São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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Ruralistas retomam protestos na Argentina

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Um mês após o início do diálogo, a relação entre governo e campo voltou nesta semana a se deteriorar na Argentina. Produtores rurais retomaram protestos em estradas e anunciaram ontem locaute de uma semana contra a negativa do governo de baixar impostos sobre exportações de soja.
Duas ações oficiais desencadearam novos protestos. Anteontem, a base governista na Câmara dos Deputados impediu a votação de um projeto da oposição para reduzir tributos sobre o setor rural. Mais tarde, a presidente Cristina Kirchner anunciou divisão com as Províncias de 30% dos impostos sobre a soja, enterrando a possibilidade de baixar alíquotas.
Produtores se concentravam ontem em 68 pontos do interior do país, segundo dados do próprio governo. Na véspera foram 58 mobilizações, em sete Províncias, informou a Federação Agrária. Houve bloqueios totais de rodovias em cidades como Gualeguaychú (Entre Rios) e Armstrong (Santa Fé).
"A presidente nos disse que era democrático ir ao Congresso, depois seu partido não foi debater, uma incongruência", disse Mario Llambías, da Confederações Rurais Argentinas.
"Eles têm uma posição e nós temos outra. Peço que nos respeitem, porque fomos eleitos para governar para todos os argentinos", disse o ministro do Interior, Florencio Randazzo.
Os impostos sobre o complexo soja (grão, farelo e óleo) são fundamentais no caixa do governo, afetado pela crise econômica mundial. Na campanha 2008/09, representam US$ 4,9 bilhões -6% da arrecadação.

Sem venda
Será a segunda interrupção no ano -desta vez, até dia 27- da venda de carne e grãos.
Em fevereiro houve suspensão de quatro dias. Governo e ruralistas mantiveram então reuniões em que acordaram benefícios pontuais, mas sem alterar a base da política agropecuária -impostos e entraves a exportações.
O conflito, agravado pela seca, completa um ano sem solução. Começou quando o governo atrelou os impostos sobre exportações de grãos aos preços internacionais, então em alta recorde. Ruralistas promoveram 3.979 bloqueios de estradas pelo país, houve desabastecimento e a popularidade de Cristina caiu pela metade -hoje acerca os 30%.
A mudança do sistema tributário acabou derrubada no Senado, e os impostos voltaram ao nível anterior -da soja, por exemplo, o governo fica com 35% do que se exporta.
O cenário de retração mundial, com queda de lucros e de 40% nos preços internacionais de grãos, exacerbou a grita.


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