São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China admite que usou armas para reprimir protestos

Governo reconhece que manifestações pró-Tibete chegaram a outras Províncias e alega ter atirado em "legítima defesa"

Secretária de Estado dos EUA pede a par chinês para país abrir diálogo com dalai-lama e contornar a crise que já matou pelo menos 16

Teh Eng Koon/France Press
Tibetana ajuda filho a urinar; atrás, tropas chinesas em Sichuan


DA REDAÇÃO

A China admitiu ontem pela primeira vez que os protestos pró-Tibete se espalharam para outras regiões e que soldados atiraram em manifestantes em "legítima defesa".
A agência estatal de notícias Xinhua reportou levantes recentes nas Províncias de Gansu e Sichuan, onde tropas chinesas teriam disparado contra quatro manifestantes no fim de semana passado.
Até então, a Xinhua apenas declarava, sem entrar em detalhes, que a polícia tomava medidas para "manter a ordem social e preservar a segurança das pessoas".
Também ontem, a televisão oficial chinesa transmitiu uma reportagem especial sobre a violência no Tibete, culpando o dalai-lama, líder espiritual tibetano, de estar por trás dos incidentes. O programa de 15 minutos, com claro enfoque na audiência estrangeira, foi exibido pela TV pública CCTV simultaneamente em espanhol, inglês, francês e chinês.
Imagens já divulgadas das manifestações eram intercaladas por comentários de um narrador, que em determinado ponto afirma: "Em resposta aos incidentes, as forças de ordem exerceram contenção máxima. Não usaram armas letais, mesmo com sua vidas em risco".
Para tentar conter o avanço dos protestos no oeste do país -iniciados há mais de dez dias por marchas pacíficas de monges contra o domínio chinês no Tibete- a China reforçou ontem a segurança da região.
Vários comboios militares do Exército foram enviados ao Tibete e Províncias vizinhas para tentar neutralizar as manifestações, que deixaram 16 mortos e 325 feridos, segundo o governo chinês, e ao menos 99 mortos, segundo grupos de oposição e entidades humanitárias.

Repercussão
O uso de violência das forças chinesas contra os manifestantes aumenta a pressão internacional contra a repressão e a favor de uma solução pacífica.
Durante conversa de 20 minutos pelo telefone, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, exortou ontem o colega chinês, Yang Jiechi, a agir com cuidado e a dialogar com o dalai-lama.
Anteontem, o primeiro-ministro da China Wen Jiabao afirmou estar disposto a se reunir com o dalai-lama, se este desistir da independência e da violência. O dalai-lama se ofereceu ontem para viajar a Pequim e negociar a crise.
Na terça, uma delegação do governo chinês foi recebida em sigilo no Vaticano, informou a agência de notícias católica I.Media. Um dia antes, o papa Bento 16 rompeu o silêncio sobre os acontecimentos no Tibete, pedindo "tolerância".
No Nepal, 88 tibetanos foram presos depois de um protesto. Centenas de pessoas fizeram uma manifestação pró-Tibete em frente à embaixada chinesa em Berlim. Já nos EUA, um artefato explosivo foi jogado dentro do consulado chinês em São Francisco, sem deixar feridos.
Dos dias 20 a 24 deste mês, passa por São Paulo e Rio de Janeiro a "tocha dos direitos humanos"-iniciativa de uma ONG que desde 2007 percorre os cinco continentes em campanha contra os Jogos Olímpicos em Pequim.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Premiê iraquiano alerta para eleição nas Províncias
Próximo Texto: Posições moderadas de dalai-lama sofrem resistência interna entre jovens tibetanos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.