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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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EUA

Instituto que tem a mulher do vice-presidente americano como membro acompanhará atividades de cerca de 200 organizações

Grupo próximo a Bush quer fiscalizar ONGs

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Um instituto umbilicalmente ligado ao governo americano nomeou-se fiscal das principais ONGs (organizações não-governamentais) do mundo. A premissa oficial é de que tais entidades ganham cada vez mais poder sem estarem submetidas a qualquer controle de suas atividades.
Quem está à frente do projeto é o AEI (American Enterprise Institute), centro intelectual conservador dos EUA que tem entre seus membros Lynne Cheney, mulher do vice-presidente Dick Cheney, e Richard Perle, influente consultor do Pentágono. O AEI terá ajuda da Federalist Society, associação de advogados.
O NGO Watch, como foi batizado o projeto, deverá elaborar relatórios sobre as atividades de cerca de 200 ONGs, dedicando especial atenção às maiores.
"O objetivo é trazer transparência e prestação de contas às ONGs. É um projeto não-partidário para olhar mais de perto a influência delas em políticas públicas", diz Brian Hook, um dos organizadores do NGO Watch.
Organizações não-governamentais temem, porém, que o objetivo seja usá-lo como forma de pressão sobre suas atividades e opiniões.
O AEI é apontado como o estofo intelectual de boa parte das políticas executadas pela Casa Branca. Foi uma das primeiras instituições a defender que os EUA atacassem o Iraque.
Para lançar o plano, o instituto promoveu na semana passada um evento chamado "Não somos do governo, mas estamos aqui para ajudar; Organizações não-governamentais, o poder crescente de alguns não-eleitos".
Na apresentação do seminário, dizia: "ONGs criaram suas próprias regras e exigem que governos e corporações as aceitem. Recursos de cidadãos e acionistas são usados para apoiar fins que eles não gostariam. O poder extraordinariamente crescente de ONGs advocatórias nas democracias liberais tem potencial para destruir e minar a soberania de democracias constitucionais".
Nos primeiros relatórios que colocou no site do projeto, ainda embrionário, aparecem informações sobre dez organizações, entre elas o Greenpeace, a Human Rights Watch e a CARE International. Traz dados como missão e os nomes dos principais diretores, além de reproduzir o formulário de prestação de contas da entidade.
"Não posso entender essa reação das ONGs. Por que elas não dizem: "Temos que ser mais observadas, publicar nossos salários, indicar nossas fontes de financiamento; isso é o que pedimos de quem criticamos, temos que fazer nós mesmos'", diz Joe Entine, pesquisador do AEI.
Além do comportamento geral das ONGs, Entine critica também suas opiniões em itens como ciência e poluição. "Elas têm noções dos anos 60: "genéricos devem ser temidos", "testes em animais são ruins". São noções ridículas, sem base na ciência. As ONGs se tornaram opostas ao que deveriam ser. Tornaram-se opositoras da reforma", diz.



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