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Religiosos incitaram guerra santa em Gaza
Mas veteranos do confronto narram também preocupações humanitárias na invasão do território palestino em janeiro
Revelações publicadas ontem apontam que cúpula militar citou lição libanesa para justificar uso de grande poder de fogo por segurança
DA REDAÇÃO
Novos relatos de abusos de
israelenses que participaram
da ofensiva de 22 dias sobre a
faixa de Gaza, publicados ontem, revelam que as tropas foram motivadas por rabinos do
Exército a travarem uma
"guerra religiosa". E que o comando determinou uso de
grande poder de fogo em nome
do reforço da segurança dos
soldados.
Mas as declarações divulgadas pelo jornal "Haaretz" narram também episódios de
preocupação humanitária, como a ordem de um comandante
para seus subordinados dobrarem os cobertores que usaram
e limparem a casa onde se instalaram em Gaza, na operação
que teve mais de 1.400 mortos
palestinos e 13 israelenses.
As informações são trechos
da transcrição de um debate,
em 13 de janeiro, de formandos
na Academia Militar de Oranim que lutaram em Gaza.
Elas apontam que o encontro
foi proposto por um diretor da
instituição, Danny Zamir -que
depois se disse "chocado" pelas
narrativas e relatou os abusos a
seus superiores. Após a divulgação de mortes de civis desarmados e vandalismo contra casas de palestinos anteontem, o
governo anunciou a abertura
de uma investigação.
"A discussão é necessária
porque foi uma ação de guerra
excepcional na história militar
de Israel, determinando novos
códigos éticos para o Exército e
para o país como um todo", declarou Zamir antes de passar a
palavra aos combatentes (tratados por pseudônimos).
Ram, um comandante de patrulha, relatou "uma grande diferença" entre as mensagens
das autoridades educacionais e
do rabinato do Exército.
Ele disse que buscava ressaltar que o objetivo era impedir o
lançamento de foguetes contra
Israel e que nem todos os habitante de Gaza eram do Hamas.
Mas a orientação dos religiosos,
disse, era: "Somos o povo judeu,
chegamos a esta terra por milagre. Deus nos trouxe até aqui e
agora precisamos lutar para expulsar os gentios que interferem com nossa conquista desta
terra santa".
O soldado Gilad relatou ter
ouvido dos superiores que eles
"aprenderam a lição" no conflito de 2006 contra o Hizbollah
no Líbano, quando mais de cem
militares israelenses morreram. "A intenção era proteger
as vidas dos soldados com poder de fogo. Nossas baixas [em
Gaza] foram leves. E o preço foi
a morte de muitos palestinos."
Cigarros e café
Já o sargento Yossi contou
que sua patrulha compartilhou
cigarros e café e conversou com
membros de uma família que
confinaram num porão.
Ele declarou que seus companheiros ficaram descontentes ao descobrirem que os interlocutores eram "ativistas
políticos do Hamas". E que
houve gritaria quando, dias
mais tarde, o comandante deu
ordem para deixarem arrumada a casa antes de desocupá-la.
"No fim, me convenci que era
a coisa certa a fazer. Hoje, admiro o comandante pelo que
aconteceu lá. Duvido que qualquer Exército teria lavado o piso da casa de seus inimigos."
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