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Morales baixa decreto contra "separatistas"
Norma prevê apreensão de bens de suspeitos de financiar ações terroristas ou que busquem independência de regiões
Para líderes opositores, meta é intimidar; governo
ordena que jornais e TVs
reservem espaço de opinião
a sindicatos de jornalistas
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio à permanente tensão com empresários de oposição e donos de meios de comunicação na Bolívia, o governo
Evo Morales baixou ontem dois
decretos: o primeiro prevê a
apreensão de bens de acusados
de participar de atos terroristas
ou separatistas; o segundo torna obrigatório que TVs, rádios
e jornais reservem espaços diários para que sindicatos de jornalistas expressem suas opiniões independentemente da
linha editorial dos meios.
As normas foram tornadas
públicas um dia após o presidente boliviano afirmar que "se
algum empresário, algum meio
de comunicação estava dando
dinheiro a separatistas", seus
bens seriam apreendidos.
Ontem, o governo afirmou
que o decreto antisseparatista é
uma resposta à suposta conspiração para matar Morales que o
governo diz ter desbaratado em
abril em Santa Cruz, o rico bastião governado pela oposição.
O suposto complô ainda está
sob investigação, inclusive de
uma comissão parlamentar. Na
ação contra os suspeitos de terrorismo, a polícia mantou três
pessoas, entre elas o croata-húngaro-boliviano Eduardo
Rózsa Flores. Rózsa Flores afirmara, em entrevista só divulgada após sua morte, que lutava
por Santa Cruz e que era financiado por empresários locais.
Para líderes cruzenhos, o objetivo da norma é intimidar a
oposição. Empresários dizem
que colhiam fundos não para
atentados, mas para promover
a autonomia administrativa.
O promotor e o juiz que darão a ordem de apreensão serão
de La Paz. Se o julgamento dos
acusados sentenciá-los culpados, os bens serão expropriados. A sanção já é aplicado em
casos de narcotráfico.
Imprensa e governo
Já pelo decreto que abrange
mídia escrita, TV e rádio, o governo torna obrigatória uma
norma existente desde a década de 70 segundo a qual jornalistas, incluídas representações
sindicais, têm direito a um espaço fixo de opinião diário para
expressar suas opiniões. No caso da TV e rádio, são três minutos em um noticiário diário.
O presidente da Associação
Nacional de Imprensa da Bolívia (ANP, na sigla em espanhol), Marcos Dipp, afirmou à
Folha que não vê maiores problemas na legislação. "Não havia necessidade de novo decreto. Tivemos essa coluna durante muito tempo aqui [no Correo
del Sur, jornal da cidade de Sucre]. A questão é como isso se
dará. Temos uma tremenda limitação de espaço."
Para o jornalista Renán Estenssoro, ex-sindicalista e diretor da Fundação para o Jornalismo, o decreto é retoma uma
conquista que caiu em desuso.
Um problema, diz, será negociar o tempo livre para que jornalistas usem a prerrogativa.
Estenssoro também critica a
"manipulação política" do tema. "O governo usará isso na
confrontação com os meios."
Questionado, o presidente da
ANP evitou polemizar. "Não interpreto dessa maneira."
Dipp citou, no entanto, que a
norma reaparece quando um
tribunal julga uma ação de Morales contra o jornal "La Prensa", de La Paz, por calúnia e difamação, e quando o presidente
cita que a mídia como suspeita
de apoiar o separatismo.
Segundo a lei de imprensa local, o tribunal é formado por
um corpo de notáveis ligados à
comunicação escolhidos por
um juiz local. "Para a ANP,
ações como essa são ferramentas de amedrontamento. Mas é
alentador que o governo recorra ao tribunal, que é a via correta, deixando de lado agressões
públicas constantes."
Morales tem um longo histórico de confrontação com
meios de comunicação, alguns
abertamente opositores como
o canal de TV Unitel. A resposta
do governo foi lançar neste ano
o jornal estatal "Cambio".
Sindicatos de jornalistas
também reclamam dos ataques
do presidente à categoria.
(FLÁVIA MARREIRO)
Com agências internacionais
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