São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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Religiosos incitaram guerra santa em Gaza

Mas veteranos do confronto narram também preocupações humanitárias na invasão do território palestino em janeiro

Revelações publicadas ontem apontam que cúpula militar citou lição libanesa para justificar uso de grande poder de fogo por segurança


DA REDAÇÃO

Novos relatos de abusos de israelenses que participaram da ofensiva de 22 dias sobre a faixa de Gaza, publicados ontem, revelam que as tropas foram motivadas por rabinos do Exército a travarem uma "guerra religiosa". E que o comando determinou uso de grande poder de fogo em nome do reforço da segurança dos soldados.
Mas as declarações divulgadas pelo jornal "Haaretz" narram também episódios de preocupação humanitária, como a ordem de um comandante para seus subordinados dobrarem os cobertores que usaram e limparem a casa onde se instalaram em Gaza, na operação que teve mais de 1.400 mortos palestinos e 13 israelenses.
As informações são trechos da transcrição de um debate, em 13 de janeiro, de formandos na Academia Militar de Oranim que lutaram em Gaza.
Elas apontam que o encontro foi proposto por um diretor da instituição, Danny Zamir -que depois se disse "chocado" pelas narrativas e relatou os abusos a seus superiores. Após a divulgação de mortes de civis desarmados e vandalismo contra casas de palestinos anteontem, o governo anunciou a abertura de uma investigação.
"A discussão é necessária porque foi uma ação de guerra excepcional na história militar de Israel, determinando novos códigos éticos para o Exército e para o país como um todo", declarou Zamir antes de passar a palavra aos combatentes (tratados por pseudônimos).
Ram, um comandante de patrulha, relatou "uma grande diferença" entre as mensagens das autoridades educacionais e do rabinato do Exército.
Ele disse que buscava ressaltar que o objetivo era impedir o lançamento de foguetes contra Israel e que nem todos os habitante de Gaza eram do Hamas. Mas a orientação dos religiosos, disse, era: "Somos o povo judeu, chegamos a esta terra por milagre. Deus nos trouxe até aqui e agora precisamos lutar para expulsar os gentios que interferem com nossa conquista desta terra santa".
O soldado Gilad relatou ter ouvido dos superiores que eles "aprenderam a lição" no conflito de 2006 contra o Hizbollah no Líbano, quando mais de cem militares israelenses morreram. "A intenção era proteger as vidas dos soldados com poder de fogo. Nossas baixas [em Gaza] foram leves. E o preço foi a morte de muitos palestinos."

Cigarros e café
Já o sargento Yossi contou que sua patrulha compartilhou cigarros e café e conversou com membros de uma família que confinaram num porão.
Ele declarou que seus companheiros ficaram descontentes ao descobrirem que os interlocutores eram "ativistas políticos do Hamas". E que houve gritaria quando, dias mais tarde, o comandante deu ordem para deixarem arrumada a casa antes de desocupá-la.
"No fim, me convenci que era a coisa certa a fazer. Hoje, admiro o comandante pelo que aconteceu lá. Duvido que qualquer Exército teria lavado o piso da casa de seus inimigos."


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