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Iraque ruma ao caos, alerta americano
Documento secreto enviado por embaixador dos EUA em Bagdá a Rice descreve país em colapso e contrasta com otimismo de Bush
Iraquianos citam piora da segurança, retrocesso nos costumes, crescimento de atritos sectários e falta de autoridade do governo local
DA REDAÇÃO
Um memorando confidencial da Embaixada dos EUA em
Bagdá obtido pelo jornal "The
Washington Post" pinta um
quadro sombrio da vida no Iraque, descrito como um país em
colapso e nas mãos de milícias.
Assinado pelo embaixador
Zalmay Khalilzad, o documento foi enviado ao Departamento de Estado, em Washington,
no último dia 6. Seu conteúdo
diverge totalmente das manifestações otimistas recentes
das autoridades iraquianas e do
próprio presidente George W.
Bush sobre a situação do país.
O texto é baseado nas experiências de nove funcionários
iraquianos da embaixada, que
dizem ter suas rotinas afetadas
pela crescente pressão de islâmicos radicais e de milícias.
Uma funcionária foi "aconselhada" por uma mulher desconhecida em seu bairro a usar
um véu e a não dirigir. "Ela disse que alguns grupos estão
pressionando as mulheres a cobrir até mesmo o rosto, coisa
que nem o Irã em seu período
mais conservador adotou", diz
o texto.
Outra diz que mulheres estão
sendo pressionadas a parar de
usar telefones celulares - "supostos canais para relacionamentos libertinos com homens". Ameaças contra mulheres que não aceitam ser tratadas como segunda classe aumentaram nos últimos meses.
Mas a pressão não atinge só
as mulheres. "É perigoso agora
para homens vestir shorts em
público; eles já não deixam as
crianças brincarem nas ruas de
shorts. Pessoas que usam jeans
em público têm sido atacadas."
Os funcionários relatam ainda viver sob o medo de que outros iraquianos, até mesmo
seus familiares, descubram que
eles trabalham para os EUA, e
manifestam desconfiança sobre as forças de segurança.
"Funcionários começaram a
apontar uma mudança no comportamento dos guardas nos
postos de passagem da Zona
Verde [onde fica a embaixada].
Eles pareciam milicianos", diz.
"Uma empregada pediu que
lhe conseguíssemos uma credencial de jornalista porque os
guardas exibiam seu crachá e
proclamavam em voz alta "embaixada" quando ela entrava.
Informações desse tipo são
uma sentença de morte se ouvidas pelas pessoas erradas."
Segurança
O documento evidencia a autoridade limitada dos EUA e do
governo iraquiano em Bagdá.
"Os funcionários relatam que a
segurança e outros serviços estão sendo redirecionados por
"provedores locais" cuja afiliação é vaga. A segurança pessoal
depende de boas relações com
os governos "da vizinhança",
que fazem barricadas nas ruas e
espantam os forasteiros."
Com a temperatura chegando aos 46C, os funcionários
afirmam receber uma hora de
energia elétrica para cada seis
horas sem. A área de Bab al
Mu'atham, no centro de Bagdá,
está sem energia há mais de um
mês. Mas um prédio onde vive
um dos novos ministros começou a receber energia elétrica
durante as 24 horas do dia assim que ele foi designado.
O memorando afirma ainda
que tensões sectárias estão
provocando conflitos dentro
das famílias. A vida fora da Zona Verde é descrita como
"emocionalmente exaustiva".
"O peso da responsabilidade,
o estresse vindo de círculos sociais que cada vez mais desaprovam a presença da coalizão
e as ameaças diárias têm um
enorme peso", relata um funcionário que diz comparecer a
um funeral "todas as noites".
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