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Kirchner propõe lei que reduz alcance da Justiça Militar
Militares que cometerem crimes comuns serão julgados por tribunais civis; pena de morte sai do Código Militar
Em ano eleitoral, presidente também dá aumento acima da inflação a seis categorias de sindicatos aliados, mas professores ficam de fora
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
A célebre caneta esferográfica do presidente da Argentina,
Néstor Kirchner, traçou nos
dois últimos dias novos cenários tanto na principal bandeira
política do governo -a condenação de repressores da ditadura- quanto no assunto que é
hoje a maior dor de cabeça para
a Casa Rosada, os protestos por
aumentos de salário que levaram à morte de um professor
no início do mês.
Kirchner, que usa a caneta
inventada pelo húngaro naturalizado argentino Ladislao Biro, assinou anteontem um projeto de reforma da Justiça Militar para envio ao Congresso argentino. Faz parte da proposta
o fim dos tribunais especiais
para os militares e das punições
a homossexuais nas Forças Armadas, além da eliminação da
pena de morte do ordenamento
jurídico argentino.
O dispositivo legal que prevê
a pena de morte ainda está vigente no âmbito militar, embora não seja aplicado na prática.
Haveria, porém, o risco de que
ele fosse usado no futuro.
A reforma prevê a derrogação do Código Militar, editado
em 1951, e a introdução de novas regras disciplinares, tendo
como sanções apenas prisões e
multas. Também cria punições
para assédio sexual e para qualquer tipo de discriminação.
O projeto faz parte da política
de direitos humanos do governo Kirchner, que impulsiona a
condenação de ex-repressores
da última ditadura militar argentina (1976-1983). Com a
mudança, no caso de crimes comuns -incluindo os cometidos
durante o regime autoritário-,
os militares deverão ser julgados em tribunais federais ordinários, por juízes civis.
O texto da reforma foi elaborado por uma comissão criada
pelo Ministério da Defesa com
representantes da Justiça, da
sociedade civil, de agências estatais e de entidades internacionais, além de acadêmicos.
Os trabalhos começaram em
fevereiro do ano passado.
Aumento salarial
Em pleno ano eleitoral, o
presidente argentino também
assinou, ontem, acordo para
conceder aumentos de 16,5% a
seis sindicatos profissionais ligados à CGT, central sindical
alinhada ao governo. A inflação
oficial de 2006 foi de 9,8%.
Depois, em clima de campanha, o presidente passeou pela
rua, deu autógrafos, tirou fotos
e distribuiu apertos de mão.
A medida beneficiará 979 mil
trabalhadores. São taxistas, caminhoneiros, zeladores de edifício (que têm um forte sindicato na Argentina), empregados
do setor têxtil e da construção
civil, além de parte do funcionalismo público, sem incluir
professores de escolas públicas.
O anúncio foi feito em meio
ao conflito salarial com os professores, que afeta sobretudo as
Províncias de Neuquén (onde o
professor Carlos Fuentealba,
40, morreu no último dia 5 após
ser atingido por um projétil de
gás lacrimogêneo lançado por
um policial) e de Santa Cruz,
terra natal de Kirchner.
Ontem, o presidente disse
que, no caso dos professores, as
negociações continuam. "Nunca na história melhoraram tanto os salários dos docentes na
Argentina", discursou.
Embora possa sofrer respingos da morte do professor,
Kirchner acabou tirando uma
vantagem política do episódio:
neutralizou um adversário que
tinha aspirações de concorrer à
Presidência em outubro. O governador de Neuquén, Jorge
Sobisch, criticado pela violenta
repressão aos protestos, enfrenta manifestações pedindo
sua renúncia.
Kirchner não decidiu se concorrerá à reeleição ou se apoiará a candidatura da mulher, a
senadora Cristina Kirchner.
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