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Não quero o velho Mercosul, diz Chávez
Presidente afirma que poderá retirar a Venezuela do bloco se os Legislativos da região bloquearem o processo de adesão
Insatisfação de Caracas envolve controvérsia sobre RCTV, mas chega ao Banco do Sul; Chávez critica também governo espanhol
DE CARACAS
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, afirmou que
"não está interessado no velho
Mercosul" nem está "desesperado" para consolidar o processo de entrada no bloco e ameaçou se retirar dele caso o Senado brasileiro ou o Parlamento
de outro país não ratifique a incorporação da Venezuela. Em
entrevista à agência de notícias
espanhola Efe, Chávez disse
que a Venezuela "quer entrar
num novo Mercosul", mas que,
"se não há vontade de mudança, tampouco estamos muito
interessados no velho Mercosul".
Chávez disse que o fim das
transmissões da emissora
RCTV "não dificultará em nada" a entrada da Venezuela no
bloco, mas que as elites do Brasil, da Argentina, do Paraguai e
do Uruguai "querem utilizá-lo
para talvez justificar outras posições, que são muito frágeis".
A RCTV está fora do ar desde o
final de maio -Chávez não renovou sua concessão sob a justificativa de que participou do
frustrado golpe de Estado de
abril de 2002.
"Nunca viram com bons
olhos nossa incorporação a um
novo Mercosul. A direita, as oligarquias sul-americanas não
querem a voz da Venezuela,
que é a voz dos povos, dos excluídos, a voz que busca um
processo de integração novo,
em direção à justiça social."
As declarações são uma referência à crise desatada depois
que Chávez chamou o Congresso brasileiro de "papagaio de
Washington", em resposta a
um requerimento do Senado
para que o presidente venezuelano revisse o caso da RCTV.
Os senadores dos partidos
oposicionistas PSDB e DEM
(ex-PFL) prometeram bloquear a entrada na Venezuela
no Mercosul na votação do protocolo de adesão desse país como membro pleno do bloco.
Segundo Chávez, caso haja
uma negativa à ratificação, "retiramos a solicitação".
A discussão com o Senado
não é o único foco de atrito. O
presidente venezuelano teve de
adiar novamente a oficialização
do Banco do Sul -um projeto
idealizado por ele- em meio a
divergências com o Brasil sobre
qual será o perfil da instituição.
A cerimônia ocorreria no dia
26, quando começa a Copa
América na Venezuela.
Outra divergência com o Brasil é na Organização Mundial
do Comércio (OMC). A Venezuela disse ontem que está trabalhando com países em desenvolvimento numa declaração expressando objeções às
conversas do chamado G4 (Estados Unidos, União Européia,
Brasil e Índia), na Alemanha.
Pela primeira vez desde que
formalizou o processo de adesão ao Mercosul, em dezembro
de 2005, Chávez não participará de uma cúpula do bloco, no
próximo dia 29, no Paraguai.
Ele estará na Rússia, a convite
do presidente Vladimir Putin.
Na entrevista à Efe, o presidente venezuelano disse que
está "montando um sistema de
defesa com o que há de melhor
no mundo, com Rússia, China e
Belarus". A Venezuela está "potencializando o poder aéreo,
terrestre e também marítimo e
não é de estranhar que compremos uns submarinos", completou.
Ele também considerou uma
"falta de respeito" as críticas do
chanceler espanhol, Miguel
Ángel Moratinos, ao fim da
concessão da RCTV. Chávez
atribuiu as declarações a "pressões" da direita espanhola e da
secretária de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, durante visita a Madri. É a primeira vez
que Chávez critica publicamente o governo espanhol, liderado pelo socialista José Luis
Rodríguez Zapatero.
(FABIANO MAISONNAVE)
Com agências internacionais
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