São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Aos 85, morre chefe de gabinete de Nixon

General Alexander Haig, timoneiro do governo durante escândalo do Watergate, foi secretário de Estado de Reagan

General atuou na guerra do Vietnã e foi coadjuvante no degelo da relação entre EUA e China; Obama o chamou de "guerreiro-diplomata"


DA REDAÇÃO

Alexander Haig, general que assumiu a chefia de gabinete da Casa Branca durante os cruciais meses do escândalo do Watergate e foi secretário de Estado no governo Ronald Reagan (1981-1989), morreu ontem aos 85 anos.
General quatro estrelas partícipe e formulador da Guerra do Vietnã (1959-1975) e coadjuvante na articulação do degelo das relações EUA-China, o timoneiro do governo americano quando o presidente Richard Nixon estava sob ameaça de impeachment tentou, sem sucesso, ser o candidato republicano à Presidência em 1988.
Anos antes, a biografia de Haig fora marcada justamente pela pressa em, de maneira equivocada, declarar-se comandante em chefe dos EUA horas depois do atentando contra Reagan, em março de 1981.
Então secretário de Estado, declarou: "Estou no controle aqui, na Casa Branca, até o vice-presidente chegar", disse aos repórteres. A passagem não foi esquecida por seus detratores na pré-campanha de 1988 e ele previu que ela apareceria "no terceiro parágrafo de seu obituário", contou Lyn Nofziger, um assessor de Reagan.
De todo modo, o lugar de Haig na história política americana havia sido assinalado quando ele aceitou tornar-se chefe de gabinete de Nixon (equivalente no Brasil a ministro-chefe da Casa Civil), em maio de 1973, com o governo em crise: "Quando seu presidente pede, você cumpre".
É creditado a Haig o fato de o presidente ter sido persuadido a tornar-se o primeiro ocupante da Casa Branca a renunciar em vez de se desgastar mais ainda numa batalha política contra o impeachment.
"O evento teve uma enorme consequência para o país: um fundamental descrédito por esse posto [a Presidência]; um novo ceticismo em relação à política em geral que cada americano sentiu", diria depois sobre o Watergate.
Em 1974, ele se destacou como uma das raras figuras da Casa Branca a não ter implicações na operação de espionagem contra o Partido Democrata que derrubaria Nixon. Foi um dos dos motivos que o fez povoar por anos listas dos possíveis "Garganta Profunda", o informante que municiou os repórteres do "Washington Post" na cobertura do caso.
Em nota, o presidente Barack Obama disse que Haig foi um grande americano, parte da "mais fina tradição de diplomatas-guerreiros do país."

Allende, Nicarágua
A trajetória de Haig do Exército ao alto escalão da política e da diplomacia começou quando tornou-se assistente do secretário de Defesa Robert McNamara (1916-2009). Em 1969, foi escolhido assessor do então futuro secretário de Estado Henry Kissinger no Conselho de Segurança Nacional.
Haig divide com McNamara e Kissinger as glórias e fracassos da diplomacia e dos militares americanos daquela década intensa, da derrota no Vietnã -incluindo o desastrado ataque ao Cambodja em 1970- ao degelo com a China e a União Soviética que encaminhariam o mundo para o pós-Guerra Fria.
Na América Latina, Haig é acusado de ter tomado parte da preparação do golpe contra o presidente chileno Salvador Allende em 1973. Mais tarde, diria que Allende era "um espião da KGB".
Já em seus 17 meses no governo Reagan, foi apontado como mentor das primeiras ações contra as guerrilhas na Guatemala, El Salvador e contra os sandinistas na Nicarágua. Tentou, sem êxito, mediar o conflito pelas ilhas Malvinas (1982).
Haig, filho de um advogado e uma dona de casa, nasceu na Filadélfia. Segundo o hospital Johns Hopkins, em Baltimore, sua morte foi provocada por infecção generalizada. Ele deixa a mulher Patrícia, 60, três filhos e oito netos.

Com "New York Times" e agências internacionais



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