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Obama ataca repressão "violenta e injusta" no Irã
Presidente dos EUA critica Teerã, mas mantém neutralidade sobre resultado da eleição
Democrata vinha sendo criticado por opositores e aliados ao tentar política de imparcialidade quanto ao resultado do pleito iraniano
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em reação à violência da repressão aos protestos de ontem
no Irã, o presidente dos EUA
fez sua mais dura manifestação
de crítica ao governo iraniano
desde a realização das eleições
de 12 de junho no país.
Num comunicado emitido
ontem à tarde, Barack Obama
instou Teerã a interromper a
repressão "violenta e injusta"
às manifestações da oposição,
que acusa o governo de ter fraudado o processo eleitoral.
"Os direitos universais à reunião e à liberdade de expressão
devem ser respeitados, e os
EUA apoiam todos aqueles que
buscam exercer esses direitos",
disse Obama.
O comunicado afirmava ainda que, "se o governo iraniano
busca o respeito da comunidade internacional, ele deve respeitar a dignidade de seu próprio povo, e governar a partir
do consenso, não da opressão".
O democrata, no entanto,
não se manifestou especificamente sobre o pivô dos protestos: a acusação de fraude para
favorecer a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad.
A insistência no discurso de
neutralidade em relação à eleição tem levado Obama a correr
o risco de alienar sua base progressista e independente, que
mantém sua popularidade em
alta cinco meses após a posse. O
discurso de ontem satisfaz apenas em parte esse eleitorado.
Ao longo da última semana,
cresceram as críticas em relação à tentativa do presidente
americano de não dar motivos
concretos para que Teerã faça
de sua cisão política interna entre moderados e ultraconservadores uma briga do Ocidente
contra o Oriente -como parece
ser o desejo do aiatolá Ali Khamenei, a mais alta autoridade
iraniana.
O que começou como um coro puxado pela oposição republicana e pelos neoconservadores passou a contagiar parte dos
democratas, que chamavam a
atenção para a diferença de
tom entre a reação oficial americana e a europeia, por exemplo, mais dura e direta.
Pombas e falcões
A pressão tem vindo não só
do Congresso. Está na própria
Casa Branca. Entre os "falcões"
obamistas, que defenderam
uma subida de tom ao longo da
semana, estariam a secretária
de Estado, Hillary Clinton
-cuja virtual ausência no debate público vem sendo notada-
e o vice-presidente Joe Biden,
que fez sua carreira no Senado
se dedicando a questões de política externa.
Entre as "pombas", está o
presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado,
John Kerry, que tomou a linha
de frente na defesa das posições
do presidente, escrevendo artigo e dando entrevistas para reforçar o ponto de Obama quanto à eleição em si: para os EUA,
há pouca diferença entre o suposto vencedor, Mahmoud Ahmadinejad, e o suposto derrotado, Mir Hossein Mousavi, já
que quem continuará dando as
cartas será o aiatolá Khamenei.
A estratégia de Obama até
ontem era de manter a neutralidade agora para poder tentar
retomar a aproximação entre
EUA e Irã mais tarde, com o objetivo de brecar a corrida do
país persa pelo programa nuclear e de conter a ação de Teerã junto de grupos extremistas
da região.
"Ele agiu corretamente ao
ser cauteloso, dado o histórico
tumultuado da relação entre
EUA e Irã", disse Nicholas
Burns, diplomata que serviu
sob Bill Clinton e George W.
Bush. "Mas agora é hora de o
Ocidente começar a avisar aos
iranianos quais serão as consequências", disse antes da declaração de ontem de Obama.
Tom semelhante era adotado
por David Gergen, professor de
Harvard e comentarista da
CNN, que assessorou presidentes republicanos e Clinton e se
define como independente. Para o especialista, a Casa Branca
vinha sendo "cuidadosa a ponto de exagerar."
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