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JUSTIÇA
Suprema Corte determina que condenar à morte prisioneiros que tenham um QI abaixo de 70 é inconstitucional
EUA proíbem execução de deficiente mental
ANDREW BUNCOMBE
DO "THE INDEPENDENT", EM WASHINGTON
A Suprema Corte dos EUA emitiu uma sentença histórica ontem
ao decidir que a execução de deficientes mentais é inconstitucional. Sua sentença terá efeito imediato nos 20 Estados que ainda
condenam à morte prisioneiros
com um QI de menos de 70.
O tribunal aprovou a sentença
por 6 votos a 3. A decisão anula
uma das sentenças prévias da Suprema Corte, de 1989, que dizia
que o estado mental de um prisioneiro condenado não deveria ser
levado em consideração.
Apesar de a decisão não ter efeito direto sobre a execução de prisioneiros que não têm inteligência
abaixo do normal, reflete um
crescente questionamento nos
EUA quanto à justiça do sistema
de pena de morte, em parte por
causa da exoneração recente de
condenados que provaram sua
inocência com testes de DNA.
"Não é tanto o número de Estados que é significativo, mas a consistência da direção da mudança",
afirmou o juiz John Paul Stevens
na sentença da Suprema Corte.
Dos 50 Estados americanos, 38
praticam a pena de morte, mas 18
destes proíbem a execução de
portadores de deficiência mental.
"A prática se tornou incomum,
e é justo dizer que um consenso
nacional se desenvolveu contra
ela", afirmou Stevens. "Esse consenso inquestionavelmente reflete amplas reflexões sobre a culpabilidade relativa de criminosos
mentalmente retardados e a relação entre o retardo mental e os
fins punitivos da pena de morte."
A decisão foi imediatamente recebida como uma vitória por críticos da pena de morte. Richard
Dieter, diretor-executivo do Centro de Informações sobre a Pena
de Morte, afirmou: "Não há dúvida de que há um consenso nacional a respeito dessa questão. Ainda resta a preocupação com muitos outros aspectos da pena de
morte, mas hoje [ontem" suspendemos uma prática que a maioria
dos americanos e do resto do
mundo acha hedionda".
A decisão da Suprema Corte foi
anunciada dentro do processo de
Daryl Atkins, um prisioneiro da
Virgínia condenado por matar
um integrante da Força Aérea dos
EUA em 1996. Os advogados de
Atkins haviam argumentado que
ele tem um QI de 59 e nunca morou sozinho ou teve um emprego.
O Estado contra-argumentou dizendo que Atkins planejou o crime e sabia o que estava fazendo.
A decisão da Suprema Corte, de
que executar Atkins seria uma
"punição cruel e incomum" e,
portanto, violaria seus direitos estabelecidos na Oitava Emenda à
Constituição, terá um efeito de
larga escala nos 20 Estados que até
ontem ainda executavam portadores de deficiência mental.
Analistas dizem que é provável
que centenas de prisioneiros no
corredor da morte passem a dizer
que sofrem de deficiência mental
para evitar a execução.
O presidente da Suprema Corte,
William Rehnquist, e os juízes
Antonin Scalia e Clarence Thomas, os mais conservadores do
tribunal, dissentiram da sentença.
"Acreditando que essa opinião é
seriamente equivocada, eu dissinto", escreveu Rehnquist, omitindo o "respeitosamente" de praxe
antes de "dissinto". Scalia disse:
"Raramente uma opinião desse
tribunal baseou-se tão obviamente em nada além das opiniões pessoais de seus membros."
Segundo críticos da pena de
morte, desde que a Suprema Corte reimplantou a pena de morte
em 1976, 35 dos mais de 775 executados apresentaram "provas de
retardo mental", com um QI de 70 ou menos. O QI médio é cem.
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