São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

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Brasil propõe que seja criado ranking da desigualdade étnica

DE GENEBRA

Uma das principais propostas do Brasil na conferência de Genebra é a criação de indicadores internacionais que permitam acompanhar a evolução de cada país na aplicação de políticas contra a discriminação.
A ideia poderia resultar numa espécie de ranking do racismo, disse o ministro da Igualdade Racial, Edson Santos. "Seria bom ter um ranking, uma disputa de quem promove igualdade racial no mundo e mais combate o racismo", afirmou o ministro, que chefia a delegação brasileira.
Ele garante que o Brasil ficaria bem posicionado se o ranking já existisse hoje, pois desde 2001 vem tentando implementar as diretrizes da conferência de Durban e possui indicadores para comprovar a evolução no combate ao racismo.
"Pesquisas mostram a mobilidade da população negra para condições que historicamente não tinha, como acesso à universidade e ao mercado de trabalho", disse, embora não veja "melhora significativa" no perfil da sociedade brasileira.
Santos criticou "determinados segmentos da sociedade", que são contrários a ações afirmativas, como a política de cotas no acesso à universidade. No ano passado, um grupo de intelectuais, sindicalistas e empresários enviou ao Supremo manifesto contra essas cotas.
"A preocupação é de que o Brasil poderia ter conflitos raciais a partir dessa política, mas isso não é verdade. O que gerou conflito racial nos EUA e na África do Sul, que são os principais exemplos, foram políticas de segregação", rebateu.
Questionado se o Brasil estaria pronto para eleger um presidente negro, Santos preferiu não dar uma resposta direta, afirmando que essa não é uma prioridade. Mas reconheceu que ele próprio é uma exceção.
"O Brasil tem metade da população negra, mas no Congresso não somos nem 10%. O ideal seria elevar o nível de conhecimento e educação do povo, pois isso levará a uma representação maior", disse o ministro. "Daí a ter um presidente da República é um passo."
Mas os avanços esbarram na resistência de certos políticos, afirma. Ele deu como exemplo uma frase que ouviu de um senador. "Com esse negócio de cotas qualquer dia vamos ter essa gente do nosso lado", teria dito o senador, cujo nome Santos disse "não lembrar".
Em seu discurso, o ministro fez uma crítica velada à decisão do governo de Barack Obama de boicotar a conferência. "Ausentar-se do processo negociador é render-se à tentação do não diálogo", disse. (MN)


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