu.
Logo após a nomeação do novo premiê, Livni rejeitou a aliança, alegando que defende, ao contrário do Likud, a solução de dois Estados para pôr fim ao conflito com os palestinos. "Seria uma coalizão que não me permitiria seguir esse caminho [dos dois Estados], que é o que prometemos aos nossos eleitores", disse.
"[Netanyahu] não nos terá. Essa é uma coalizão que vai prejudicar o país", insistiu.
Mas horas depois, Dalia Itzik, uma das principais líderes do Kadima, disse esperar que a sigla integre o novo governo. "Espero que possamos formar um governo amplo, no qual o Kadima seja um líder sério, devido ao seu tamanho e à nossa vontade de ter influência", disse.
A declaração é tida como um apelo à possibilidade de um rodízio no cargo de primeiro-ministro entre Livni e Netanyahu, como aconteceu em 1984 com o Likud e o Partido Trabalhista. O Likud descartou reiteradas vezes essa ideia.

Com agências internacionais


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