São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

Próximo Texto | Índice

Não quero o velho Mercosul, diz Chávez

Presidente afirma que poderá retirar a Venezuela do bloco se os Legislativos da região bloquearem o processo de adesão

Insatisfação de Caracas envolve controvérsia sobre RCTV, mas chega ao Banco do Sul; Chávez critica também governo espanhol

DE CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou que "não está interessado no velho Mercosul" nem está "desesperado" para consolidar o processo de entrada no bloco e ameaçou se retirar dele caso o Senado brasileiro ou o Parlamento de outro país não ratifique a incorporação da Venezuela. Em entrevista à agência de notícias espanhola Efe, Chávez disse que a Venezuela "quer entrar num novo Mercosul", mas que, "se não há vontade de mudança, tampouco estamos muito interessados no velho Mercosul".
Chávez disse que o fim das transmissões da emissora RCTV "não dificultará em nada" a entrada da Venezuela no bloco, mas que as elites do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai "querem utilizá-lo para talvez justificar outras posições, que são muito frágeis". A RCTV está fora do ar desde o final de maio -Chávez não renovou sua concessão sob a justificativa de que participou do frustrado golpe de Estado de abril de 2002.
"Nunca viram com bons olhos nossa incorporação a um novo Mercosul. A direita, as oligarquias sul-americanas não querem a voz da Venezuela, que é a voz dos povos, dos excluídos, a voz que busca um processo de integração novo, em direção à justiça social."
As declarações são uma referência à crise desatada depois que Chávez chamou o Congresso brasileiro de "papagaio de Washington", em resposta a um requerimento do Senado para que o presidente venezuelano revisse o caso da RCTV.
Os senadores dos partidos oposicionistas PSDB e DEM (ex-PFL) prometeram bloquear a entrada na Venezuela no Mercosul na votação do protocolo de adesão desse país como membro pleno do bloco.
Segundo Chávez, caso haja uma negativa à ratificação, "retiramos a solicitação".
A discussão com o Senado não é o único foco de atrito. O presidente venezuelano teve de adiar novamente a oficialização do Banco do Sul -um projeto idealizado por ele- em meio a divergências com o Brasil sobre qual será o perfil da instituição. A cerimônia ocorreria no dia 26, quando começa a Copa América na Venezuela.
Outra divergência com o Brasil é na Organização Mundial do Comércio (OMC). A Venezuela disse ontem que está trabalhando com países em desenvolvimento numa declaração expressando objeções às conversas do chamado G4 (Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia), na Alemanha.
Pela primeira vez desde que formalizou o processo de adesão ao Mercosul, em dezembro de 2005, Chávez não participará de uma cúpula do bloco, no próximo dia 29, no Paraguai. Ele estará na Rússia, a convite do presidente Vladimir Putin.
Na entrevista à Efe, o presidente venezuelano disse que está "montando um sistema de defesa com o que há de melhor no mundo, com Rússia, China e Belarus". A Venezuela está "potencializando o poder aéreo, terrestre e também marítimo e não é de estranhar que compremos uns submarinos", completou.
Ele também considerou uma "falta de respeito" as críticas do chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, ao fim da concessão da RCTV. Chávez atribuiu as declarações a "pressões" da direita espanhola e da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, durante visita a Madri. É a primeira vez que Chávez critica publicamente o governo espanhol, liderado pelo socialista José Luis Rodríguez Zapatero. (FABIANO MAISONNAVE)


Com agências internacionais


Próximo Texto: Saiba mais: Adesão a bloco depende do Congresso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.