São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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Posto de fronteira é um cenário de desespero

MICHEL BÔLE-RICHARD
DO "MONDE", EM GAZA

O lugar foi apelidado de "o corredor da morte". É um corredor de cerca de um quilômetro de extensão entre o terminal israelense de Eretz e o posto de fronteira palestino de Gaza. Desse último, não resta mais nada. Máquinas de terraplanagem do Exército israelense o destruíram completamente. Quanto à passagem interminável, desde 15 de junho ela foi entregue à fúria de saqueadores que desmontam e demolem a estrutura inteira -chapas metálicas, painéis e tubos de aço são carregados sobre carroças puxadas por burros, em direção a um destino novo. De repente chegam os tanques israelenses, desencadeando o pânico. Os Merkavas giram em todos os sentidos, apontando seus canhões ameaçadores. Tiros são disparados, não se sabe de onde. A incursão tem por objetivo interromper a pilhagem e parar o fluxo de candidatos ao exílio.
De fato, 200 a 300 palestinos aguardam em condições precárias, na extremidade do que resta do corredor, para poder fugir para Israel. São os náufragos da tomada do poder pelo Hamas em Gaza. A maioria deles está ali há seis dias, na esperança de que se abra finalmente a enorme grade.
"Não vou fazer meia-volta, nunca. Quero morrer aqui. Se eu voltar, serei liquidado", explica Wassim, 35 anos, antigo membro da guarda presidencial do presidente Mahmoud Abbas. A maioria dos que estão aqui teme por suas vidas. Eles sabem que, a dois quilômetros daqui, uma multidão de islâmicos pode levá-los e que eles correm o risco de não sobreviver. Apesar de um dos guardas do Hamas afirmar que há uma anistia geral, eles não têm nenhuma confiança nisso. "Diga a eles", insiste um barbudo com o capuz empurrado para cima na cabeça, "que eles não têm nada a temer e que só queremos que eles não virem colaboradores do inimigo sionista".
Se Wassim afirma não ter matado ninguém, não é esse o caso de Zahar, que reconhece ter "atirado em alguns islâmicos". "Eles me conhecem. Fui ameaçado. Se eu ficar aqui, estou perdido", admite, apertando debaixo do braço um maço de papéis que comprovam seus serviços prestados.


Tradução de CLARA ALLAIN


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