São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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Invasões de terras dividem base de Lugo no Paraguai

Partido do vice eleito ataca ações camponesas defendidas por novo mandatário

Brasiguaios donos de fazendas de soja estão entre alvos de sem-terra locais; Lugo apontou "descortesia" em queima de bandeira

Efe - 19.mai.08
Lugo, o presidente eleito do Paraguai, fala a camponeses em San Pedro, seu berço político, onde ocorreram invasões de fazendas

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

As invasões de terra, propriedades de paraguaios e também com donos de origem brasileira, que se intensificaram no Paraguai neste mês, provocaram a primeira divergência pública entre o presidente eleito, o esquerdista Fernando Lugo, e seu vice, Federico Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico, dono da maior bancada governista no próximo Legislativo.
O diretório político dos liberais, presidido por Franco, lançou um enfático documento condenando as ações de grupos camponeses nos departamentos de San Pedro (centro-sul) e Missiones (sul). O texto, de anteontem, que cobrava do atual governo proteção ao "investimento privado", foi destaque dos principais jornais do país.
Em uma manifestação em uma localidade de San Pedro, na semana passada, um dos grupos camponeses queimou uma bandeira do Brasil. Eles reclamam da concentração de terra na área e da contaminação por agrotóxicos.
A região, berço político do presidente eleito, é uma das fronteiras da soja do Paraguai, setor produtivo de forte presença brasileira.
Em visita ao departamento no domingo, Lugo afirmou que as invasões eram "legítimas", como última opção diante da falta de assistência estatal, mas condenou a manifestação contra a bandeira como uma "descortesia" com um povo "solidário" com o Paraguai.
Ainda assim, fez críticas: "Há um setor de multinacionais e empresários brasileiros que, em alguns casos, não respeita a soberania e as leis", disse.
Depois da declaração dos aliados liberais, porém, o presidente eleito não fez comentários. Mas integrantes "luguistas" da coalizão do futuro governo, a Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), criticaram o posicionamento do partido do vice.

Agenda e Brasil
A divergência acontece quando o atual governo, de Nicanor Duarte, que entrega a Presidência em 15 de agosto, ainda ensaia um diálogo com produtores rurais e movimentos camponeses.
A Mesa Coordenadora Nacional de Organizações Camponesas (MCNOC), cujos líderes dizem ter feito 17 invasões na semana passada, afirmou que prefere esperar o novo governo para voltar a negociar. O movimento apóia Lugo.
Um das principais bandeiras de campanha do presidente eleito, a reforma agrária foi perdendo força nos discursos de Lugo antes da eleição, em 20 de abril. Mas a mistura de titulação fundiária precária com a expansão de soja e gado e a ação dos movimentos sociais, além do conflito potencial com brasileiros, mostram que a questão voltou à agenda.
Segundo dados da Inbio, organização paraguaia ligada a produtores agrícolas, a área do plantio de soja se expandiu 8,8% na safra 2007-2008 (2,6 milhões de hectares).
Mesmo com a trégua de 15 dias anunciada anteontem pelo MCNOC, um trabalhador brasileiro foi feito refém por sem-terra que invadiram uma fazenda. A propriedade pertenceria a outro brasileiro, diz a imprensa paraguaia.
A Embaixada do Brasil em Assunção informou ontem que acompanha os episódios e que a orientação é continuar prestando aconselhamento aos produtores brasileiros ou de origem brasileira no Paraguai. Informou também ter sido procurada informalmente por produtores para consultas.

Lei da fronteira
Na estimativa mais recente citada pela Embaixada do Paraguai no Brasil, há 450 mil brasileiros morando no Paraguai, dos quais 150 mil em situação legal. Cerca de metade estaria na zona fronteiriça.
Um dos focos de temor dos "brasiguaios" é justamente a aplicação de uma lei paraguaia aprovada em 2005, segundo a qual brasileiros, bolivianos e argentinos são proibidos de comprar terras em uma faixa de até 50 km da fronteira.
Mas tanto o atual governo paraguaio quanto o futuro e ainda autoridades brasileiras insistem em que a regra não será retroativa e que os brasileiros com terras na área manterão suas propriedades.


Com agências internacionais


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