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Inocentado, iemenita passou 5 anos em prisão sob tortura
DO ENVIADO A SANAA
O iemenita Saleh Al Zuba, 60,
garante nunca ter integrado a
rede Al Qaeda. Mas os cinco
anos de torturas e humilhações
na prisão de Guantánamo despertaram nele um ódio dos
EUA que o faz considerar legítimos os ataques da rede terrorista contra alvos americanos.
Os piores momentos, disse al
Zuba em entrevista à Folha
concedida em um hotel de Sanaa, eram as sessões de tortura
psicológica para arrancar informações sobre a Al Qaeda
que ele jurava não ter.
"Impediam-me de dormir
durante dias. Deixavam-me
deitar, mas quando pegava no
sono, sacudiam violentamente
meu corpo. Chegava uma hora
em que enlouquecia."
Al Zuba conta que os interrogadores da CIA tinham técnicas para saber que tortura funcionava melhor com que prisioneiro. Ele mesmo, um muçulmano devoto, era submetido a humilhações como ver o
Corão ser pisoteado ou receber
somente comida à base de porco em seu prato.
Certo dia, relata aquele que
foi o mais velho detido árabe de
Guantánamo, uma jovem americana atraente entrou em sua
cela para conversar sobre amenidades. A moça dizia querer
praticar o seu árabe com Al Zuba, que a achou sincera. Após
alguns encontros, ela começou
a seduzi-lo, aparecendo com
roupas cada vez mais curtas,
até sentar-se seminua em seu
colo. "Graças a Deus aquilo não
teve efeito sobre mim, e ela parou de ir até a minha cela."
Já a tortura física consistia
principalmente em socos e
pontapés, relata Al Zuba, dizendo-se aliviado por ter escapado dos torturadores dos serviços secretos árabes. "Agentes
de Tunísia, Jordânia, Marrocos
e Egito são os mais cruéis do
mundo e fazem muito trabalho
sujo para os americanos."
Preso por engano
O caminho de Al Zuba -casado, pai de três filhos e técnico
em eletricidade- até Guantánamo começou pouco antes do
11 de Setembro, quando diz ter
ido ao Paquistão para ser operado do coração. Mas, segundo
relata, era preciso atravessar a
fronteira e ir ao Afeganistão
buscar o dinheiro para a cirurgia, que seria entregue por "alguém do golfo Pérsico".
Al Zuba admite que a organização de caridade que prometera pagar sua operação era
"provavelmente ligada à Al
Qaeda". Mas o dinheiro nunca
foi entregue. "Eu estava em
Candahar no 11 de Setembro.
Todo mundo ficou preocupado,
fecharam as fronteiras e eu não
pude voltar ao Paquistão."
Ele diz ter sido levado com
outras pessoas idosas ou doentes até um acampamento perto
de Tora Bora, sob os cuidados
de "operários" da Al Qaeda. É lá
que ele se encontrava, "num
frio terrível, quando começaram a cair bombas como chuva". Eram os primeiros bombardeios americanos para retaliar os ataques da Al Qaeda a
Nova York e Washington.
Uma tarde, ao tentar voltar
ao Paquistão, Al Zuba diz ter
pedido ajuda, esgotado, a uma
tribo afegã, que o recebeu de
braços abertos. Mas horas depois, ele foi amarrado e entregue a soldados americanos em
troca de uma recompensa que
ele avalia em US$ 5.000.
Após semanas sendo levado
de uma base a outra, sem saber
onde estava, Al Zuba conta que
só foi ver a paisagem em volta
dele ao chegar em Guantánamo. "Quando tiraram a venda
dos meus olhos, logo vi que não
estava no Oriente Médio."
O iemenita afirma ter feito
amizades em Guantánamo,
apesar do sofrimento geral.
"Companheiros me contaram
que sabiam meses antes do 11
de Setembro que um grande
evento aconteceria, mas eles
não conheciam os detalhes."
Em 2006, uma general americana informou Al Zuba que
ele seria libertado porque um
tribunal militar o inocentara
das suspeitas de ter combatido
nas fileiras da Al Qaeda e de ter
tido acesso direto a Bin Laden.
O preso só acreditou quando o
avião pousou em Sanaa.
De fala e gestos suaves, Al Zuba só se exalta quando fala dos
EUA. "Como um país que prende e tortura até doentes como
eu, sem apresentar uma justificativa legal, ousa dizer que defende os direitos humanos?",
diz o ex-prisioneiro, cujos advogados nos EUA e Iêmen estão exigindo indenização milionária à Casa Branca.
O que pensa da rede de Bin
Laden? "Se as justificativas forem legítimas, eu apoio as suas
ações. Porque se condena a Al
Qaeda, mas se permite o massacre de palestinos?"
(SA)
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