São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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Irmã de Cho pede desculpas pela família

"Meu irmão era quieto, mas lutava para ser aceito", diz Sun-kyung em texto no qual descreve a si e aos pais como "desamparados e perdidos'

Na cidade de Centreville, onde viveu o estudante que matou 32 pessoas e depois se suicidou, casa da família sul-coreana continua vazia

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CENTREVILLE E CHANTILLY (VIRGÍNIA)

Passados quatro dias do massacre no Virginia Tech, a irmã de seu autor, o estudante Cho Seung-hui, divulgou um pedido de desculpas em nome da família no qual diz que o irmão foi amado por eles e lutava para ser aceito, mas "fez o mundo chorar". "Estamos profundamente sentidos pela devastação que meu irmão causou", começa o texto de Cho Sun-kyung.
"Palavras não podem expressar nossa tristeza pela perda da vida de 32 pessoas inocentes nessa tragédia terrível e sem sentido." Depois de citar o nome de cada vítima e dizer que a família rezava por elas, a irmã de Cho escreve que ela e os pais se sentem "sem esperança, desamparados e perdidos. [Cho] é alguém com quem eu cresci e a quem amava. Agora sinto como se não conhecesse essa pessoa".
Segundo a irmã do estudante, que presta serviços ao Departamento de Estado dos EUA, sua família sempre foi "unida, pacífica e amável." "Meu irmão era quieto, mas lutava para ser aceito", diz o texto. "Jamais poderíamos prever que fosse capaz de tanta violência. Estamos vivendo um pesadelo." Para Sun-kyung, "há raiva justificada" contra Cho e "perguntas sem resposta".
Conclui: "Nossa família continuará a fazer o que puder para ajudar as autoridades a entender por que esse ato sem sentido ocorreu. Nós mesmos temos perguntas não respondidas".

Pais sumidos
A casa de dois andares onde vivem os tintureiros Cho Sung, 61, e Cho Hyang, 56, no 14.713 da Truitt Farm Drive -uma rua sem saída típica dos bairros de classe média dos subúrbios americanos-, em Centreville (Virgínia), a 40 minutos de Washington, está vazia desde terça. Naquela noite, após conversar com o casal, agentes da polícia federal deixaram o local com caixas com material recolhido na casa e nos arredores.
Desde então, o casal sumiu. Segundo a polícia estadual, estão sob proteção do FBI. Quando a reportagem da Folha visitou o local, na manhã de ontem, só uma equipe de TV sul-coreana fazia imagens. Passado o assédio maior da imprensa, os vizinhos querem ver passar a fama involuntária.
Uma delas sai para correr e, ao ver os jornalistas, desiste. Os cones vermelhos colocados pela polícia para impedir a entrada de carros de não-moradores já foram tirados. Cinco casas à esquerda do sobrado bege onde Cho passou parte da adolescência e alguns fins de semana recentes, um morador colocou uma placa de "vende-se". Ele sabe que vai perder dinheiro.
Antes do massacre, uma casa aqui saía por US$ 500 mil (R$1,01 milhão). Agora, ninguém sabe se alguém vai querer mudar-se para cá. Dispostos a falar logo após o incidente, os vizinhos agora ameaçam chamar a polícia ou pedem para dar declarações anônimas. Alguns especulam que os pais de Cho possam colocar a casa à venda e voltar à Coréia do Sul.
A dez quarteirões está a Igreja Presbiteriana Sul-Coreana Young Saeng, freqüentada pelos pais de Cho até recentemente e ponto de encontro de uma comunidade que chega aos milhares em Centreville e nas cidades próximas, como Chantilly. É ali que fica a Westfield Highschool, onde Cho fez o segundo grau. Da casa dos pais até a escola, Cho levava menos de meia hora a pé.
Na entrada da Westfield, uma placa lembra duas vítimas de Cho que estudaram na mesma escola. Alunos chegam para a aula com a camiseta ou agasalho do Virginia Tech, bordô e laranja. Três meninas choram no estacionamento do colégio.


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