|
Próximo Texto | Índice
GUERRA SEM LIMITES
Passageiros deixam de viajar e Bolsas caem diante do medo de novo atentado, causado por série de advertências
EUA vivem onda de alertas de terrorismo
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O FBI, o Congresso e o Departamento da Justiça dos EUA divulgaram novos alertas e previsões
pessimistas sobre ataques terroristas, derrubando as Bolsas e elevando o nível de tensão da população americana oito meses depois dos atentados de setembro.
Os novos alertas foram feitos
menos de uma semana após a população americana descobrir que,
antes de 11 de setembro, o presidente dos EUA, George W. Bush,
fora avisado pela CIA (serviço secreto dos EUA) de que Osama bin
Laden planejava sequestrar aviões
comerciais do país.
Bush não repassou o alerta à população nem tomou medidas de
precaução drásticas por considerar o alerta "pouco específico".
A divulgação da existência do
alerta enfureceu famílias de algumas das cerca de 3.000 vítimas de
11 de setembro, acabou com a
imagem de invencibilidade de
Bush e encorajou a oposição democrata a criticá-lo abertamente,
a seis meses de eleições parlamentares que poderão mudar o controle do Senado e da Câmara.
A Casa Branca resiste em entregar ao Congresso o conteúdo do
aviso feito pela CIA, assim como
relatórios do FBI (a polícia federal
dos EUA) que, embora não tenham chegado às mãos de Bush
antes de 11 de setembro, avisavam
que terroristas da rede de Bin Laden poderiam estar estudando
em escolas de aviação dos EUA.
O episódio dos alertas mudou a
dinâmica das atividades dos parlamentares e autoridades ligadas
aos serviços de inteligência. Uma
das consequências mais visíveis é
que, agora, ninguém mais hesita
em divulgar alertas, sejam eles sólidos ou mera especulação. No
domingo, o vice-presidente dos
EUA, Dick Cheney, disse que um
novo ataque de grandes proporções no país era "quase certo".
Ontem, vários alertas - tão ou
até mais enfáticos- foram divulgados. O diretor do FBI, Robert
Mueller, disse que, como Israel, os
EUA inevitavelmente enfrentarão
ataques de homens-bomba.
"Acho que veremos isso no futuro, acho que é inevitável", afirmou. Segundo ele, o fanatismo de
militantes de grupos terroristas
dificulta a infiltração de agentes e
impede que o FBI os monitore
adequadamente. "Queria poder
ser mais otimista", disse.
No fim de semana, o FBI já alertara sobre um possível plano da
rede Al Qaeda, de Bin Laden, para
detonar bombas em prédios de
apartamentos dos EUA.
No domingo à noite, o FBI divulgou que investigava uma
ameaça ao sistema de fornecimento de água de Orlando, na
Flórida, tendo avisado a população da cidade como medida de
precaução. Orlando abriga os
parques de diversão Walt Disney
World e Universal Studios e atrai
cerca de 50 milhões de turistas
por ano.
O senador democrata Bob Graham (Flórida), presidente do Comitê de Inteligência do Senado,
alertou que grupos extremistas
como Hizbollah (Líbano) e Jihad
Islâmico (Egito) podem estar planejando um ataque aos EUA.
"Nosso inimigo não é apenas a
Al Qaeda", disse Graham, dizendo estar baseado em informações
entregues ao Congresso por serviços de inteligência. "Há muitos
grupos internacionais que têm capacidade, em alguns casos maior
do que a da Al Qaeda, e um desejo
similar de atacar os EUA."
Também ontem, um inquérito
do Departamento da Justiça
apontou fragilidades da fiscalização de fronteiras dos EUA e acusou o INS (Serviço Nacional de
Imigração) de ter cometido "falhas generalizadas" ao conceder
vistos de estudantes a dois dos sequestradores dos aviões usados
em 11 de setembro.
Essa "chuva" de alertas contribuiu para que as Bolsas americanas caíssem. O índice Nasdaq fechou com perdas de 2,28%. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova
York, recuou 1,19%.
No balcão da ponte aérea Nova
York-Washington do aeroporto
Ronald Reagan, em Washington,
funcionários de uma companhia
aérea disseram que vários passageiros cancelaram suas reservas.
"Estamos em pânico. Não temos a mínima idéia de quais alertas são verdadeiros e quais são
cortinas de fumaça para esconder
erros do governo antes de 11 de
setembro", disse à Folha Dean
Bernstein, moradora de Washington que desistiu de viajar.
Próximo Texto: População aprova medidas de Bush antes dos ataques Índice
|