São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Passageiros deixam de viajar e Bolsas caem diante do medo de novo atentado, causado por série de advertências

EUA vivem onda de alertas de terrorismo

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O FBI, o Congresso e o Departamento da Justiça dos EUA divulgaram novos alertas e previsões pessimistas sobre ataques terroristas, derrubando as Bolsas e elevando o nível de tensão da população americana oito meses depois dos atentados de setembro.
Os novos alertas foram feitos menos de uma semana após a população americana descobrir que, antes de 11 de setembro, o presidente dos EUA, George W. Bush, fora avisado pela CIA (serviço secreto dos EUA) de que Osama bin Laden planejava sequestrar aviões comerciais do país.
Bush não repassou o alerta à população nem tomou medidas de precaução drásticas por considerar o alerta "pouco específico".
A divulgação da existência do alerta enfureceu famílias de algumas das cerca de 3.000 vítimas de 11 de setembro, acabou com a imagem de invencibilidade de Bush e encorajou a oposição democrata a criticá-lo abertamente, a seis meses de eleições parlamentares que poderão mudar o controle do Senado e da Câmara.
A Casa Branca resiste em entregar ao Congresso o conteúdo do aviso feito pela CIA, assim como relatórios do FBI (a polícia federal dos EUA) que, embora não tenham chegado às mãos de Bush antes de 11 de setembro, avisavam que terroristas da rede de Bin Laden poderiam estar estudando em escolas de aviação dos EUA.
O episódio dos alertas mudou a dinâmica das atividades dos parlamentares e autoridades ligadas aos serviços de inteligência. Uma das consequências mais visíveis é que, agora, ninguém mais hesita em divulgar alertas, sejam eles sólidos ou mera especulação. No domingo, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, disse que um novo ataque de grandes proporções no país era "quase certo".
Ontem, vários alertas - tão ou até mais enfáticos- foram divulgados. O diretor do FBI, Robert Mueller, disse que, como Israel, os EUA inevitavelmente enfrentarão ataques de homens-bomba.
"Acho que veremos isso no futuro, acho que é inevitável", afirmou. Segundo ele, o fanatismo de militantes de grupos terroristas dificulta a infiltração de agentes e impede que o FBI os monitore adequadamente. "Queria poder ser mais otimista", disse.
No fim de semana, o FBI já alertara sobre um possível plano da rede Al Qaeda, de Bin Laden, para detonar bombas em prédios de apartamentos dos EUA.
No domingo à noite, o FBI divulgou que investigava uma ameaça ao sistema de fornecimento de água de Orlando, na Flórida, tendo avisado a população da cidade como medida de precaução. Orlando abriga os parques de diversão Walt Disney World e Universal Studios e atrai cerca de 50 milhões de turistas por ano.
O senador democrata Bob Graham (Flórida), presidente do Comitê de Inteligência do Senado, alertou que grupos extremistas como Hizbollah (Líbano) e Jihad Islâmico (Egito) podem estar planejando um ataque aos EUA.
"Nosso inimigo não é apenas a Al Qaeda", disse Graham, dizendo estar baseado em informações entregues ao Congresso por serviços de inteligência. "Há muitos grupos internacionais que têm capacidade, em alguns casos maior do que a da Al Qaeda, e um desejo similar de atacar os EUA."
Também ontem, um inquérito do Departamento da Justiça apontou fragilidades da fiscalização de fronteiras dos EUA e acusou o INS (Serviço Nacional de Imigração) de ter cometido "falhas generalizadas" ao conceder vistos de estudantes a dois dos sequestradores dos aviões usados em 11 de setembro.
Essa "chuva" de alertas contribuiu para que as Bolsas americanas caíssem. O índice Nasdaq fechou com perdas de 2,28%. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, recuou 1,19%.
No balcão da ponte aérea Nova York-Washington do aeroporto Ronald Reagan, em Washington, funcionários de uma companhia aérea disseram que vários passageiros cancelaram suas reservas.
"Estamos em pânico. Não temos a mínima idéia de quais alertas são verdadeiros e quais são cortinas de fumaça para esconder erros do governo antes de 11 de setembro", disse à Folha Dean Bernstein, moradora de Washington que desistiu de viajar.



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