São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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País não sabe lidar com a crise, diz antropólogo

DO ENVIADO A TÓQUIO

O cruzamento de Shibuya voltou ontem ao movimento que lhe deu a fama de esquina mais famosa de Tóquio: toda vez que os quatro semáforos fecham simultaneamente, uma multidão invade o asfalto.
A poucas quadras dali, na região de Harajuku, dezenas de lojinhas de roupas e cafés atraíam o grande público habitual. Mais longe, Akihabara pululava de nerds em busca de produtos eletrônicos.
Nove dias depois do terremoto que entortou até a Torre de Tóquio, marco de 333 metros construído em 1959, a metrópole de 13 milhões de habitantes tentava conviver com ameaças de blecaute, racionamento de luz e temores de contaminação radioativa.
Com a diminuição da produção elétrica após acidente na usina Fukushima 1, a cidade economiza energia para evitar apagões programados. Restaurantes e lojas fecham mais cedo. A Torre de Tóquio está com a iluminação noturna desligada.
"Os japoneses temos um padrão de como reagir a um terremoto, mas não sabemos como lidar com a crise nuclear e o racionamento de energia", diz o antropólogo Koji Sasaki, 30, doutorando da Universidade de Tóquio, a mais importante do país.
Sasaki afirma que os habitantes de Tóquio, acostumados a trens sempre no horário, estão ansiosos com a nova realidade e se sentem ameaçados por perigos como alimentos contaminados por radioatividade, detectada em amostras de espinafre e de leite.
O antropólogo, que viveu dois anos em São Paulo, diz que há ressentimento contra a "reação exagerada" dos estrangeiros que deixaram a cidade na última semana, como a embaixada alemã, transferida para Osaka.
Uma Tóquio mais escura e imprevisível não é necessariamente ruim, argumenta Sasaki. "Muitos de nós teremos de mudar o nosso estilo de vida, e isso não deixa de ser bom."
Ele cita um comentário bem-humorado no Twitter sobre o que vem pela frente: "Trens atrasados e cortes de energia: o nosso estilo de vida agora será italiano". (FM)


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