|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Papa focará na dignidade, diz bispo
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
O bispo brasileiro mais próximo
ao papa Bento 16, d. Karl Josef Romer, teve participação central no
processo que levou à imposição
de silêncio a Leonardo Boff e afirmou, em entrevista à Folha desde
Roma, que uma das tarefas do novo pontífice será "entrar muito
mais concretamente em temas
como a dignidade da criança e a
dignidade da mulher".
Romer, 72, que é desde 2002 secretário (segundo na hierarquia)
do Pontifício Conselho para a Família, uma das "divisões" da Cúria Romana, afirma haver questões reais levantadas pelo feminismo, mas também "problemas artificiais e fictícios".
"A mulher tem uma riqueza
exatamente por não ser como o
homem. Em muitas coisas ela é
mais do que o varão", diz Romer.
"Gritam pelo mundo afora que a
mulher deve ser igual, igual. Não
há nada mais trágico para o homem do que a mulher igual."
O suíço naturalizado brasileiro,
que chegou ao país em 1965, teve
sua trajetória na igreja ligada ao
cardeal Joseph Ratzinger e ao arcebispo emérito do Rio de Janeiro, d. Eugenio de Araújo Sales.
Foi d. Eugênio, ainda cardeal na
Bahia, quem trouxe Romer ao
Brasil, para cuidar do Instituto de
Teologia em Salvador. Mais tarde
os dois se reencontraram no Rio,
quando, no início da década de
70, o arcebispo do Rio fez de Romer bispo-auxiliar e presidente
da Comissão Arquidiocesana de
Doutrina, versão local da Congregação para a Doutrina da Fé, até
agora presidida por Ratzinger.
No início da década de 80, d.
Karl Romer, como presidente da
comissão, envolveu-se no debate
sobre o livro "Igreja, Carisma e
Poder", de Boff, que mais tarde levaria à imposição de silêncio.
Após fazer publicar na revista
da diocese um texto crítico ao livro de Boff, o bispo brasileiro diz
ter aceito uma réplica do então
frade, impresso com uma tréplica
outra vez crítica. Boff mandou
nova resposta, que não foi publicada. Segundo d. Eugenio, teria sido a reclamação feita por Boff a
Roma sobre a crítica a seu texto
que precipitou o processo que finalmente lhe impôs um período
de silêncio. Contrariamente ao
que reconhece ser a opinião geral
sobre o episódio, Romer afirma
que não levou o assunto a Roma.
"Em 1985, o cardeal Ratzinger
publica a notificação a Boff e lhe
impõe um ano em silêncio. Nessa
notificação, diz que a arquidiocese tomou posição e que Leonardo
Boff apelou à Santa Sé contra a arquidiocese", diz o bispo.
A proximidade de Ratzinger e
Romer nos anos 80 se deu também porque o brasileiro se torna o
responsável pela versão brasileira
da revista "Communio", criada
pelo alemão, e os dois passam a
ter contatos mais freqüentes.
Texto Anterior: Casaldáliga conta como Ratzinger o interrogou Próximo Texto: Para Frei Betto, eleição pôs a igreja 'de costas' Índice
|