São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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Ditadura líbia alerta para guerra civil

Na TV, filho do coronel Muammar Gaddafi descarta renúncia, mas admite reduzir o papel do governo central

Organização de defesa dos direitos humanos já contabiliza 233 mortes e chama a repressão aos protestos de massacre

Luke MacGregor/Reuters
Manifestantes protestam contra ditador Muammar Gaddafi na embaixada líbia em Londres; imprensa é impedida de trabalhar na Líbia

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Em meio à violência crescente e a indícios de que a segunda cidade do país foi tomada por opositores, o filho do ditador da Líbia ordenou ontem às forças de segurança que restaurem a ordem "a qualquer custo".
Saif el Islam, filho do coronel Muammar Gaddafi, foi à TV após um dia em que o numero de mortos no país, em seis dias de revolta contra o regime, chegou a 233, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
Ele descartou a renúncia do pai, mas admitiu que o Exército se excedeu com os manifestantes e prometeu uma reforma total do regime.
Além de uma nova Constituição, propôs dar autonomia a regiões do país e reduzir o papel do governo central. A alternativa, afirmou, é a guerra civil.
"Faremos um regime completamente diferente ou teremos que nos preparar para o confronto e para rasgar a Líbia em pedaços", disse Saif el Islam, que acusou os manifestantes de ter uma agenda separatista apoiada por grupos estrangeiros.
Logo após o discurso, foram ouvidos intensos tiroteios na capital, Trípoli, onde até então não havia registro de violência.
Durante a noite surgiram relatos de choques entre policiais e manifestantes em vários bairros da capital.
Carros foram queimados e pessoas jogaram pedras nos cartazes do ditador espalhados pela cidade.
O principal foco dos distúrbios durante todo o dia continuou sendo a cidade de Benghazi, a segunda maior do país, situada a 1.000 km a leste de Trípoli
Forças de segurança abriram fogo com armas pesadas contra milhares de pessoas que participavam de um funeral para opositores do regime em Benghazi (leste), em cena descrita por testemunhas como "massacre".
O isolamento da Líbia, onde há raros jornalistas estrangeiros, aumentou desde a sexta-feira passada, quando o regime cortou a internet e dificultou os telefonemas.

ESCALADA
Ainda assim, relatos por telefone a agências de notícias e a grupos de direitos humanos indicam que a coação é a mais violenta desde o início da onda de protestos no mundo árabe, em janeiro, que já derrubou os ditadores da Tunísia e do Egito.
"A Líbia está tentando impor um blecaute de informação, mas não se pode esconder um massacre", disse ontem a Human Rights Watch.
Em conversa com à Associated Press, Jamal Eddin Mohammed, 53, contou que milhares de pessoas acompanharam ontem o cortejo fúnebre em Benghazi que levava os 20 manifestantes mortos na véspera.
Quando passaram no palácio, forças de segurança atiraram contra a multidão.
Moradores dizem que o governo está usando mercenários de países africanos para combater a insurreição.
Um médico de Benghazi relatou ao "Financial Times" que há muitos corpos espalhados pelas ruas da cidade que não podem ser recolhidos devido aos combates.
Segundo ele, não há mais espaço para receber feridos nos hospitais.
Os protestos são o maior desafio até hoje para Gaddafi, golpista no poder há 41 anos. Num sinal de desagregação do regime, o embaixador da Líbia na Liga Árabe, Abdel Elhuni, renunciou ao cargo em protesto contra "a matança de inocentes".


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