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Irmã de Cho pede desculpas pela família
"Meu irmão era quieto, mas lutava para ser aceito", diz Sun-kyung em texto no qual descreve a si e aos pais como "desamparados e perdidos'
Na cidade de Centreville, onde viveu o estudante que matou 32 pessoas e depois se suicidou, casa da família sul-coreana continua vazia
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CENTREVILLE E
CHANTILLY (VIRGÍNIA)
Passados quatro dias do massacre no Virginia Tech, a irmã
de seu autor, o estudante Cho
Seung-hui, divulgou um pedido
de desculpas em nome da família no qual diz que o irmão foi
amado por eles e lutava para ser
aceito, mas "fez o mundo chorar". "Estamos profundamente
sentidos pela devastação que
meu irmão causou", começa o
texto de Cho Sun-kyung.
"Palavras não podem expressar nossa tristeza pela perda da
vida de 32 pessoas inocentes
nessa tragédia terrível e sem
sentido." Depois de citar o nome de cada vítima e dizer que a
família rezava por elas, a irmã
de Cho escreve que ela e os pais
se sentem "sem esperança, desamparados e perdidos. [Cho] é
alguém com quem eu cresci e a
quem amava. Agora sinto como
se não conhecesse essa pessoa".
Segundo a irmã do estudante, que presta serviços ao Departamento de Estado dos
EUA, sua família sempre foi
"unida, pacífica e amável."
"Meu irmão era quieto, mas lutava para ser aceito", diz o texto. "Jamais poderíamos prever
que fosse capaz de tanta violência. Estamos vivendo um pesadelo." Para Sun-kyung, "há raiva justificada" contra Cho e
"perguntas sem resposta".
Conclui: "Nossa família continuará a fazer o que puder para
ajudar as autoridades a entender por que esse ato sem sentido ocorreu. Nós mesmos temos
perguntas não respondidas".
Pais sumidos
A casa de dois andares onde
vivem os tintureiros Cho Sung,
61, e Cho Hyang, 56, no 14.713
da Truitt Farm Drive -uma
rua sem saída típica dos bairros
de classe média dos subúrbios
americanos-, em Centreville
(Virgínia), a 40 minutos de
Washington, está vazia desde
terça. Naquela noite, após conversar com o casal, agentes da
polícia federal deixaram o local
com caixas com material recolhido na casa e nos arredores.
Desde então, o casal sumiu.
Segundo a polícia estadual, estão sob proteção do FBI. Quando a reportagem da Folha visitou o local, na manhã de ontem, só uma equipe de TV sul-coreana fazia imagens. Passado
o assédio maior da imprensa,
os vizinhos querem ver passar
a fama involuntária.
Uma delas sai para correr e,
ao ver os jornalistas, desiste. Os
cones vermelhos colocados pela polícia para impedir a entrada de carros de não-moradores
já foram tirados. Cinco casas à
esquerda do sobrado bege onde
Cho passou parte da adolescência e alguns fins de semana
recentes, um morador colocou
uma placa de "vende-se". Ele
sabe que vai perder dinheiro.
Antes do massacre, uma casa
aqui saía por US$ 500 mil
(R$1,01 milhão). Agora, ninguém sabe se alguém vai querer mudar-se para cá. Dispostos a falar logo após o incidente, os vizinhos agora ameaçam
chamar a polícia ou pedem para dar declarações anônimas.
Alguns especulam que os pais
de Cho possam colocar a casa à
venda e voltar à Coréia do Sul.
A dez quarteirões está a Igreja Presbiteriana Sul-Coreana
Young Saeng, freqüentada pelos pais de Cho até recentemente e ponto de encontro de
uma comunidade que chega
aos milhares em Centreville e
nas cidades próximas, como
Chantilly. É ali que fica a Westfield Highschool, onde Cho fez
o segundo grau. Da casa dos
pais até a escola, Cho levava
menos de meia hora a pé.
Na entrada da Westfield,
uma placa lembra duas vítimas
de Cho que estudaram na mesma escola. Alunos chegam para
a aula com a camiseta ou agasalho do Virginia Tech, bordô e
laranja. Três meninas choram
no estacionamento do colégio.
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