São Paulo, domingo, 21 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País não é santuário terrorista, afirma chanceler

DO ENVIADO A SANAA

O Iêmen enfrenta problemas de segurança que surgem da pobreza, mas está longe de ter se tornado um santuário para a rede terrorista Al Qaeda. O diagnóstico é do chanceler iemenita, Abu Bakr al Qirbi. Em entrevista exclusiva à Folha, concedida em seu gabinete, o ministro acusou o Irã de apoiar insurgentes xiitas no norte do Iêmen e disse que Sanaa planeja reabrir uma embaixada no Brasil. (SA)

 

FOLHA - Qual a prioridade da agenda externa do Iêmen?
ABU BAKR AL QIRBI
- Nossa prioridade é encontrar maneiras de enfrentar a raiz de todos os nossos problemas: o desenvolvimento econômico. Muitos dos nossos desafios políticos e de segurança surgem do baixo crescimento e da grande proporção de iemenitas que vivem abaixo da linha de pobreza. Nossos esforços estão direcionados a doadores e amigos do Iêmen, em especial aos nossos irmãos do golfo Pérsico, para que atendam a nossas necessidades e ajudem planos de desenvolvimento em andamento.

FOLHA - Como um país que dispõe de tantos recursos naturais chegou a situação econômica tão frágil?
AL QIRBI
- Até agora, os únicos recursos que foram devidamente explorados são petróleo e gás. Infelizmente, nossa produção de petróleo diminuiu 40% em sete anos. Esperamos que isso seja compensado pela alta nas exportações de gás. O maior desafio é investir em outras fontes de renda, como pesca e turismo. Mas os investidores se afastaram do Iêmen por causa dos ataques terroristas nos últimos três anos. Há também os conflitos internos.

FOLHA - O sr. acredita que há interferência externa nos problemas de segurança do Iêmen?
AL QIRBI
- Há, nos conflitos internos, elementos de fora que tentam tirar vantagem da situação. No sul, existem grupos que foram derrotados em 1994, quando buscavam se separar do país, e que agora, refugiados em vários países, querem voltar para atentar contra a unidade iemenita. Há também movimentos na região de Saada que são ligados a elementos dentro e fora do Irã que lhes fornecem apoio financeiro e logístico.

FOLHA - Por que o Iêmen é o país com mais presos em Guantánamo?
AL QIRBI
- Boa parte do recrutamento de iemenitas na época da guerra afegã contra a União Soviética foi orquestrada por grupos sauditas com apoio dos EUA. Havia muitos trabalhadores iemenitas na Arábia Saudita, e é lá que eles foram recrutados. Por isso há muitos iemenitas em Guantánamo.

FOLHA - O que responde às acusações de que Sanaa não se esforça o bastante para libertar os prisioneiros, ao contrário da Arábia Saudita, que repatriou quase todos os seus cidadãos na base americana?
AL QIRBI
- Os sauditas construíram vários centros de reabilitação, com enorme infraestrutura, instituições caras que o Iêmen não tem condições de bancar. Também não queremos nos tornar uma nova prisão para os nossos cidadãos libertados de Guantánamo. Obama está sob forte pressão de grupos conservadores americanos que dificultam muito o cumprimento de sua promessa de fechar Guantánamo. É uma pena, pois Guantánamo manchou a imagem dos EUA mundo afora e gera dúvidas sobre seu compromisso com direitos humanos. Os advogados sabem que não há provas concretas contra muitos detidos. Infelizmente questões de política interna americana estão influenciando as decisões do governo sobre Guantánamo.

FOLHA- O que fará o governo para melhorar a imagem do Iêmen?
AL QIRBI
- Estamos tomando ações de segurança e inteligência contra o crescimento do terrorismo, em coordenação com nossos vizinhos e parceiros da comunidade internacional. Buscamos enfrentar a raiz do problema, que é o desenvolvimento econômico em várias partes do país. Além disso, fomos o primeiro país a adotar um programa de reabilitação de combatentes árabes que voltaram do Afeganistão após a guerra contra o comunismo. E estamos fazendo um levantamento das populações em várias áreas do país para verificar a adesão aos esforços do governo contra o terrorismo.

FOLHA - O Iêmen se tornou santuário de terroristas?
AL QIRBI
- De jeito nenhum. O Iêmen não tem um número maior de terroristas do que muitos países. Os fatos mostram que há mais terrorismo em outras partes do mundo do que no Iêmen.

FOLHA - Quem teria interesse em prejudicar a imagem do Iêmen?
AL QIRBI
- Sempre há agendas ocultas, não só contra o Iêmen. É difícil dizer quem está por trás disso, mas o fato é que alguns relatos não se baseiam em fatos concretos, e outros exageram as coisas ou tendem a focar em um só país, mesmo que haja mais indícios de ausência da lei e terrorismo em outras partes. É também um jogo político, não só de segurança.



Texto Anterior: Iêmen passa de celeiro a base da Al Qaeda
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.