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País não é santuário terrorista, afirma chanceler
DO ENVIADO A SANAA
O Iêmen enfrenta problemas
de segurança que surgem da
pobreza, mas está longe de ter
se tornado um santuário para a
rede terrorista Al Qaeda. O
diagnóstico é do chanceler iemenita, Abu Bakr al Qirbi.
Em entrevista exclusiva à
Folha, concedida em seu gabinete, o ministro acusou o Irã de
apoiar insurgentes xiitas no
norte do Iêmen e disse que Sanaa planeja reabrir uma embaixada no Brasil.
(SA)
FOLHA - Qual a prioridade da agenda externa do Iêmen?
ABU BAKR AL QIRBI
- Nossa prioridade é encontrar maneiras de
enfrentar a raiz de todos os
nossos problemas: o desenvolvimento econômico. Muitos
dos nossos desafios políticos e
de segurança surgem do baixo
crescimento e da grande proporção de iemenitas que vivem
abaixo da linha de pobreza.
Nossos esforços estão direcionados a doadores e amigos do
Iêmen, em especial aos nossos
irmãos do golfo Pérsico, para
que atendam a nossas necessidades e ajudem planos de desenvolvimento em andamento.
FOLHA - Como um país que dispõe
de tantos recursos naturais chegou
a situação econômica tão frágil?
AL QIRBI
- Até agora, os únicos
recursos que foram devidamente explorados são petróleo
e gás. Infelizmente, nossa produção de petróleo diminuiu
40% em sete anos. Esperamos
que isso seja compensado pela
alta nas exportações de gás. O
maior desafio é investir em outras fontes de renda, como pesca e turismo. Mas os investidores se afastaram do Iêmen por
causa dos ataques terroristas
nos últimos três anos. Há também os conflitos internos.
FOLHA - O sr. acredita que há interferência externa nos problemas de
segurança do Iêmen?
AL QIRBI
- Há, nos conflitos internos, elementos de fora que
tentam tirar vantagem da situação. No sul, existem grupos
que foram derrotados em 1994,
quando buscavam se separar
do país, e que agora, refugiados
em vários países, querem voltar
para atentar contra a unidade
iemenita. Há também movimentos na região de Saada que
são ligados a elementos dentro
e fora do Irã que lhes fornecem
apoio financeiro e logístico.
FOLHA - Por que o Iêmen é o país
com mais presos em Guantánamo?
AL QIRBI
- Boa parte do recrutamento de iemenitas na época
da guerra afegã contra a União
Soviética foi orquestrada por
grupos sauditas com apoio dos
EUA. Havia muitos trabalhadores iemenitas na Arábia Saudita, e é lá que eles foram recrutados. Por isso há muitos iemenitas em Guantánamo.
FOLHA - O que responde às acusações de que Sanaa não se esforça o
bastante para libertar os prisioneiros, ao contrário da Arábia Saudita,
que repatriou quase todos os seus
cidadãos na base americana?
AL QIRBI
- Os sauditas construíram vários centros de reabilitação, com enorme infraestrutura, instituições caras que o Iêmen não tem condições de bancar. Também não queremos
nos tornar uma nova prisão para os nossos cidadãos libertados de Guantánamo. Obama
está sob forte pressão de grupos conservadores americanos
que dificultam muito o cumprimento de sua promessa de fechar Guantánamo.
É uma pena, pois Guantánamo manchou a imagem dos
EUA mundo afora e gera dúvidas sobre seu compromisso
com direitos humanos. Os advogados sabem que não há provas concretas contra muitos
detidos. Infelizmente questões
de política interna americana
estão influenciando as decisões
do governo sobre Guantánamo.
FOLHA- O que fará o governo para
melhorar a imagem do Iêmen?
AL QIRBI
- Estamos tomando
ações de segurança e inteligência contra o crescimento do terrorismo, em coordenação com
nossos vizinhos e parceiros da
comunidade internacional.
Buscamos enfrentar a raiz do
problema, que é o desenvolvimento econômico em várias
partes do país. Além disso, fomos o primeiro país a adotar
um programa de reabilitação
de combatentes árabes que voltaram do Afeganistão após a
guerra contra o comunismo. E
estamos fazendo um levantamento das populações em várias áreas do país para verificar
a adesão aos esforços do governo contra o terrorismo.
FOLHA - O Iêmen se tornou santuário de terroristas?
AL QIRBI
- De jeito nenhum. O
Iêmen não tem um número
maior de terroristas do que
muitos países. Os fatos mostram que há mais terrorismo
em outras partes do mundo do
que no Iêmen.
FOLHA - Quem teria interesse em
prejudicar a imagem do Iêmen?
AL QIRBI
- Sempre há agendas
ocultas, não só contra o Iêmen.
É difícil dizer quem está por
trás disso, mas o fato é que alguns relatos não se baseiam em
fatos concretos, e outros exageram as coisas ou tendem a focar
em um só país, mesmo que haja
mais indícios de ausência da lei
e terrorismo em outras partes.
É também um jogo político,
não só de segurança.
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