São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Obama ataca repressão "violenta e injusta" no Irã

Presidente dos EUA critica Teerã, mas mantém neutralidade sobre resultado da eleição

Democrata vinha sendo criticado por opositores e aliados ao tentar política de imparcialidade quanto ao resultado do pleito iraniano

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em reação à violência da repressão aos protestos de ontem no Irã, o presidente dos EUA fez sua mais dura manifestação de crítica ao governo iraniano desde a realização das eleições de 12 de junho no país.
Num comunicado emitido ontem à tarde, Barack Obama instou Teerã a interromper a repressão "violenta e injusta" às manifestações da oposição, que acusa o governo de ter fraudado o processo eleitoral.
"Os direitos universais à reunião e à liberdade de expressão devem ser respeitados, e os EUA apoiam todos aqueles que buscam exercer esses direitos", disse Obama.
O comunicado afirmava ainda que, "se o governo iraniano busca o respeito da comunidade internacional, ele deve respeitar a dignidade de seu próprio povo, e governar a partir do consenso, não da opressão".
O democrata, no entanto, não se manifestou especificamente sobre o pivô dos protestos: a acusação de fraude para favorecer a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad.
A insistência no discurso de neutralidade em relação à eleição tem levado Obama a correr o risco de alienar sua base progressista e independente, que mantém sua popularidade em alta cinco meses após a posse. O discurso de ontem satisfaz apenas em parte esse eleitorado.
Ao longo da última semana, cresceram as críticas em relação à tentativa do presidente americano de não dar motivos concretos para que Teerã faça de sua cisão política interna entre moderados e ultraconservadores uma briga do Ocidente contra o Oriente -como parece ser o desejo do aiatolá Ali Khamenei, a mais alta autoridade iraniana.
O que começou como um coro puxado pela oposição republicana e pelos neoconservadores passou a contagiar parte dos democratas, que chamavam a atenção para a diferença de tom entre a reação oficial americana e a europeia, por exemplo, mais dura e direta.

Pombas e falcões
A pressão tem vindo não só do Congresso. Está na própria Casa Branca. Entre os "falcões" obamistas, que defenderam uma subida de tom ao longo da semana, estariam a secretária de Estado, Hillary Clinton -cuja virtual ausência no debate público vem sendo notada- e o vice-presidente Joe Biden, que fez sua carreira no Senado se dedicando a questões de política externa.
Entre as "pombas", está o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, John Kerry, que tomou a linha de frente na defesa das posições do presidente, escrevendo artigo e dando entrevistas para reforçar o ponto de Obama quanto à eleição em si: para os EUA, há pouca diferença entre o suposto vencedor, Mahmoud Ahmadinejad, e o suposto derrotado, Mir Hossein Mousavi, já que quem continuará dando as cartas será o aiatolá Khamenei.
A estratégia de Obama até ontem era de manter a neutralidade agora para poder tentar retomar a aproximação entre EUA e Irã mais tarde, com o objetivo de brecar a corrida do país persa pelo programa nuclear e de conter a ação de Teerã junto de grupos extremistas da região.
"Ele agiu corretamente ao ser cauteloso, dado o histórico tumultuado da relação entre EUA e Irã", disse Nicholas Burns, diplomata que serviu sob Bill Clinton e George W. Bush. "Mas agora é hora de o Ocidente começar a avisar aos iranianos quais serão as consequências", disse antes da declaração de ontem de Obama.
Tom semelhante era adotado por David Gergen, professor de Harvard e comentarista da CNN, que assessorou presidentes republicanos e Clinton e se define como independente. Para o especialista, a Casa Branca vinha sendo "cuidadosa a ponto de exagerar."


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