São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Polícia restringe novos protestos no Irã

Após ultimato do líder supremo, forças de segurança reprimem com água e gás cerca de 3.000 manifestantes em Teerã

TV estatal relata atentado ao mausoléu do aiatolá Khomeini; Conselho dos Guardiães fará recontagem aleatória de 10% das urnas

Ali Safari/France Presse
Iraniano protesta contra resultado das eleições, ontem, em Teerã

DA REDAÇÃO

Uma nova tentativa de protesto em favor de novas eleições presidenciais no Irã, a primeira desde que o líder supremo do país ordenou o fim das manifestações contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, foi reprimida, ontem, pela polícia, que usou bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar os manifestantes.
De acordo com testemunhas, cerca de 3.000 pessoas foram às ruas do centro de Teerã, perto da praça da Revolução, gritando as palavras de ordem "morte ao ditador".
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, havia alertado na sexta que novas manifestações seriam "um erro" e que os participantes de passeatas seriam "responsáveis por derramamento de sangue e caos".
Testemunhas afirmaram que milhares de policiais e milicianos foram acionados para evitar manifestações nas ruas. "A polícia antidistúrbios proíbe que qualquer um se aproxime da praça da Revolução, onde está prevista uma manifestação, bloqueia as pessoas nas ruas e as empurra na calçada e as agride", relatou uma testemunha. Houve relatos, não confirmados, de mortos.
O candidato reformista derrotado Mir Hossein Mousavi pediu, em um dos protestos, que os manifestantes organizem uma greve geral no país caso ele seja preso, segundo relatos da agência de notícias Reuters e do "New York Times". "Estou pronto para o martírio", ele teria dito.
As manifestações de ontem foram menores, mas com choques mais violentos, que as dos dias anteriores -em que centenas de milhares participaram.
Em outro incidente ocorrido na capital iraniana, uma explosão foi registrada no mausoléu do aiatolá Ruhollah Khomeini (1900-1989), matando uma pessoa e ferindo outras oito, de acordo com uma TV estatal. Segundo a agência iraniana Fars, tratou-se de um homem-bomba. Porém, as informações não puderam ser confirmadas por fontes independentes, já que a cobertura dos jornalistas estrangeiros é restringida pelo governo. Esse foi o primeiro atentado suicida que acontece em Teerã desde os anos 1980.
Partidários de Mousavi incendiaram um prédio usado por simpatizantes do presidente Mahmoud Ahmadinejad, de acordo com testemunhas.
Em um ato de provocação ao governo, opositores ocuparam o topo de prédios na noite de sexta-feira e gritaram "Deus é grande", em reprodução das táticas usadas na Revolução Islâmica de 1979.

Recontagem por amostra
O Conselho dos Guardiães, máxima instância constitucional iraniana, decidiu que vai recontar uma amostra de 10% dos votos colocados nas urnas, apesar da declaração de Khamenei de que o resultado da eleição que reelegeu Ahmadinejad era "definitivo".
"Ainda que o Conselho dos Guardiães não seja obrigado legalmente, estamos dispostos a recontar, aleatoriamente, 10% dos votos, na presença de representantes dos três candidatos derrotados", disse o porta-voz do conselho. O resultado deverá sair na quarta-feira.
Os três candidatos derrotados foram convocados para uma reunião extraordinária do Conselho dos Guardiães para analisar as 646 queixas formais que foram apresentadas, sob alegação que houve irregularidades no processo eleitoral. Mas nenhum dos candidatos reformistas -Mousavi e Mehdi Karubi- compareceu, apenas o conservador Mohsen Rezaei.
Mousavi enviou ontem uma carta ao conselho, insistindo na anulação das eleições. Antes da sua realização, analistas apontavam que Mousavi era um forte oponente para Ahmadinejad. Porém, duas horas após o fechamento das urnas, a agência estatal de notícias já declarava a reeleição do presidente. O resultado oficial deu a Ahmadinejad 63% dos votos, contra 33% de Mousavi.


Com agências internacionais


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